28 dezembro 2009

O FOGO QUE NÃO POSSO APAGAR

“...Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!” Tg. 3. 5


Quando se é convocado para fazer um balanço a respeito do passado próximo, vivido ao longo de mais um ano, é muito comum se ater às atitudes. Coisas que foram feitas e outras que ficaram por fazer. Não se observa muito o comportamento de se abrir um pouco mais o leque e avaliar o que dissemos e o que deixou de ser dito.

Em ambos os casos, deve-se incluir o que tornou nossa vida melhor e contribuiu para melhorar a qualidade de vida de quantos se relacionam conosco, assim como também é preciso ser honesto o suficiente para admitir o quanto ficamos prejudicados por nós mesmos, por nossas atitudes e por nossas palavras. Mais do que isto. É preciso ser honesto bastante para reconhecer o grau de prejuízo que causamos a outros que confiaram em nós, em nossas atitudes e em nossas palavras.
Certamente é muito difícil rever situações já concretizadas e que precisam ser modificadas, posto que, em muitos casos a situação é irreversível, principalmente em relação ao que foi dito.

Normalmente, não se pode voltar atrás, desfazer qualquer dano que tenha sido ocasionado por algo que falamos. Entretanto, não será uma análise correta se não considerar seriamente esta realidade.

Note que, segundo o que está posto por Tiago, a questão é tão importante que se compara ao fogo e à floresta. Tenha-se por base as grandes queimadas ocasionadas pelo rigoroso calor do verão australiano e americano. É difícil saber onde e como começou; entretanto, as proporções dos estragos são de causar pavor e tudo que o fogo consumiu nunca mais será como antes.

Eis o modo como devemos enxergar o que não deveria ter sido dito, que não trouxe qualquer edificação pessoal e alheia, que inflamou a mim mesmo e a outrem, que contribuiu para separar pessoas em vez de uni-las, que maculou a imagem de alguém em vez de enobrecê-la, que produziu ódio em vez de amor, que criou novos inimigos em vez de amigos, que destruiu em vez de construir.

É um fogo que não se pode apagar. É algo que pode apenas ser amenizado por torrentes de águas derramadas para apagar as chamas em detrimento de não aniquilar as cinzas que elas deixam. É um dano que só se pode solucionar pelo perdão. Atitude esta que, obviamente, é precedida pela sensibilidade necessária para admitir que eu incendiei, eu falei ou então, também pode ser totalmente descartada se eu simplesmente ignorar as chamas que se avultam em volta de mim e a desgraça que me acometeu e que consome pessoas que eu deveria edificar.

Neste pequeno e simples balanço, é provável que cheguemos à conclusão de que falamos mais do que ouvimos. Isto será muito natural. Está arraigado em nós. Está posto de modo muito claro em Tiago 3. 2, onde se diz: “Se alguém não tropeça no falar é perfeito varão, capaz de refrear também todo o seu corpo.”.Ele diz ainda mais: “a língua,..., nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela bendizemos ao Senhor e Pai; também como ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus:” (8 e 9).

A partir desta realidade comum a todos os mortais, resta apenas refletir sobre a nossa propensão quanto ao falar e computar os “lucros” e os “prejuízos” a fim de se tomar alguma atitude e ser livre do veredito constante no versículo 6, onde ele diz: “... e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como é posta ela mesma em chamas pelo inferno.”
Se eu sou responsável por um fogo que já não posso apagar, então eu preciso, pelo menos ter a humildade para suplicar perdão e também perdoar.

Que Deus faça de nossos lábios uma fonte a jorrar água doce suficiente para apagar os malefícios que acompanham águas amargas, a ponto de rogar continuamente: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.” Sl. 141. 3.

Rev. Marcos Martins Dias

22 dezembro 2009

TUDO SE RESOLVE COM A BÍBLIA

TEXTO BÁSICO: II Tm. 3. 16 e 17

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

16 πᾶσα γραφὴ θεόπνευστος καὶ ὠφέλιμος πρὸς διδασκαλίαν, πρὸς ἐλεγμόν, πρὸς ἐπανόρθωσιν, πρὸς παιδείαν τὴν ἐν δικαιοσύνῃ, 17 ἵνα ἄρτιος ᾖ ὁ τοῦ θεοῦ ἄνθρωπος, πρὸς πᾶν ἔργον ἀγαθὸν ἐξηρτισμένος.


INTRODUÇÃO – Em decorrência do contexto em que a igreja cristã se encontra em termos gerais, observamos a existência de um certo consenso de que ela precisa de um tipo de “reforma” ou, numa outra linguagem empregada por muitos líderes, de um “reavivamento”.

Entretanto, como podemos nos encontrar perante este dilema quando dispomos dos mais avançados meios de nos aprofundarmos no conhecimento bíblico, incluindo literaturas, seminários, congressos, homens e mulheres da mais alta credibilidade e gabaritados o suficiente para nos auxiliar em todas as questões relativas ao entendimento que se deve ter da vida cristã no modo como a Bíblia a descreve?

Além desta inquietante incógnita, há também uma circunstância agravante que aponta para outro problema: a confiança de que todos são teólogos, em algum grau a ponto de, despercebidamente se sobreporem a própria autoridade das Escrituras, fazendo com que se viva satisfeito com histórias bíblicas favoritas, versículos, porções isoladas, textos memorizados e o contentamento com algum conhecimento doutrinário das verdades bíblicas.

Certamente a facilidade com que se obtém variadas literaturas com temas populares e acessíveis ao público, o problema se agrava, posto que, geralmente, tais “devocionais” tratam de versículos isolados, acompanhados de histórias pessoais que desviam o foco do que a Bíblia se propõe a dizer.

Diante desta realidade, imperceptivelmente, nota-se que o dia a dia é seguido de decisões, comportamentos, conceitos, avaliações etc., muito mais baseados em opiniões particulares e ou populares, como se o fato de se pertencer a igreja se constituísse em credencial para se estar certo acerca da vida em seu modo mais abrangente. Além disto, há que se considerar também o velho problema dos questionamentos relativos às autoridades eclesiásticas e sua condição de interpretar e expor os ensinamentos bíblicos. Este problema foi experimentado pelo Povo de Deus ao longo de toda a sua história, ou seja, sempre houve muitos que, consciente ou inconscientemente se auto qualificaram como “mestres”, menos dispostos para ouvir e muito mais prontos para falar, ao mesmo tempo em que questionaram os profetas, os apóstolos e o próprio Mestre.

Certamente todos devemos conhecer as Escrituras e fazer uma auto-análise na condição de aprendizes, sempre dispostos a refletir e reavaliar nossa vida.

Nosso propósito neste estudo é levar-nos a fazer uma análise da postura que temos assumido perante tal contexto e se podemos estar seguros de que o estado em que nos encontramos está amplamente amparado na Palavra de Deus, desde as questões particulares e individuais até as públicas e coletivas.

Nas conhecidas epístolas pastorais encontramos o apoio de que precisamos para fazermos esta necessária e urgente análise, a partir do texto que se encontra em II Tm. 3. 15 e 16.


O AUTOR E O DESTINATÁRIO

Os textos de I Tm. 1. 1 e 2 e II Tm. 1. 1 e 2 não deixam dúvidas sobre este ponto:

“1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, 2a Timóteo, verdadeiro filho na fé: Graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.” I Tm. 1. 1 e 2

“1Paulo, aposto de Cristo Jesus, pela vontade de Deus, de conformidade com a promessa da vida que está em Cristo Jesus,2ao amado filho Timóteo: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus nosso Senhor.”


BREVE ANÁLISE CONTEXTUAL

A epístola foi escrita por volta de 63 dC, ocasião em que Paulo estava preso e, segundo afirma no final da segunda epístola, considerava sua vida próxima do fim. Em seu escrito, o apóstolo demonstra uma grande preocupação quanto à necessidade de Timóteo cumprir seu ministério, piedosa e responsavelmente.

Timóteo, por sua vez, encontrava-se em Éfeso, ainda com pouca experiência ministerial e também com idade que o destaca como “um pastor jovem”, o qual recebeu de Paulo, instruções específicas sobre o ministério, envolvendo o culto, as qualidades do bispo e do diácono, o confronto de falsas doutrinas, o cuidado de sua vida pessoal, o modo como deveria lidar com os crentes (viúvas, idosos, servos, falsos mestres etc.).

Todas essas instruções estavam amparadas na infalibilidade dos Escritos Sagrados e sua indispensável utilização na observância de seu pastorado.

Assim sendo, o texto enfocado neste estudo está posto como uma espécie de linha mestra para a condução do assunto.

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”


TUDO SE RESOLVE COM A BÍLBIA

I – “Toda Escritura ...”, “a totalidade da Escritura” –γραφὴgrafê - escrito, Escritura.
Embora o termo original possa se referir a “escritos em geral”, (um livro, um texto, uma carta etc.), existe um consenso que define o termo como se referindo ao Velho Testamento. Isto não quer dizer que Paulo deu menos importância ao Novo Testamento e muito menos que o tenha excluído de seu pensamento. É sabido que o V.T. é explicado pelo N.T., é completado por ele, tem o cumprimento de várias profecias registradas nele etc., da mesma forma que o N.T. não tem qualquer sentido se analisado à parte do V.T.
Calvino avalia esta questão da seguinte maneira: “... no que tange a substância da Escritura, nada se acrescentou. Os escritos dos apóstolos nada contem além de simples e natural explicação da lei e dos profetas juntamente, com uma clara descrição das coisas expressas neles.”

II – “... é inspirada por Deus...” - θεόπνευστος- Theópneustos – “aspirado por Deus, inspirado por Deus. O ensino rabínico dizia que o Espírito Santo pairava sobre e nos profetas, e falava através deles de modo que as palavras deles não eram deles mesmos, mas provinham da boca de Deus, e eles falavam e escreviam no Espírito Santo.”
Uma outra tradução aceitável é “Toda Escritura inspirada é também útil”. Vários comentaristas preferem esta última, afirmando que além de Timóteo não apresentar qualquer dificuldade quanto a inspiração divina das Escrituras, o objetivo de Paulo era ressaltar a utilidade do V.T.
Por outro lado, existe a opinião de que a intenção em reforçar a autoridade divina do A.T. é um fato, considerando que Paulo desejava sim ensinar que ela é inspirada por Deus. Assim, segundo Calvino, os homens devem recebê-la com reverência, ou seja, devemos a ela a mesma reverência devida a Deus.
No nosso caso, isto serve para alertar-nos quanto à maneira zelosa, ao estudo sério, a reflexão devida, ao conhecimento adequado, à manipulação apropriada do Livro Sagrado, considerando que estamos lidando com palavras proferidas pela boca de Deus mesmo.
Também nos leva a tê-la em elevada consideração, acima de toda e qualquer literatura, tratando-a como um dos legados divinos mais preciosos de que dispomos nesta vida. Mais desejáveis do que muito ouro depurado (Sl. 19. 10).

III – “... e útil...” - ὠφέλιμοςofélimos – útil, proveitoso .
Destaco aqui, alguns pontos abordados por Calvino em seu comentário sobre o texto:
“1. A Escritura contém a perfeita norma de uma vida saudável e feliz;
2. A Escritura é corrompida por um pecaminoso mau uso quando este propósito da utilidade não é buscado nela;
3. É errôneo usá-la de forma inaproveitável”

Segundo ele afirma ainda, “..., o Senhor não pretendia nem satisfazer nossa curiosidade, nem alimentar nossa ânsia por ostentação, nem tampouco deparar-nos uma chance para invenções místicas e palavreado tolo; sua intenção,..., era fazer-nos o bem.... assim, o uso correto da Escritura deve guiar-nos sempre ao que é proveitoso.”

Creio que não seria absurdo dizer que, embora a igreja saiba que a Bíblia é a Palavra de Deus, que deve ser sua única regra de fé e prática, é inerrante e infalível etc., embora a igreja esteja envolta por todas essas premissas fundamentais, surge então a desconfortável e inquietante questão sobre o que pode estar acontecendo em diversas situações onde prevalece o pensamento individual ou mesmo coletivo, sem a consideração desta realidade de propósito o que, naturalmente exige grande esforço de quem se inclina a observar criteriosamente o que ela preceitua, demonstrando o reconhecimento de que é terrivelmente perigoso lidar com a vida sem submetê-la ao crivo bíblico, o que é o mesmo que submetê-la as determinações e vontades de Deus mesmo.

O fato é que, ainda que o que se sabe sobre a Escritura e sobre Deus permaneça em uma certa superficialidade, a questão do “propósito”, em muitos casos, consciente ou inconscientemente, não é tida como prioridade nos critérios de avaliação própria e alheia, na visão crítica que se tem de si mesmo e de tudo quanto envolve todas as esferas da vida humana.

Quando se perde de vista esta questão do “propósito”, perde-se o equilíbrio que deve caracterizar a vida cristã, ao passo que na medida em que se mantém focado neste elemento norteador, todas as coisas permanecem alinhadas com a vontade preceptiva de Deus.

IV – “... para o ensino,...” - διδασκαλίανdidaskalían – ensino, doutrina; “doutrina” em contraste com qualquer simples instrução. Além disto, nestas epístolas, “doutrina” indica o “cristianismo ortodoxo”, a “doutrina paulina ortodoxa.” Neste versículo, entretanto, devemos compreender o vocábulo como toda e qualquer forma de “instrução”, sobre questões doutrinárias e práticas.

É sabido que toda a ética, comportamento, palavras, atitudes enfim, toda prática que se observa no ser humano, decorre da leitura que se faz da vida, do que se compreende acerca dela, das convicções como dissemos anteriormente, do que se absorve mentalmente. Por isso, nós nos tornamos aquilo que pensamos. Isto está posto claramente em Rm. 12.2, onde Paulo diz: “... transformai-vos pela renovação do vosso entendimento.”

Também é verdade que a doutrina desprovida de sua consecutiva observância torna-se algo frio, sem vida, exaustivo. Não é em vão que o interesse pelo ensino, pela doutrina tem se tornado o desejo de um número inexpressivo quando comparado ao todo (crentes e incrédulos). Isto se harmoniza com a explicação dada por Jesus sobre a parábola do semeador. Em Lc. 8. 10 está escrito: “Respondeu-lhes Jesus: A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; aos demais, fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam.”

Calvino falando ainda sobre o caráter divino das Escrituras, afirma:
“O mesmo Espírito que deu certeza a Moisés e aos profetas de sua vocação, também agora testifica aos nossos corações de que ele tem feito uso deles como ministros através de quem somos instruídos. E assim não é de estranhar que muitos ponham em dúvida a autoridade da Escritura. Pois ainda que a majestade divina esteja exibida nela, somente aqueles que têm sido iluminados pelo Espírito Santo possuem olhos para ver o que deveria ser óbvio a todos, mas que, na verdade, é visível somente aos eleitos.”

Deste modo será perfeitamente compreensivo se contemplarmos um número maior de desinteressados pelo ensino, pela doutrina do que os que são ávidos por ela. Note a estreita relação deste assunto com os seguintes textos:

1. II Tm. 4. 3 e 4 – “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos a verdade, entregando-se as fábulas.”

2. Sl. 19. 7 – 14 – “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa. Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!”


3. I Pe. 2.2 – “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação,”

4. Tg. 1. 21 – “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.”

5. Is. 55. 11 – “assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”

Embora haja inúmeros textos que lançam luz sobre a importância do ensino e do seu propósito, também pode-se verificar o caráter múltiplo da atitude humana diante das inesgotáveis riquezas contidas na Escritura, seja de reprovação, de indiferença, de uso inadequado, de iluminação clara e desejo ardente de conhecê-la, dentre outros modos de enxergá-la, considerá-la e tratá-la, bem como a leitura que se faz acerca da finalidade para a qual foi escrita.

Precisamos refletir sobre o modo como temos compreendido o “ensino” a fim de preservar o foco para o qual a igreja deve estar voltada, permanecendo centrados na Escritura e não permitindo que ninguém ou nenhuma outra coisa substitua a doutrina que dela emana.

Há muitos elementos que servem como exemplos do modo como Deus nos tem ensinado por meio de Sua Palavra; entretanto, quando essas ilustrações, “testemunhos”, experiências pessoais assumem o centro do que se deve dizer então, perdeu-se o propósito primário das Escrituras, ou seja, o ensino.

Se por um lado, neste texto, o ensino vem acompanhado de outros elementos que dele resultam, sua deturpação, seu desvio, esvaziamento etc., certamente resultará em fraqueza, descaracterização da igreja como tal, inanição espiritual, improdutividade individual e coletiva etc.

V – “..., para a repreensão,” - ἐλεγμόνeléimon – repreensão, correção, ou seja, para refutar o erro e repreender o pecado .

Tem o sentido de “prova”, “evidência”. Também indica a “convicção”, a “condenação” de um criminoso, ou então a “reprimenda”, “punição”.

O cristão sabe que a Escritura tem um valor “corretivo”. Ela denuncia suas próprias transgressões e as de outrem.

Neste texto, existe a compreensão de que a idéia aponta para corrigir “ensinamentos falsos” e os “falsos mestres”.

Creio que não existe a necessidade de optar por uma delas, posto que tanto a difusão de um ensino falso como aquele que o dissemina são uma terrível transgressão.

Isto lança por terra qualquer possibilidade para o relativismo. Não apenas nos moldes radicalmente interligados ao liberalismo teológico mas, também em escalas menores, no modo como se define “erro” e “pecado” no dia a dia, em coisas que podem ser consideradas “comuns” e que, do ponto de vista escriturístico, não são “normais” com relação ao perfil da igreja de Jesus Cristo, ou seja, a correta compreensão da Escritura fornece subsídios para decidir entre o certo e o errado, o bom e o ruim, o bem e o mal, o sagrado e o profano etc.

Por outro lado, qualquer desvio do sentido original dado por Deus à Sua Palavra, certamente poderá abrir espaço para tolerar o intolerável, para ceder lugar a prática contínua do erro e a inclinação deliberada para o pecado.

A igreja tem sido alvo, ao longo de sua história, do uso irresponsável das Escrituras por parte de homens e mulheres que se destacam por sua boa retórica, seu carisma, seu forte poder de persuasão, os quais não se dão ao trabalho de se debruçar sobre a Bíblia para saber o que ela tem a dizer; pelo contrário, submetem-na a interpretações mais convenientes, por vezes, na intenção de popularizá-la, não como Lutero fez mas, a pretexto de considerá-la um Livro de fácil acesso, empobrecem a riqueza de seu conteúdo pelo modo preguiçoso como a manipulam.

Halley, comentando este texto diz o seguinte:

“A desconsideração que em geral se vota à Bíblia, atualmente, é de estarrecer. Muitos líderes proeminentes da Igreja, não somente negligenciaram a Bíblia, mas com orgulho intelectual, em nome da “moderna erudição”, recorrem a todos os meios imagináveis para solapar sua divina origem e jogá-la para um lado como colcha de retalhos do “pensamento hebreu””.

Isto se agrava quando tal atitude se mistura àquelas experiências subjetivas que ganham força quando se sobrepõem à Palavra de Deus, conduzindo ao erro não somente os que se destacam como líderes mas também aqueles que se transformam em seguidores e admiradores fiéis desta casta réproba, a qual, faria menos mal se assumisse um status de neutralidade na igreja e que, entretanto, produz danos de proporções incalculáveis nos mais variados âmbitos do contexto eclesiástico, se aproximando do que foi dito por Jesus em relação aos fariseus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer m prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” Mt. 23. 15.

Embora seja doloroso saber que tal situação está perfeitamente alinhada às profecias relativas aos últimos dias, precisamos lidar com, pelo menos três realidades quase insuportáveis: 1. A consciência que falsos mestres têm acerca de quem eles realmente são e do que fazem deliberadamente; 2. A inadmissão por parte de um falso mestre de que ele é e faz o que está claramente reprovado nas Escrituras; 3. O sofrimento de lidar diária e continuamente com modismos, os quais, induzem inumeráveis multidões para o precipício, sorridentemente, precisando suportar as afrontas e o questionamento que fazem sobre quantos se aplicam a assumir um posicionamento responsável, a abraçar o cristianismo com legitimidade, sem aquela euforia típica de quem busca inovações para motivar ou justificar seu entusiasmo exacerbado.

Embora Timóteo não estivesse lidando com os problemas típicos desta era pós moderna, os falsos mestres estavam lá. Diante desta desconcertante situação Paulo lhe diz: Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. (II Tm. 3. 14)

Deste mesmo modo, nos é requerido que tratemos a Escritura com seriedade, responsabilidade, integridade e devoção, a reivindicação do direito de repreender os que se acham em transgressão por laborarem continuamente em erro incontestável. E, por mais desafiador que seja este confronto, é preciso recordar das sãs palavras de Jesus Cristo: Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? (MT. 7. 13 – 16).

VI – “... para a correção,” - ἐπανόρθωσινepanórthosin – “alinhar em direção, tornar reto, correção , aprimoramento , converter os mal orientados dos seus erros e de colocá-los no caminho certo outra vez

Na opinião de Calvino, “a única diferença entre “reprovação” e “correção” é que a segunda é resultante da primeira. Reconhecer nossa iniqüidade e encher-nos de convicção do juízo divino sobre ela é o princípio do arrependimento.”

Ao lidar com uma natureza que evidencia grandes dificuldades para admitir o próprio erro ao mesmo tempo em que se deixa engodar por meio de palavras lisonjeiras, ainda que carregadas de um terrível veneno corruptor, nos vemos entrincheirados, amordaçados, de pés e mãos atados, inquiridos sobre a veracidade do que pregamos e os pressupostos dos “julgamentos” que fazemos.

Eis o modo mais cruel de se anular qualquer possibilidade de correção, ou seja, questionar a precisão do julgamento que se faz, a relativização de conceitos absolutos, quando, na realidade, o que ocorre é o contrário do que está posto em Tiago 1. 21: “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.”

Embora seja paradoxal, mesmo concordando que todos erramos e, consequentemente, precisamos de correção ao longo de nossa vida, na prática, a relutância para se dar ouvidos às correções a que devemos nos submeter adquire força maior do que a consciência de qualquer desvio.

Obviamente que não se está invocando o recebimento irresponsável e inconsequente de correções improcedentes e desprovidas de qualquer fundamentação bíblica. Até porque, tal procedimento poderia ser considerado como uma tentativa de se “corrigir” o que já está certo, ou seja, seria uma indução ao erro a pretexto de observar o que está prescrito nas Escrituras.

É preciso considerar também que ninguém deve aspirar um tratamento superior àquele dispensado aos profetas, aos apóstolos, ao Mestre, aos pais da igreja, às autoridades que surgiram ao longo da história, ostentando a obediência irrestrita devida somente a Deus e Sua Palavra. Se rejeitaram a homens consideravelmente superiores às autoridades eclesiásticas de nossa época, se rejeitaram ao Mestre supremo, não darão ouvidos a quem quer que seja, a não ser pela mesma razão que receberam a Palavra em épocas anteriores, ou seja, pela ação exclusiva do Espírito de Deus.

Deste modo, a rebeldia inerente à natureza decaída precisa, primeiro, ser banida pela ação do Espírito Santo e então todos os caminhos estarão abertos e preparados para receber, amorosamente, a correção que provém da Palavra de Deus. Sem esta divina ação, o mínimo que se deve observar é a segurança de que a verdade está claramente posta e que cada um prestará contas a Deus de tudo quanto faz, seja nesta vida ou naquele momento ímpar de comparecimento perante o Supremo Tribunal divino.

VII – “para a educação na justiça,” - παιδείανpaidéia – “treinamento, instrução, disciplina” .

Esta expressão deve ser contemplada e analisada em consonância com outros textos como:

1. Sl. 1. 6: “... o SENHOR conhece o caminho dos justos”;
2. Rm. 8. 33: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.”;
3. Rm. 5. 1: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”;
4. Ap. 22. 11: “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se;”

À luz do que está posto e, considerando que esta “educação na justiça” se aplica apenas aos que são declarados “justos”, fica claro que Deus, em Sua infinita misericórdia, nos deixou Sua revelação especial com o propósito de nos manter em caminhos justos.

Não cabe qualquer possibilidade de aplicar este texto ao ser humano em geral. Primeiramente Deus faz com que o homem seja declarado justo pelos méritos conquistados na cruz, implantando nele uma natureza nova, justificada e perdoada. Concomitantemente, disponibiliza os meios para que o justo seja repreendido e corrigido, sendo igualmente educado em Sua justiça.

Davi conclui o salmo 139 suplicando ao Senhor que o conduza exatamente como o apóstolo Paulo descreve aqui. Ele diz: “vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”.

Deste modo, embora haja tantas outras formas de se adquirir uma boa educação a ponto de merecer destaque entre os homens de um modo geral, a utilidade da Escritura transcende às mais elevadas ciências e fornece ao justo a possibilidade de desenvolver em sua vida a verdadeira justiça seja na leitura que ele faz do mundo e de Deus, seja no caráter que se forma em seu interior como resultado desta educação recebida.

VIII – “a fim de que... seja” - ἵναᾖ- “utilizados em oração adverbial de propósito” . “No grego clássico normalmente expressa propósito, mas no Koiné frequentemente era usado para denotar resultado. O último sentido parece preferível aqui.”

Neste caso, embora a idéia de “propósito” não comprometa a conclusão a que se chegará, trabalhar com a idéia de “resultado” parece-me que dá uma força maior ao que se deve compreender. Principalmente, nesta época onde o pragmatismo se avulta e pressiona a igreja a obter “sucesso” a qualquer custo.

Estamos diante da clara indicação sobre a fonte onde se pode encontrar os elementos necessários para se ter uma vida que tenha algum significado no mundo, seguida de uma brilhante conclusão na eternidade.

Sendo assim, todo aquele que aspira uma vida feliz, de satisfação, contentamento etc., jamais procuraria tais objetivos fora da Palavra de Deus, considerando que somente ela estabelece os critérios inerrantes e infalíveis para ajustar o que o pecado danificou.

IX – “o homem de Deus..” - τοῦ θεοῦ ἄνθρωπος- toú theoú ánthropos – “Esta expressão indica o autêntico ministro de Cristo, alguém que recebera autoridade da parte de Cristo, por intermédio de Paulo, propagando seu evangelho e doutrina, em contraste com os falsos mestres, cujo ‘evangelho’ era falsificado.”

“Poderia designar os cristãos em geral, mas o contexto e o uso deliberado do singular confirmam que, como em I Tm. 6. 11, Paulo está pensando especificamente no líder cristão. Com a ajuda de um treinamento sadio na Escritura torna-se perfeitamente adaptado à sua tarefa, e pode enfrentar de modo firme as suas responsabilidades.”

Estes pensamentos estão em perfeita harmonia com o objetivo de Paulo ao escrever a Timóteo, pastor de uma igreja proeminente em sua época e com pouca experiência ministerial, tendo que enfrentar sérios problemas com o ensino herético propagado por falsos mestres.

Apesar disto, ao abrir o leque estendendo estas responsabilidades aos crentes em geral, não se desvirtua e nem deturpa a verdade contida no texto, uma vez que, embora se requeira dos ministros uma ética que seja considerada acima da “média”, não se está autorizando o crente em termos gerais a se acomodar com um perfil menos virtuoso do que aquele requerido de seus líderes. Basta lembrar que o Referencial deste é também o daquele, ou seja, Jesus é o padrão tanto de um quanto do outro.

X – “... perfeito...” – ἄρτιοςártios – “adequado, completo, capaz, suficiente, hábil para preencher todos os requisitos” , “capaz de satisfazer todas as exigências que lhe forem impostas como ministro de Cristo.”

Certamente as falhas de um ministro adquirem repercussão superior àquelas cometidas pelo crente de um modo geral; e isto deve ser levado em consideração.

Em certos casos, erroneamente, alguns chegam a pensar que podem tropeçar de muitas formas e inúmeras vezes sem que isto tenha alguma relevância, considerando que não ocupam nenhum lugar de proeminência na igreja e que, em decorrência disto, comumente a sociedade é mais tolerante com seus erros do que com os de seus líderes. No entanto, os que se encaixam neste perfil, se esquecem de que o crivo divino suplanta a qualquer julgamento humano e trata cada um com a responsabilidade que lhe é atribuída, disciplinando e corrigindo na proporção exata de seus erros.

Outro aspecto que se observa diz respeito à pouca importância que, em muitos casos, se dá às virtudes que um líder ou ministro evidencia em seu caráter e ministério (seus erros ocupam maior destaque), ao passo que é muito comum notar o modo como se disputa espaço na igreja para elevar certas virtudes individuais, até mesmo quando elas não existem, em busca e na dependência de realizar algo motivado por elogios, afagos, aprovação humana etc. De qualquer modo, em qualquer um dos casos, será sempre necessário lembrar que ambos são convocados a se apresentarem aprovados “perante Deus” e não sob os holofotes humanos, conforme nos é dito em II Tm. 2. 15: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”

Ao lembrar que Cristo encerrou Seu ministério terreno dividindo espaço com dois malfeitores, por causa da injusta punição que recebeu ao ser submetido à pena de morte, ninguém em sã consciência, desejará ser embalado e conduzido pelos braços do homem. Seu objetivo é ser completo. Sua satisfação está em buscar este alvo supremo, nos termos postos em Ef. 4. 13, onde lemos: “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,”

XI – “... e perfeitamente habilitado...” - ἐξηρτισμένος- ecsertisménos – “completamente equipado, plenamente equipado, suprido.” , “equipar, terminar, completar, fornecer, receber aptidão para algum propósito específico. O homem de Deus deve ser equipado espiritualmente, através de sua dedicação a Cristo, mediante as Sagradas Escrituras.” Com a ajuda de um treinamento sadio na Escritura, o cristão torna-se perfeitamente adaptado à sua tarefa, e pode enfrentar de modo firme as suas responsabilidades.

O fato do verbo estar no “perfeito” indica uma ação que ocorreu no passado e cujos resultados prosseguem até o presente, ou seja, o texto afirma que o “homem de Deus” foi declarado justo, santificado, tendo, deste modo, recebido todos os elementos necessários para realizar o que dele é requerido.

A isto, acrescente-se a indispensável ênfase que se deve dar ao lugar que a Escritura ocupa nesta capacitação.

As considerações feitas anteriormente devem ser trazidas à memória como condição única que legitima e autentica esta “perfeição”, i.e., o aprofundamento no conhecimento das Escrituras e sua devida aplicação contínua na vida cristã devem ser tidos como elementos indispensáveis para que se possa estar enquadrado naquilo que é descrito aqui como “perfeitamente habilitado”.

Tudo o que se pensa e se pretende para a vida, baseado em meras experiências pessoais, em filosofias pluralistas e humanas, em particulares elucidações e qualquer outro tipo de convicção emanada dos arrogantes pressupostos de toda e qualquer ciência humana é totalmente nulo quando posto perante a autoridade bíblica e a sua capacidade de modificar o indivíduo bem como as suas obras.

Retire-se a Bíblia do homem e nada mais lhe restará que faça qualquer sentido em relação ao passado, ao presente e ao futuro, permitindo-lhe viver envolto em densas trevas maquiadas pelas infinitas fantasias que proporcionam as mais belas cores e formas a um mundo vazio, decadente, corrupto e corruptor, repleto de incertezas, cujas realidades se vislumbram perante a exposição da fragilidade humana, em suas múltiplas formas e pelo inevitável confronto com a morte.

Este estado não se aplica apenas aos que não dão qualquer importância à Palavra de Deus mas, também àqueles que, embora possuindo-a, ainda não conseguiram ir além daquele relacionamento superficial, onde o que se sabe é uma triste constatação de que, na verdade, nada se sabe sobre Deus e a Escritura.

XII – “... para toda boa obra.” - ἔργον ἀγαθὸν- érgon agathón – “bom, benéfico”, “manifestação, prova prática, trabalho”

O conceito geral que se tem sobre “bom” está aquém do sentido que o termo adquire quando está diretamente ligado às obras dos que foram regenerados pelo Espírito Santo e que se orientam pelas Escrituras em todas as áreas de sua vida.

Isto deve ser ponto passivo de qualquer discussão posto que Jesus afirma claramente que a natureza humana é má. Lembre-se de Suas palavras ditas no Sermão do Monte, em Mt. 7. 11, onde lemos: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas ao vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas cousas aos que lhe pedirem?”

É impossível ao homem comum assimilar esta verdade e pode ser confuso para alguns que se dizem transformados, crer desta forma. Entretanto, o mesmo Espírito que transforma é também o mesmo que dá sensibilidade para que se admita o terrível estado que o pecado ocasionou para toda a raça humana, de modo que, mesmo depois de receber uma nova natureza, o mal continua lá, fazendo oposição a tudo que provém de Deus, precisando ser anulado, conforme nos é dito pelo apóstolo Paulo: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena:...” Cl. 3. 5.

A isto acrescente-se que nossa justificação não está restrita ao ato de mudar a nossa condição perante Deus de condenados para salvos mas, tudo o que se faz a parti daí, adquire igual justificação; de outro modo, nenhuma obra poderia ser qualificada como “boa” e a possibilidade de condenação seria uma realidade constante. No entanto, ao preservar o Seu povo, conduzindo-o a salvo cada dia de sua vida, Deus está fazendo exatamente isto, ou seja, justificando suas obras, computando-as como boas, assim como está posto em Ap. 14. 13: “...: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham.”

Associado a isto, é sempre bom lembrar daquela experiência vivida por Caim e Abel, quanto às ofertas que ofereceram a Deus. Em Gn. 4. 4 e 5. O relato bíblico nos mostra que a oferta de cada um estava relacionada ao estado do ofertante, ou seja, o Senhor não se agradou de Caim e de sua oferta, ao passo que de Abel se agradou e também de sua oferta.

Assim sendo, ainda que muitos avaliem as obras sem fazer as associações a que me refiro, não se questiona o fato de que as obras não são suficientes para salvar. Além disto, todo aquele que é justificado por Cristo, salvo pela graça, é chamado para realizar boas obras, como está posto em Ef. 2. 10, onde lemos: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”

Assim é o homem de Deus. Ele e mais ninguém foi habilitado para realizar boas obras. Ele é que recebeu uma natureza nova e também as condições para praticar obras que possam ser computadas por Deus como “boas”.

Por fim, reitero a afirmação de que as Escrituras são o instrumento fundamental e indispensável para que obedeçamos à nossa vocação e andemos em boas obras, sob a direção e a orientação do Espírito Santo.

CONCLUSÃO – Diante deste arrazoado, concluo apontando a questão primordial para que se modifique qualquer anomalia que se constate na igreja de nossa época.

Não necessitamos de outra reforma ou de algum reavivamento. Precisamos, sem qualquer sombra de dúvidas, saber onde caímos e retornar “à prática das primeiras obras” (Ap. 2. 5).

Com esta solução, aparentemente simples, é possível que o cristão e a igreja experimentem algo jamais conhecido em toda a sua existência, como resultado de um tratamento sério, reverente, responsável, cuidadoso, profundo e contínuo das Escrituras.

Isto compreendido e, considerando esta legítima preocupação, não haverá satisfação com qualquer tratamento superficial e leviano que se devote à Palavra de Deus. Pelo contrário, visando o próprio bem, aplicar-se-á a dedicar tempo, com prioridade, a investigar o que a Bíblia é e o que ela é capaz de realizar na vida do justo.
Seria muito bom que cada cristão fosse, verdadeiramente, um teólogo e demonstrasse isto, não por meio de exposições caracterizadas por linguagem rebuscada, oratória carismática, persuasiva e eloquente, títulos que precedem a reputação de quantos os possuem mas, por meio de uma vida marcada pela prática de boas obras, legitimação do grau de envolvimento com as Escrituras Sagradas.

Obviamente não precisamos nos preocupar com os gnósticos ou outros problemas quaisquer que marcaram a época de Timóteo; entretanto, de roupagem diferente e com tantas outras agravantes que surgiram ao longo da história, estamos diante de um quadro assustador o qual se constitui em grande desafio para quantos foram vocacionados para o sagrado ministério e convocados a defender a sã doutrina, mesmo que isto implique padecer os mais variados tipos de sofrimentos, perseguições e pressões que emanam de dentro e fora da igreja.

Que Deus seja gracioso para conosco e nos ajude a fazer o uso correto da Escritura, lembrando que a solução para todas as nossas questões se encontram nela e a nós compete envidar todo o esforço necessário para saber onde e como encontrá-la, sob a iluminação do Espírito Santo.

Rev. Marcos Martins Dias

OBS.: As notas de rodapé não estão inclusas por questões de formatação. Entretanto, relaciono, a seguir, as obras mais consultadas:

1. FUNDAMENTOS BÍBLICOS para MISSÕES - Série / "PREPARADO PARA TODA BOA OBRA", Linleigh J. Roberts
2. C.L.N.T.G., Fritz Rienecker, Cleon Rogers
3. PASTORAIS, Calvino, EP
4. I e II Timóteo e Tito - Introdução e comentário, J.N.D. Kelly
5. N.T.I.V.V., Champlin R.N. Editora Candeia
6. MANUAL BÍBLICO, Henry H. Halley, Edições Vida Nova

19 dezembro 2009

O AMOR NASCEU

“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele.” I Jo. 4. 9


O amor é como a fé. Não pode ser visto e é muito mais do que aquela virtude que se encaixa no âmbito dos sentidos. Não há como descrever a experiência de amar e de ser amado, de experimentar o amor recebido e também oferecido.

Houve um curto período na história em que o amor materializou-se na medida em que Deus assumiu a forma humana. O que antes era invisível, embora há muito conhecido, agora era parte constituinte de Jesus. Poderia ser visto, ser tocado, ser ouvido, ser sentido. O amor se transformou em um de nós. Entretanto, não permaneceu em nosso meio. Sua incompatibilidade com a maldade e o terrível estado de pecaminosidade da raça humana resultou em seu sacrifício pela morte na cruz. O amor nasceu e também morreu. Todavia, antes de voltar para os céus, onde é o seu lugar, foi deixado para habitar entre os mortais. Mais do que isto. Para fazer parte deles.

De um modo misterioso e inexplicável, passou a integrar uma parte de nós de modo que, mesmo não sendo a essência, encontrou um lugar entre os elementos que compõem a frágil estrutura humana. Não aquela corrompida pelo pecado, consumida pelo ódio, que desconhece a paz, a humildade, a paciência, a misericórdia, a mansidão, o perdão, que não conhece Deus. Mas, uma natureza nova, recém nascida, gerada de novo, com os mesmos traços dAquele que se encarnou e em cuja essência está o amor.

Não se discute todas as qualidades inerentes a Jesus. Não se discute que seu nascimento foi a manifestação do verdadeiro amor. O que se constitui objeto de grande inquietação é a falta de provas claras de sua existência em muitos que dizem ter amor e saber o que é amar.

Quem há que não deseje ser amado? Entretanto, surge o dilema de desejá-lo mas, agir de um modo totalmente incompatível com tudo o que ele é e produz na vida daquele que, realmente, ama.

Urge o tempo de irmos além de comemorar a manifestação do amor. É preciso aprender a amar de verdade e provar que ele não está apenas entre nós. É preciso deixar bem claro que ele é parte inseparável de quem somos e, deste modo, provar dos mesmos benefícios constatados ao longo dos aproximados trinta e três anos em que Jesus demonstrou toda a diferença que ele é capaz de fazer, melhorando tudo e todos os que são afetados por ele e que vivem ao nosso redor.

Que a nossa vida seja uma prova cabal e constante de que há uma nova natureza em nós, feita por amor e habilitada para amar da mesma forma como também fomos amados e convocados a influenciar o mundo, demonstrando que não há qualquer sentido em viver quando não se sabe e não se pode amar.

Rev. Marcos Martins Dias

10 dezembro 2009

O LIVRAMENTO QUE EU NÃO PERCEBI

“..., eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho, e diz: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e permanece lá até que eu te avise, porque Herodes há de procurar o menino para o matar.” Mt. 2. 13


Durante toda a história, desde a terrível queda de nossos primeiros pais, Satanás trabalhou incansavelmente objetivando impedir que os planos salvíficos de Deus fossem levados a efeito.
Isto se percebe nos registros do Velho Testamento e também do nascimento à morte de Jesus Cristo, através da qual cumpriu-se o que foi dito em Gn. 3. 15, onde Deus diz à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”

Observe que, uma vez encarnado e exposto àquela fragilidade peculiar a todo recém nascido, Jesus foi livre das mãos de Herodes na instrumentalidade de José, o qual foi orientado a levar o Bebê e sua mãe para fora do alcance do rei que o procurava matar.

É maravilhoso observar o modo como Deus deu instruções precisas através do anjo, não apenas prevendo o mal mas, tomando as precauções necessárias a fim de proteger Seu Filho de ser alvo do massacre que atingiu todas as crianças com menos de dois anos de idade.

Estas medidas acompanharam Jesus ao longo de todo o Seu ministério, permitindo que tudo o que foi escrito a Seu respeito fosse cumprido sem qualquer intervenção humana e maligna.

Agora, vencido na cruz e nada mais podendo fazer contra Cristo e Seu ministério, enquanto aguarda sua derrota plena e definitiva, o inimigo volta-se contra a igreja criando situações a fim de provocar os maiores danos possíveis. E, mesmo na falta de um anjo que nos anuncie o mal que está por vir, Deus continua manifestando Sua providência, preservando-nos de incontáveis situações as quais não podemos computar. São livramentos imperceptíveis mas, constantes e indescritíveis, os quais uma vez manifestos poderiam causar um grande pavor.

Como agradecer os benefícios que recebemos sem saber? Admitindo que cada dia é um milagre realizado em nossa vida, resultante do cuidado que Deus nos tem, nos moldes registrados no Sl. 121. 4, 5, 7 e 8, onde lemos: “É certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel. O SENHOR é quem te guarda; o SENHOR é a tua sombra à tua direita... O SENHOR te guardará de todo mal; guardará a tua alma. O SENHOR guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.”

Graças a Deus que nos envolve com Sua graça e nos levará salvos para o lar celestial.

Rev. Marcos Martins Dias

03 dezembro 2009

A FÔRMA DA PERDIÇÃO

“E não vos conformeis com este século,...” Rm. 12. 2

É muito provável que este texto seja parte dos mais conhecidos da Escritura, particularmente por causa do versículo que o antecede, onde Paulo fala sobre o “culto racional”, invocado muitas vezes para tratar de múltiplas questões litúrgicas praticadas nas igrejas, as quais precisam estar alinhadas aos preceitos claramente estabelecidos por Deus sobre o culto.

Embora eu creia que o texto esteja tratando de algo bem mais abrangente, concordo que há algum grau de eficácia na interpretação básica e que se volta para certos desvios cúlticos caracterizados pela ausência do bom senso, pela presença de atitudes entusiásticas, mormente ligadas ao estado emocional, psicológico do “adorador” bem como de todo o clima que se forja na intenção de promover um “ambiente” favorável para uma sobeja “manifestação do Espírito”.

De acordo com os versículos iniciais do capítulo doze de Romanos, somos instruídos a oferecermos definitivamente, todo o nosso ser como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus e, assim, estaremos prestando o culto agradável a Ele.

Na sequência, somos responsabilizados a rejeitar todo tipo de acomodação ao presente século, uma vez que nossa natureza pecaminosa tem todos os traços daquele estado decaído herdado de nossos primeiros pais, levando-nos a desejar o que é mais fácil de se fazer, desprovido de qualquer esforço, que afaga o ego, que se encaixa muito bem na fôrma do presente século e caso esta velha natureza não encontre qualquer resistência em nós mesmos, o resultado óbvio é o estado de perdição e condenação em que são levados todos os que, “confortavelmente” avançam sob a ira e consequente reprovação de Deus.

Por isso mesmo, o apóstolo Paulo apresenta a única alternativa capaz de reverter este quadro desolador, ordenando que envidemos os esforços necessários para experimentar o processo de transformação resultante da divina presença em nós.
O que se requer está em perfeita harmonia com aquela metamorfose que faz da lagarta, uma linda borboleta. É abandonar a terrível imagem do homem decaído juntamente com suas práticas abomináveis e abraçar, continuamente as qualidades de Cristo, o padrão estabelecido para ser alcançado por nós.

É necessário, portanto, estar seguro de que Deus já fez a Sua parte, implantando no coração a rica semente que possibilita esse processo extraordinário. Isto considerado, nada mais resta a não ser abandonar dia a dia os moldes propostos pelo mundo e lutar inexoravelmente contra tudo que se levanta para impedir o avanço da nova natureza, ainda que em algum momento ou circunstância, tenhamos alguma sensação de desconforto decorrente da remodelação pela qual todos precisamos passar a fim de atingir a estatura de varão perfeito.

Que Deus nos ajude neste trabalho árduo mas, indescritivelmente magnífico.

Rev. Marcos Martins Dias

27 novembro 2009

CRISTIANISMO CONTEMPLATIVO

“Ao se retirarem estes de Jesus, disse-lhe Pedro: Mestre, bom é estarmos aqui; então, façamos três tendas: uma será tua, outra, de Moisés, e outra, de Elias, não sabendo, porém, o que dizia.” Lc. 9. 33



A experiência da transfiguração foi um dos grandes momentos que marcaram o ministério de Jesus. Assim como no batismo, muitos tiveram o privilégio de testemunhar que Ele é, de fato, o Filho de Deus. Aqui também três dos discípulos participam do momento em que o testemunho da Lei e dos profetas confirma Sua relação com as promessas feitas no Velho Testamento e cujo cumprimento era aguardado ansiosamente pelos judeus. Nesta ocasião, ouvimos a mesma declaração acerca de Jesus, nos seguintes termos: “Este é o meu Filho”.

Foi algo tão extraordinário que levou Pedro a sugerir o levantamento de três tendas; o que, a princípio parece uma iniciativa muito natural e que, entretanto, é descrita da seguinte maneira: “..., não sabendo, porém, o que dizia.”

Pedro estava tão maravilhado com o que se passava naquele momento que não percebeu o propósito daquela transfiguração. Ela fazia parte de um processo que já havia iniciado e que os levaria até “os confins do mundo” com a mensagem salvadora do Evangelho.

Certamente permanecer naquele monte seria o mesmo que antecipar a glória que lhes estava prometida mas, reservada para o último dia de suas vidas.

Imagine a grande perda que isto significaria para a expansão do cristianismo em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra. Pedro, Tiago e João estariam restritos a uma espécie de cristianismo contemplativo, o qual lhes manteria em algum tipo de êxtase sem produzir, entretanto, qualquer benefício para o mundo.

Penso que há muito, estamos vivendo algo parecido na igreja de nosso tempo.

É tão bom estarmos “diante de Cristo” que, perceptível ou imperceptivelmente, já fizemos nossas tendas, institucionalizando o cristianismo e vivendo um tipo de contemplação que anula qualquer possibilidade de evangelização e testemunho para aqueles que não participam deste “nosso mundo contemplativo”.

Não se discute a necessidade de prestar culto a Deus, de declarar Suas maravilhas. O que se questiona aqui é o fato de insistirmos em nos limitarmos a falar de Deus para Deus mesmo quando o que se requer de nós é que falemos dEle ao mundo.

Sejamos honestos e reflitamos a respeito do tipo de religião que temos praticado e, ao verificar que permanecemos na contemplação de tanta coisa que pode até excluir a Pessoa de Deus, embora tudo seja feito em Seu nome, tomemos a antiga atitude que já nos foi requerida de ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura.

Rev. Marcos Martins Dias

19 novembro 2009

QUANDO O ORGULHO É PARCEIRO DA HUMILDADE

TEXTO: II Co. 12. 6 – 10

INTRODUÇÃO – Em muitas ocasiões temos ouvido acerca das dificuldades que Paulo sofria em relação a Corinto. Uma delas e, talvez a que mereça maior destaque é a atitude de rejeitarem-no como apóstolo.
Esta não era uma questão restrita aos falsos apóstolos. O contexto focado nesta dissertação mostra que o problema havia atingido uma extensão maior, comprometendo os coríntios de um modo geral, ou seja, ele não tinha que enfrentar a ferocidade com que era atacado pela liderança mas, precisava tratar o assunto com a mesma seriedade e na proporção adequada à ignorância dos coríntios.
Isto está posto da seguinte maneira em 11. 19 e 20: “Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos. Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto.”
Neste desafio de defender sua autoridade apostólica, nos deparamos com este texto que apresenta inúmeras lições as quais avançam através dos séculos, aplicando-se aos homens nas mais variadas circunstâncias, considerando que Paulo aborda sobre elementos que são comuns à natureza humana e aos cristãos de um modo particular.
Neste sentido e orientados pelo texto que destacamos, nossa intenção é mostrar como Paulo lidou com a questão do orgulho e como, através da atuação de Deus em sua vida, aprendeu uma grande lição de humildade.
Assim sendo, comecemos por considerar o que nos é dito no versículo seis:

I – Pois, se vier a gloriar-me não serei néscio, porque direi a verdade; mas abastenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve.

Segundo Calvino, o que ele está dizendo é: “Posso gloriar-me com boas razões e sem qualquer receio de ser, com razão, acusado de vaidade, porque tenho algo em que me gloriar, porém me abstenho”.

Paulo estava lidando com o grave problema de líderes que se gloriavam tolamente e incendiavam os crentes com seus ensinamentos comprometidos não somente em conteúdo como também em autenticidade intimamente ligada às experiências resultantes do serviço prestado ao Reino de Deus. Pessoas ofensivas e intoleráveis por causa de seus embustes, sem qualquer razão consistente para reivindicar autoridade e poder eclesiásticos, pretendendo ser o que, na verdade, não eram.

O apóstolo Paulo se apresenta com uma folha de serviços prestados e de um conhecimento do Evangelho surpreendentes e, neste caso, ele diz: eu não serei néscio se vier a gloriar-me, embora não convém (vs. 1), ou seja, ele estaria se gloriando por razões legítimas, se utilizando de quem ele era e do quanto já havia feito para lidar com a difícil situação de ser rejeitado como apóstolo.

Estas coisas foram ditas, depois de haver reafirmado sua história de vida perante os coríntios (Cf. 11. 16) e também de descrever a extraordinária experiência que ele teve com Deus, através da revelação que lhe foi dada conforme os versículos 1 – 4.

Sendo assim, Paulo continua:

II – “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.” (7)

O termo “ensoberbecer” significa “levantar ou elevar acima”, “exaltar”, “ter um espírito altivo”, “sentir-se elevado”.

Paulo teve uma experiência tão extraordinária que nada ou ninguém seria capaz de descrever. Não me refiro às coisas que ele “ouviu” nesta revelação. Eu me reporto à revelação em si mesma.

O termo grego empregado para “grandeza” significa “excesso”, “de qualidade ou caráter extraordinário”, baseado na idéia de ir além, de ultrapassar, de lançar longe. É de onde surge “hipérbole” que nós usamos para dar uma conotação colossal a certas coisas que queremos dizer.

Na sequência nos é dito: “.. foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear,...”

O texto aponta a origem deste espinho como sendo Deus mesmo, embora o agente tenha sido Satanás. Uma situação muito parecida com o que ocorreu a Jó no V.T.

Já este “espinho na carne” tem sido alvo de muitas especulações. Antes, porém de fazermos um arrazoado mais completo, cabe lembrar que “espinho” no original pode significar “estaca, toco”, “também era usado para dar nome a um instrumento cirúrgico, ou a ponta de um anzol”, “ferrão”, “farpa” ou “espinho tal como o conhecemos” e tem sido interpretado como sendo aflições mentais e físicas relacionadas a “desespero, desânimo, dúvida, falta de confiança, tentações, desejos sensuais etc.” ou, num sentido físico, “defeitos na aparência pessoal, doenças como a malária, dores de cabeça como a enxaqueca, a epilepsia, dores de ouvido ou a oftalmia”.

Embora haja uma forte tendência em defender a idéia de que Paulo tinha um problema nos olhos, preferimos a interpretação dada por Calvino que diz: “esta frase significa a soma de todos os diferentes tipos de provações com que Paulo era atormentado.”

Nesta linha de raciocínio, o termo “carne” define “a parte da alma ainda não regenerada”, de modo que a conclusão final seria: “A mim foi dada uma aguilhada para ferir a minha carne, porque ainda não sou tão espiritual que possa estar isento das tentações segundo a carne”.

Este espinho foi posto com o propósito de “esbofeteá-lo”. Por que não, simplesmente açoiá-lo? Parece que a idéia é provocar uma certa humilhação, desferindo golpes diretamente no rosto. O sentido do termo é “bater com o punho”, “tratar com violência”, “espancar”.

Calvino diz que “Tal fator deve ser trazido à memória especialmente por aqueles que se sobressaem por suas mui distintas excelências, pois se tiverem defeitos misturados com suas virtudes, se forem perseguidos pelo ódio, se forem atingidos por maldições, tais coisas não serão simplesmente as varas de seu instrutor celestial, mas também as bofetadas designadas para conter toda arrogância e ensinar-lhes a modéstia.”

Segundo Agostinho “para o veneno letal do orgulho, o único antídoto é outro veneno”

Não há exageros nestas colocações; afinal o orgulho é considerado e tratado por Deus como algo obstinado, tão terrível e arraigado tão profundamente que sua erradicação demanda um esforço sem precedentes.

É interessante como Paulo havia superado tantos obstáculos em seu ministério e, neste particular, a atitude de se orgulhar configura-se em causa suficiente para submetê-lo a um processo doloroso e terrível com a eficácia de reverter o orgulho em humildade.

Tão terrível que, diferente das demais experiências vividas em seu ministério, neste caso, ele pede insistentemente que lhe seja retirado. Entretanto, Deus atendeu ao seu pedido. O que nos leva a pensar em um outro elemento contido neste texto: a oração. (vs. 8)

Paulo, homem de fé, ora e Deus lhe diz: Não.

O que está em questão aqui não é o que ele desejava mas, o que ele necessitava. E, ele mesmo reconhece que não convinha se orgulhar. Sua necessidade estava para a humildade. E, haveria um preço muito elevado para obtê-la.

Volto a invocar o conteúdo de Mt. 7. 7 – 12, onde Jesus ensina que é preciso pedir as coisas para as quais as promessas de receber são, igualmente, certas. Do contrário, sempre se está exposto a desiludir-se quando ao que se espera de Deus. No Sermão do Monte, Cristo ensina a pedir aquilo que está seguramente prometido. Caso haja uma insitência em detalhes pessoais, os meios esperados, os resultados preferidos, então é preciso estar preparado para as restrições impostas por Deus.

A resposta de Deus para situações assim é: “a minha graça te basta” (vs. 9).

Calvino diz que “devemos nos precaver de ficarmos desanimados, quando Deus não atender ou não satisfizer nossas solicitações, como se nossos esforços tivessem sido em vão. Pois sua graça deve ser-nos suficiente, ou seja, deve ser-nos suficiente o fato de que Ele não se esquece de nós. Esta é a razão por que Deus, em sua misericórdia, às vezes recusa dar aos santos coisas que Ele, em sua ira, concede aos ímpios, pois sabe perfeitamente bem o que nos é bom.”

Outro comentarista diz que “... ocasionalmente, um “não” da parte do Senhor, é a melhor resposta às nossas orações, quando pedimos ignorantemente,... para o crente dedicado, suas orações devem harmonizar-se com a vontade de Deus.” Ele ainda faz uma bela citação:

“O Criador obtém as tarefas determinadas de seus servos, através de muitos métodos. Para alguns é suficiente dar-lhes amor, albores e crepúsculos, como prímulas nos bosques, na primavera; mas outros precisam ser açoitados com chicotes sangrentos ou levados quase à loucura pelos sonhos... antes que fazam aquilo que Deus determinou para eles...”

Por outro lado, ao dizer “não”, o Senhor continua mostrando-lhe que ele estava sendo assistido de um modo muito particular em meio a esta dura prova. Isto está claro, na medida que diz: a minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.

A referência não é àquela graça compartilhada com todos os santos de um modo geral mas, como já disse, diz respeito à presença do Espírito Santo, consolando, fortalecendo, dando condições para passar pelo processo de deixar o orgulho e descer ao status de humilde.

Esta foi a visão do apóstolo Paulo. Sua resposta evidencia a clara compreensão de que isto lhe era necessário, na media que diz: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraqueza, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” Ele enxergou que “é quando nossas fraqueza vêm à baila que o poder de Deus é consumado em nós... aquele poder que socorre as pessoas em suas necessidades, que as levanta quando fracassam e que as reanima quando desfalecem.”

A graça de Cristo tem lugar na vida cristã quando, humildemente, admitimos nossas e confessamos nossas fraquezas. Por essa razão, Paulo caminha a seguinte conclusão: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas” (vs. 9) e “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias,...” (10)

Ele “prosseguiu mostrando como o Senhor o humilhou de várias maneiras, de modo que sua glória pudesse fulgir com mais intensidade em seus defeitos pessoais, visto que as glórias humanas às vezes ocultam e dissimulam a glória divina.”, ou seja, aquilo que seria motivo de vergonha para os homens, descrito nos vss. 23 a 27 do capítulo 11, são, em sua ótica, situações que o enobrecem e representam um motivo legítimo para se orgulhar.

Convém destacar que nada disso faria sentido se não fosse por amor a Cristo . Isto lança fora qualquer idéia de sofrimentos aleatórios e que não tenham qualquer relação com a vida cristã, isto é, o sofrimento a que nos referimos é causa e efeito de se viver em Cristo. Ou seja, quando os sofrimentos da vida cristã não são um resultado de obediência irrestrita à Vontade de Deus, naturalmente levam a uma comunhão mais intensa com Ele. De qualquer modo, o sofrimento tem um propósito específico na vida cristã, ao mesmo tempo em que tem sua causa em Deus mesmo que prova a todos os Seus, indiscriminadamente.

CONCLUSÃO – Quem de nós jamais teve algo, alguém, algum motivo nesta vida para se orgulhar?

Mesmo que encontremos alguma dificuldade para enumerar algum feito marcante ao longo de nossa história, todos comungamos desta característica humana chamada orgulho.

Entretanto, embora antagônicos, o orgulho e a humildade, caminham sempre juntos na vida cristã, ou seja, não há cristão que se orgulhe de algo sem que seja submetido ao duro processo de se inclinar até que a humildade se reflita claramente em sua vida. Além disto, o cristão não é reconhecido por provocar situações em que ele é o foco das atenções, dos aplausos humanos, em que alguma virtude que ele demonstre deva ser tida em elevada consideração; pelo contrário, sempre procurará encontrar em si mesmo aquela postura do servo mencionado em Lc. 17. 10: fizemos apenas o que devíamos fazer.

Creio que o orgulho que não nos remeta à humildade pode significar não apenas um desvio no caráter como o prenúncio de um presente e futuro desajustados e de resultados catastróficos, ao passo que a humildade, ao mesmo tempo que é resultado de um duro mas, necessário processo, nos qualifica a lidar com o orgulho que estará presente ao longo de nossas vidas.

Que o Senhor nos conceda a sabedoria necessária para ter o discernimento de que precisamos para encontrar esta conciliação.

Rev. Marcos Dias


NOTAS

II CORÍNTIOS, Calvino, EP – Edições paracletos, pg. 244
O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, R. N. Champlin, Editora Candeia, pg. 414
O N.T. interpretado vs. por vs. Idem, pg. 415
calvino, Idem, pp. 245 e 246
Ibdem, pg. 246
Ibdem, pg. 247
O N.T. interpretado vs. por vs. Ibdem, pg. 415
Idem, pg. 416
Calvino, Idem, pg. 248
C.L.N.T.G., Fritz Rienecker, Cleon Rogers, Vida Nova, pg. 366

SOMOS O QUE FALAMOS

“O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal; pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.”

Lc. 6. 45




É uma questão de hábito. Não estamos nos referindo àquilo que se diz vez por outra e que não combina com o nosso perfil. Estas situações fogem à regra, surpreende inclusive a nós mesmos, impacta, se destaca do todo.

Somos o que pensamos e, por conseguinte, o que falamos ontem, hoje e falaremos durante toda a nossa vida. Eis a importância de verbalizar o que pensamos posto que traduz muito bem a natureza que predomina em nosso coração.

O texto mostra isto com muita clareza. Nos versículos 43 e 44 nos é dito: “não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas.”

Assim, nos vemos diante de uma realidade da qual ninguém pode escapar, ou seja, as coisas que expresso com facilidade, que preenchem os espaços de minhas conversas, que oferecem respostas quando sou inquirido, que aconselham ao que carece de orientação, são estas as coisas que definem, inegavelmente, o tipo de pessoa que eu sou, posto que torna “visível” o meu caráter, o meu coração, a mente que coordena todo o meu comportamento.

Não é apenas uma simples questão de querer ser “árvore de boa qualidade”. Trata-se de comprovar quem eu sou através do que falo, ainda que eu negue qualquer possibilidade de deixar que minha natureza corruptível suplante àquela que julgo haver sido implantada em mim, por obra do Espírito Santo.

Se penso que sou “bom”, o bom tesouro que há em mim será conhecido, mesmo que rejeitado, considerando que, na maioria dos casos, é possível estar envolto em um contexto onde predomina a maldade, a hostilidade, a degradação moral, espiritual, a indiferença, a acomodação a uma natureza humana caracterizada por um “mau tesouro”, cujo proveito está para a corrupção de si mesmo e de outrem.

Tiago diz que se alguém não tropeça na própria língua é perfeito. Obviamente, não creio que este seja um assunto que ofereça qualquer resistência; entretanto há que se lembrar que ele está tratando de “tropeçar” e não do modo de ser; caso contrário, estaríamos perante uma terrível contradição escriturística.

Isto posto, devemos nos encorajar a não desanimar quando o que falamos depõe contra nós; pelo contrário, necessitamos de uma analise honesta das questões isoladas que, embora não nos qualifiquem como “árvores más”, promovem grande prejuízo para nós mesmos e para todos aqueles que nos ouvem.

Que tenhamos o mesmo cuidado observado pelo salmista na medida em que diz: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.” Sl. 141. 3.

Rev. Marcos Martins Dias

13 novembro 2009

A CARREIRA QUE NOS ESTÁ PROPOSTA

“... corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta”
Hb. 12.1b


À medida que vencemos cada etapa de nossa vida, vislumbramos novas realidades que se descortinam perante nossos olhos, sem saber o que o futuro nos reserva, na expectativa de que experimentemos muitas coisas boas, que marcam, que deixam saudades, situações que gostaríamos de reviver e que aumentam nossas esperanças quanto ao que ainda pretendemos conquistar.

Ao longo de nosso percurso, não é de estranhar que fiquemos confusos quanto ao modo como devemos lidar com o que ainda está por vir, ou seja, pode chegar um momento em que o passado, o que já se pôde fazer, viver, desfrutar, acaba por nos deixar tranquilos, desde as menores até as maiores realidades presentes em nosso dia a dia, ou seja, é muito comum ter por certo que viveremos e faremos coisas que já tivemos a chance de concretizar, além de confiar que algo maior e melhor ainda pode acontecer.

Certamente nossa carreira não deve ser encarada de um modo pessimista, como quem vive em estado de alerta, sempre esperando pelo pior. Não é isto que está em questão. O fato relevante aqui diz respeito a uma carreira sobre a qual nenhum de nós exerce domínio, embora sejamos completamente ativos e responsáveis em cada passo que damos, em cada decisão que tomamos.

Isto, longe de ser desagradável, de gerar insegurança, medo ou qualquer outra sensação causada pelo desconhecido, remete-nos a uma situação de paz e confiança, sabendo que nossa carreira está proposta não por alguém que compartilhe das limitações características da natureza humana. Não! Aquele que nos trouxe ao mundo, que deu um propósito para a nossa existência, que garantiu que chegássemos até aqui, é também o Mesmo que já garantiu o futuro que ainda está por se revelar; e é Ele mesmo, Deus, o Supremo criador e governador do Universo que favorece o espírito humano, proporcionando-lhe paz e segurança hoje e sempre, “dando o frio conforme o cobertor ou o cobertor conforme o frio”.

Deste modo, nada melhor do que prosseguir firme e em gratidão, percorrendo com perseverança a carreira que Ele nos propôs.

Acertando e errando, aprendendo e ensinando, sorrindo e chorando, ganhando ou perdendo, a realidade é que continuamos avançando os degraus, ganhando terreno, sempre sendo favorecidos, em alguma medida, ainda que, no momento, não tenhamos qualquer condição para explicar como este maravilhoso milagre se dá em nossa vida. Refiro-me ao dilema de se conciliar a perda com o ganho, a tristeza com a alegria, os erros com os acertos etc., de tal modo que o saldo sempre seja tido por positivo, lembrando que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”.

Sendo assim, nada melhor do que terminar com o que começamos: “... corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta.”

Rev. Marcos Martins Dias

07 agosto 2009

EU CREIO

“E imediatamente o pai do menino exclamou [com lágrimas]: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé.”

I Ts. 4. 5


Grande parte das coisas que se dão na vida do cristão estão amparadas na fé somente. Não há elementos humanos capazes de transpor a supremacia característica da fé que, sendo supra racional, não pode ser assimilada intelectualmente. Não apenas a fé em si mesma mas, muito do que dela se deriva excede ao entendimento. Ações e reações presentes ao longo de toda a vida de quem está fundamentado nela seguem estas mesmas características.

O texto destacado acima, discorre sobre fatos que nos levam a refletir a respeito do assunto.

Note que Jesus está diante de um pai desesperado, cujo filho, tomado por um espírito maligno, não encontrava solução para seu problema em recursos humanos. A fé em Cristo é a chave, a porta, o fim do desespero.

Mas este não é o único problema presente no texto. Somos informados do modo como Jesus reagiu diante da notícia de que Seus discípulos não o puderam expelir. Isto está posto da seguinte maneira: “...: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?...”

Uma advertência voltada apenas para Seus seguidores? Certamente não. Está comprovado que a incredulidade não é uma questão pontual, circunstancial, confinada a um problema isolado ou a uma situação específica. Estamos diante de um dano de proporções indescritíveis o qual contaminou toda a humanidade, tornando insensível o coração do mais crédulo dentre os mortais, indicando quão frágil podemos ser e quão grande e poderoso é o nosso Deus, indicando que, em muitas ocasiões não há nada a se fazer; é preciso apenas crer.

Deste modo, sempre haverá situações diante das quais tudo o que teremos a fazer é nos inclinarmos humildemente perante o olhar misericordioso de Cristo e afirmar: Eu creio. Ajuda-me na minha falta de fé. Minha nulidade me consome, minhas forças se esvaem, nada posso sem que o Senhor me tome pela mão e conceda-me o privilégio de ser alvo de Sua graça.

Posso não ver, não conseguir descrever, não entender como é possível. Mas, indubitavelmente, saberei que Deus está trabalhando em mim, realizando coisas que estão além, muito além de tudo quanto os “olhos viram, os ouvidos ouviram e jamais penetraram o coração humano”.

Que o Senhor nos ajude, dia após dia, a simplesmente crer.

Rev. Marcos Martins Dias

10 julho 2009

ENREGA PARCIAL

“Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.” Sl. 37. 5

Uma das coisas mais comuns na vida cristã é “entregar” constantemente os problemas a Deus e “esperar” os resultados desta atitude tão “segura”.

Colocar os termos “entregar, esperar e segura” entre aspas é uma atitude proposital por se tratar de um assunto que, embora pareça claro, apresenta incoerências nos sintomas observados em pessoas que, mesmo fazendo muito uso dos termos, ainda não conseguiram alcançar a verdadeira experiência de entregar, esperar e ter segurança. Isto é o que se define aqui como “uma entrega parcial”, ou seja, é o mesmo que “dizer” mas, não “fazer”.

É incrível como a confiança no ser humano atinge proporções incomparavelmente maiores do que aquela requerida pela Escritura, no que se refere a Deus. Mesmo nas coisas mais simples, podemos ser apanhados em nossa própria armadilha, tendo certeza acerca de pessoas, coisas, circunstâncias etc., que são, por si mesmas, incertas.

Deste modo, por exemplo, entregamos determinada quantia a alguém, confiamos que ele trará o que lhe foi pedido e, normalmente, esperamos tranquilamente que tudo se faça conforme o planejado. Seja em relação ao pão matinal, à conta a ser paga, à rotina normal de sair pela manhã e retornar depois, de se levar uma vida sem aquelas situações inesperadas etc.

Querendo ou não, podemos ser vitimados pelo que foi dito por meio do profeta Jeremias: “...: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparte o seu coração do SENHOR!” 17. 5.

Esta constatação se fundamenta no fato de orarmos diante de certas adversidades e “entregar” nas mãos de Deus mas, sofrendo de certa ansiedade sem saber “se”, “quando” e “como” Ele fará o que “esperamos”.

Uma “entrega pela metade” não é entrega, nem confiança, nem esperança. É o contrário de tudo isto. É ausência daquela fé genuína que promove descanso, paz e que o entendimento é incapaz de alcançar.

Nossa natureza é assim mesmo. Se podemos ver, tocar, sentir etc. parece que tudo fica mais fácil; por outro lado, se não vemos, não tocamos, não sentimos, se dependemos totalmente de crer, de depositar uma fé incondicional e irrestrita no que Deus nos diz, a hesitação bate à porta, espreita o coração humano, perturba a paz, gera insegurança, duvida da fé, contrariando princípios triviais que devem permear o relacionamento entre homem e Deus.

Está dito: “Entrega, confia e espera”. O que nos compete é simplesmente obedecer, ao mesmo tempo em que fazemos o que está ao nosso alcance.

Que Deus nos ajude a confiar de fato e de verdade em lugar de enganar a nós mesmos com uma espiritualidade superficial, sofrida, vazia, repleta de situações onde a angústia e a ansiedade ocasionadas pela inobservância da Palavra de Deus são fatores presentes na vida de muitos que se declaram fervorosos e crentes em Jesus Cristo.

Rev. Marcos Martins Dias

03 julho 2009

OVELHAS SEM NOME

“..., as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas...”
Jo. 10. 3


O movimento evangélico brasileiro tem experimentado grandes mudanças ao longo das últimas décadas, expandindo-se e multiplicando-se cada vez mais, ocasionando o surgimento de igrejas que congregam milhares de pessoas em um mesmo lugar e constroem templos de grandes proporções de arquiteturas cada vez mais avançadas e mecanismos de comunicação de última geração, além de líderes que se destacam pelo forte esquema de segurança que os cercam e por sua rápida ascensão dentro e fora da igreja.

Creio que não é possível fazer algum tipo de análise deste fenômeno religioso sem causar algum tipo de polêmica; entretanto, mesmo conhecendo a situação a que me exponho, embora não me proponha a aprofundar no assunto, não há como negar que tais mudanças são sempre acompanhadas de privilégios e responsabilidades e, assim como se multiplica o número de fiéis, tudo o mais que está relacionado a eles tende a seguir o mesmo curso.

Dentre estes fatores que merecem destaque, busco conciliar o perfil de pastor e ovelhas descrito por Jesus e a realidade que se constata em grande parte dos movimentos que conquistam a simpatia de um “público” crescente em decorrência da “força” que demonstram por “talentos” que se destacam e “fãs” que se multiplicam e se confundem entre os que ainda preservam as características de legítimos adoradores e seguidores do Filho de Deus, o qual foi confiado aos cuidados de um simples carpinteiro.

Sem me opor, absolutamente, ao avanço numérico e qualitativo dos que, verdadeiramente, experimentam o novo nascimento, observo e concluo que temos lidado com muitas ovelhas “sem nome”, sem pastor(es), amontoadas numa plateia que faz brilhar os olhos dos que as conduzem.

Obviamente que elas tem nome, personalidade, necessidades, problemas que só podem ser conhecidos num relacionamento dissociado do ajuntamento de grandes multidões. Mas, como resgatar aquele pastorado enfatizado por Jesus onde Ele é conhecido assim como conhece Suas ovelhas?

Creio que isto não se constitui em alerta apenas para nós pastores mas, para aqueles que se ajuntam aos montes e se satisfazem com o relacionamento superficial, com experiências pontuais ocorridas nos “espetáculos” que se multiplicam a pretexto de adoração a Deus.

Isto não deve soar como um desabafo de algum pregador frustrado mas, como uma séria preocupação com a necessidade de nos relacionarmos mais como ovelhas que tem uma identidade conhecida dentro e fora dos portões de uma igreja, cujos pastores conhecem assim como também são conhecidos.

Que este arrazoado sirva para nos aplicarmos a uma séria reflexão.

Rev. Marcos Martins Dias

01 julho 2009

HAJA PACIÊNCIA

"Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;”
Rm. 12 : 12


Embora a paciência seja um resultado da presença do Espírito Santo na vida do cristão, não é difícil perceber que o seu exercício tem se tornado um desafio cada vez maior diante de uma realidade onde o imediatismo tem ganhado destaque em diversos seguimentos do dia a dia.

O mais interessante é que, ao observar o versículo acima, o assunto não tem a ver com as coisas corriqueiras, ao que nos é comum, ao que faz parte do cotidiano de todos os mortais. A palavra de ordem é “ter paciência em meio às tribulações”. Como se pode notar, isto vem acompanhado de outros imperativos que apontam para a perseverança e a oração. Condições bastante óbvias para quem precisa aprender a ser paciente.

É, igualmente interessante, a maneira como não somente somos exigidos nesta área como também, perceptível ou imperceptivelmente, esperamos ser atendidos prontamente, pelas pessoas e por Deus, assim como cobramos e somos cobramos a obter resultados imediatos quanto às responsabilidades distribuídas entre nós, ignorando o sentido da paciência e nos utilizando de pretextos como: não podemos admitir o comodismo, é preciso sempre ter atitude, ainda não é a hora de Deus etc.

Pode haver exceções, sem dúvida; entretanto, se averiguarmos um pouco mais, poderemos constatar que estamos distantes de demonstrar paciência nas coisas mais comuns do nosso dia a dia. E, sendo assim, como poderemos obedecer ao imperativo de sermos pacientes em situações adversas?

Há décadas, Deus tem sido paciente comigo, perdoando minhas ofensas, concedendo-me novas oportunidades, fazendo-me favores e, sinceramente, haja paciência para tolerar a minha intempestividade o meu desejo de ver as coisas acontecerem no meu tempo, a meu modo e do meu gosto.

Não devemos nos esquecer que estamos lidando com um imperativo, com uma ordem. E, se conhecemos o significado de “esperança”, se nos prestamos ao favor próprio de dedicar tempo à oração, então estaremos menos distantes de alcançar o que nos é requerido, desfrutando gradativamente do amadurecimento de mais este precioso fruto do Espírito em nós: a paciência.

Que Deus nos ajude na busca por mais esta preciosa virtude, evidência de que somos legitimamente regenerados pelo poder do Espírito Santo.

Rev. Marcos Martins Dias

10 junho 2009

PRECISO VER JESUS

“E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” II Co. 3. 18

De todas as coisas que necessito, nada parece mais desafiador do que constatar que, de fato, Cristo está sendo formado nas pessoas conforme está escrito. Observe não estou negando o fato de isto estar ocorrendo. Meu enfoque aponta para o desafio, cada vez maior, que isto tem representado.

Esta afirmação baseia-se na constatação do paradoxo constante existente entre o discurso evangélico e a ética, o comportamento que se vem observando.

Não há qualquer dúvida sobre a beleza de se falar de Jesus e desejar viver como Ele. A questão se complica quando, à semelhança da parábola da figueira, procuramos o que prova Sua existência em nós e nada mais encontramos a não ser folhas. Muitas folhas.

Não estou confuso. Sei o que preciso procurar em mim e também em todos os que confessam a fé cristã. Meu problema está para a dificuldade de identificar os traços de Cristo na igreja hodierna. Certamente há exceções. Sempre houve. Entretanto, a confissão sem comprovação tem causado muita confusão a ponto de perceber que muitos tem se prestado a denegrir o Evangelho de Cristo, bem como o perfil, o caráter, a imagem do próprio Senhor Jesus.

Certamente isto não muda Quem Ele é; entretanto causa uma necessidade não somente minha mas, principalmente de quantos não têm qualquer acesso às Escrituras Sagradas para saber quem é Jesus apenas por intermédio do modo de vida de todos os que professam segui-Lo. O que tem se tornado uma realidade cada vez mais distante pelo fato de Cristo e Sua Palavra ficarem restritos a uma contemplação de Deus, recheada de declarações feitas por meio de cânticos, orações, palavras etc., como um invólucro rotulado mas, vazio.

Como eu preciso e como eu gostaria de ver Jesus! Não nos moldes de Tomé mas, na vida de cada irmão, no testemunho da igreja, na ética que acompanha o discurso. Como eu gostaria de cumprir o que costumamos cantar: “Mais de Cristo...”! Como me envergonho de deixar tanto a desejar.

Graças a Deus, ainda há tempo. Tempo para perseguir a santificação. Tempo para aproximar-me mais do que foi dito pelo apóstolo Paulo: “já não vivo eu mas, Cristo vive em mim.”

Trabalhemos para que esta necessidade seja suprida na medida que somos remodelados conforme a imagem e semelhança do nosso Senhor Jesus Cristo.

Rev. Marcos Martins Dias

04 junho 2009

QUANDO O INVERNO SE APROXIMA

“E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” Lc. 24. 32

Ao ler os relatos a respeito do desânimo que acometeu os discípulos após a morte de Jesus, todos reunimos condições de perceber quão instável é o coração humano, considerando que mesmo tendo presenciado Suas obras e palavras revestidas de poder, mesmo tendo se maravilhado diante do grande ministério que Ele realizou, mesmo tendo sido alvos de Seu amor, de Sua atenção, de Seu cuidado e, sobretudo, de Sua salvação, seus corações foram tomados de uma tristeza tão profunda que quase posso perceber as nuvens espessas que encobriram os céus no dia de Sua morte, a escuridão do túmulo lacrado e o silêncio personificado no corpo solitário e sem vida dando destaque à morte, a impressão de derrota, de trabalho inútil, o arrependimento de se dar por nada e o desejo de retomar a velha rotina, investindo esforços no que havia sido deixado e abraçando o que já se qualificava como desprovido de valor diante do vislumbre de uma nova vida e a grande oportunidade de servir a um propósito incomparavelmente maior, mais nobre e mais elevado, apresentados pelo Messias, agora morto e, aparentemente, derrotado.

Quanta incredulidade! Quanta dureza de coração! Quanto arrependimento ao perceber sua própria frieza mesmo andando em companhia do Cristo ressurreto! Quanta vergonha constatada nas afirmações feitas quando Ele se retira: “... não nos ardia o coração,...?”

Embora todo este quadro tenha se revertido e os discípulos tenham se despertado para o estado ao qual lançaram a si mesmos, se erguendo para aquela viva esperança recebida em Cristo, abandonando a frieza e abraçando o fervor, ofuscando a derrota com o perfil de “mais que vencedores”, o tempo passou e, por vezes tenho a impressão de que o inverno sempre se aproxima. Parece que o efêmero, o transitório insiste em se sobrepor ao chamado incomparavelmente mais nobre e elevado que deve ocupar o lugar onde depositamos nossas prioridades, onde investimos o nosso amor, pelo qual somos capazes de viver e morrer, provando que o sol brilha e sempre brilhará sobre nós com todo o seu fulgor. É preciso ter humildade para, depois de uma auto análise, concluir: “até que ponto nos arde o coração? Até onde temos demonstrado que Ele é conosco, tão vivo como sempre, falando com a mesma autoridade e poder, fazendo diferença em nós e despertando também os outros para uma nova realidade?”.

Não temo a chegada do inverno. Assusta-me o fato de saber que, em muitos corações, ele veio, já se instalou e ali mesmo vai ficar.

Roguemos para que sejamos livres deste espírito mórbido, de uma vida fria e vazia, trabalhando por um coração sempre aquecido pelas chamas resultantes da presença imanente de Cristo em nosso coração.

Rev. Marcos Martins Dias

02 junho 2009

A FACILIDADE DE DESISTIR

“E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” Ef. 6. 9

Nossa vida está repleta de situações que, por vezes, nos levam a trabalhar com a possibilidade da desistência no propósito de desvencilharmo-nos de preocupações, tristezas, aborrecimentos, coisas e até de pessoas.

Isto não deve nos surpreender, não deve nos levar à conclusão de que somos fracos, incapazes de prosseguir, de lutar, de vencer. Não estamos solitários ao conjecturar sobre os resultados de abandonar o que deveríamos suportar. Esta é mais uma daquelas típicas condições que são compartilhadas pelos mortais.

Consciente disto, o apóstolo Paulo escreve aos gálatas sobre a necessidade de perseverar em fazer o bem, asseverando que há um tempo para ceifar, caso haja determinação, disposição, continuidade, insistência e seus similares.

É preciso, entretanto, observar o cuidado de não dissociar esta promessa ao que é dito antes e depois. Refiro-me ao fato de estar mais do que comprovado que, geralmente, colhe-se o que se planta e que, tendo esta consciência, é preciso fazer o bem a todos continua e indiscriminadamente, com ênfase aos da família da fé, lembrando sempre que a ceifa não tem nenhuma relação com o imediatismo ao qual estamos tão acostumados. Isto se define pelo uso do termo “a seu tempo ceifaremos”, ou seja, embora a linguagem figurada nos lembre do tempo previsto para as folhas, flores e frutos, neste caso, em se tratando de semear para o Espírito, não reunimos condições para prever o tempo apropriado para a colheita. Isto está no âmbito da economia exclusiva de Deus.

Sendo assim, não é incomum notar o inconformismo de muitos que, julgando lançar a semente certa, lamentam a ausência de resultados. Dois problemas sérios que não encontram amparo no texto, posto que, nosso julgamento pode estar em discordância com o parecer divino e não estamos sendo encorajados a ficar de plantão esperando um momento para comemorar. Embora isto possa ocorrer em vida, os resultados definitivos de tudo quanto fazemos estão reservados para a eternidade onde havemos de desfrutar plenamente a alegria, o conforto, o prêmio reservado para os que aprenderam o significado de “não nos cansemos de fazer o bem”.

Portanto, ainda que seja mais fácil desistir, a segurança está em perseverar, por mais difícil que isto possa representar.

Que Deus nos ajude a ter a paciência necessária para nos mantermos firmes frente ao desafio que este trabalho representa.

Rev. Marcos Martins Dias

15 maio 2009

DISCORDANDO DE DEUS

“não atende a ninguém, não aceita disciplina, não confia no Senhor, nem se aproxima do seu Deus.” Sf. 3.2

O modo como se aborda a respeito das manifestações teofânicas ao longo da história, por diversas vezes deixa a impressão do desejo de fazer parte do quadro e, não somente contemplar os momentos maravilhosos em que Deus falou clara e diretamente ao Seu povo mas, também dá a impressão que a nossa disposição para a pronta obediência a tudo quanto Ele disse é incontestável. Entretanto, embora se concorde que o Senhor continue falando através dos séculos, parece que a inclinação para tomar rumos diferentes daqueles apontados por Ele retratam uma realidade presente, a qual também seria observada mesmo diante dos impactos causados por Suas incontáveis manifestações sobrenaturais.

As condições dos judeus no contexto do cativeiro babilônico são uma demonstração concreta da tendência humana em fazer sua vontade prevalecer contra Deus e Seus mandamentos, mesmo sofrendo duramente o preço desta atitude tão insana, considerando que aceitando ou não, concordando ou discordando, é como diz o profeta Daniel: “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem dizer: Que fazes?” (Dn. 4. 35).

Moisés teve audácia suficiente para discordar de Deus. Jeremias também o fez ao considerar-se inabilitado quando foi chamado. Jonas, juntou seus pertences e demonstrou sua discordância seguindo para Társis e, dentre tantos outros exemplos, não apenas um homem mas, todo o povo fez mais do que ignorar os caminhos apontados por Deus. Suas decisões caracterizam um comportamento de franca rebeldia e insistência em permanecer em caminhos moldados segundo os ditames de sua própria consciência.

Creio que, apesar das diferenças ocasionadas pelo tempo e espaço que nos separam desta realidade jamais esquecida, cada dia que passa, cada movimento que surge, cada declaração feita acerca de Deus, cada atitude demonstrada pela igreja hodierna, retratam um comportamento de semelhante discordância de Deus e de Sua vontade na medida que se “determina”, “toma-se posse”, “enfatiza-se determinadas promessas descontextualizadas”, “estabelece-se quando, onde, como e em quem Deus fará isto ou aquilo”, dentre tantas outras anomalias geradas pelo mesmo mau que anulou a sensibilidade dos judeus e que os subjugaram a uma dura disciplina que marcou época e jamais será esquecida.

Podemos optar por seguir o mesmo destino cruel e amargar a ação disciplinadora de Deus sobre nós ou admitir que, embora pensemos conhecer Deus e Sua vontade, podemos estar tomando uma direção completamente oposta ao que se espera de nós quanto a permanecermos dentro dos padrões divinos, revestidos de Sua aprovação, bênção e direção em tudo quanto realizarmos.

Busquemos a humildade necessária para refletir sobre isto e investirmos num relacionamento de concordância com a vontade de Deus para nossa vida.

Rev. Marcos Martins Dias

12 maio 2009

INCREDULIDADE NA FAMÍLIA

"porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém agora, são santos.” I Co. 7. 14

Quando nos deparamos com tanta gente querendo mudar o mundo, assustada com os desequilíbrios crescentes que se apoderam da sociedade, tem-se a impressão que os lares cristãos estão perseverando na luta contra toda impiedade a qual, começando por indivíduos, passando pelas famílias e atingindo a sociedade, permanece encontrando um oponente à altura, estando, portanto, impedida de causar maiores estragos do que o que se pode constatar.

No entanto, quando a análise que se faz está revestida da credibilidade que qualifica o cristianismo, começando por avaliar a nós mesmos, nossos lares e nossas igrejas, é possível que não encontremos a força necessária para combater todo o pecado que se avulta continuamente, destruindo vidas, famílias e até mesmo igrejas inteiras, anulando qualquer possibilidade de ser crente de fato.

Compreenda-se que isto não é uma afirmação de que “as portas do inferno prevalecerão contra ela”. Esta realidade é irrefutável, provém do Senhor da igreja e garante que, ainda que o amor de “quase todos” se esfrie, um remanescente será preservado e cumprirá o seu papel, sempre influenciando o meio em que vive.

O ponto que destaco nesta reflexão tem mais a ver com o cuidado que se deve ter de considerar-se imune aos danos que a incredulidade pode causar individual e coletivamente, com ênfase no contexto familiar.

Não se refuta a realidade que onde o crente é plantado, o mínimo que se espera é que sua presença promova diferença. O texto em epígrafe é muito claro a este respeito. A preocupação diz respeito à atitude de reivindicar os benefícios relativos à santificação tratada aqui, em detrimento de observar criteriosamente o comportamento que faz a diferença entre crente e incrédulo.

Sem qualquer dificuldade, qualquer um saberá afirmar que o vocábulo “crente” não é sinônimo de santidade. Afinal, ao isolar o termo do contexto em que está inserido no caso de I Co. 7, a palavra pode ser definida de muitas maneiras e, neste caso, é possível que haja muitos arrolados em igrejas compostas por “crentes” e que, no entanto, em matéria de convívio familiar, perdem para muitos que ainda não experimentaram as típicas mudanças resultantes de uma legítima conversão, comprometendo assim o padrão que se deve manter quanto ao trato a ser dispensado à esposa, ao marido, aos filhos, aos pais etc., a qualidade de vida que deve ser mantida em cada lar cristão.

Roguemos a Deus que nos ajude a ser instrumentos de bênçãos em nossos lares e que nos livre de maquiar a verdade, usando uma máscara para dar a impressão de que tudo está bem em nossa família e, por isso, podemos proceder com autoridade diante daqueles cuja família sofre diante da força implacável com a qual o pecado tem rompido muitos laços fraternos e, consequentemente, gerado uma sociedade decadente e corruptora na medida que causa estragos constantes e crescentes em cada casa onde a igreja deveria se fazer presente.

02 maio 2009

UMA EPIDEMIA QUE NÃO CAUSA PÂNICO

“nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” II Co. 4.4
O mundo já enfrentou muitas epidemias ao longo de sua história, das quais a mais recente é a tão divulgada “gripe suína” e, diante da sua força letal, grandes mobilizações já foram feitas a fim de conter sua proliferação e erradicar o problema, utilizando-se de variadas formas para um combate intenso e contínuo até que todos possam se sentir seguros e protegidos da terrível ameaça mundial.
Lembro-me de outras ocasiões em que grupos se uniram em prol de causas comuns como na época em que consagrou-se a famosa canção “We are the World”, composta para ajudar no combate a fome da África.
Sem dúvida nenhuma, não há que se questionar que estamos lidando com atitudes louváveis e necessárias. A própria igreja é favorecida por meio destas ações que não tem como principal motivação o fator religioso. Entretanto, sem alardes, sem qualquer pânico, a principal epidemia que atingiu toda a raça humana de todas as gerações, permanece ganhando terreno, promovendo estragos sem precedentes e arruinando com o presente e o futuro de uma grande multidão.
Infelizmente, apesar dos constantes apelos da igreja, a cegueira impede que este grande mal seja conhecido e combatido de maneira eficaz, contribuindo para que se viva cada dia de maneira tranquila, ainda que os danos sejam perfeitamente visíveis, a condenação eterna seja cruel, inevitável e iminente.
A insensibilidade justifica a ausência de pânico em detrimento do pandemônio estabelecido desde a queda em todos os seguimentos da sociedade, resultante da contaminação que afetou todas as faculdades humanas.
Embora seja lamentável saber que esta realidade é de caráter irreversível para uma grande maioria da população mundial, a igreja precisa perseverar em sua tarefa de provocar o impacto necessário levando o pecador ao desespero para que este, por sua vez, corra em direção a Cristo em busca de conter o mais temível de todos os males que o mundo já enfrentou.
É preciso que cada cristão se certifique que está desempenhando adequadamente o seu papel na divulgação desta terrível enfermidade e da Única solução para o problema enquanto há tempo para resgatar os que ainda podem ter seus olhos abertos e a consciência de que são pecadores e necessitados da cura que procede de Deus.
Fazendo isto, estaremos experimentando o verdadeiro sentido de nossa existência e contribuiremos para que muitos sejam poupados de se deteriorarem plena e definitivamente pelos danos que o pecado ainda pode causar.
Que Deus nos ajude nesta grande e difícil tarefa.
Rev. Marcos Martins Dias