04 junho 2009

QUANDO O INVERNO SE APROXIMA

“E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” Lc. 24. 32

Ao ler os relatos a respeito do desânimo que acometeu os discípulos após a morte de Jesus, todos reunimos condições de perceber quão instável é o coração humano, considerando que mesmo tendo presenciado Suas obras e palavras revestidas de poder, mesmo tendo se maravilhado diante do grande ministério que Ele realizou, mesmo tendo sido alvos de Seu amor, de Sua atenção, de Seu cuidado e, sobretudo, de Sua salvação, seus corações foram tomados de uma tristeza tão profunda que quase posso perceber as nuvens espessas que encobriram os céus no dia de Sua morte, a escuridão do túmulo lacrado e o silêncio personificado no corpo solitário e sem vida dando destaque à morte, a impressão de derrota, de trabalho inútil, o arrependimento de se dar por nada e o desejo de retomar a velha rotina, investindo esforços no que havia sido deixado e abraçando o que já se qualificava como desprovido de valor diante do vislumbre de uma nova vida e a grande oportunidade de servir a um propósito incomparavelmente maior, mais nobre e mais elevado, apresentados pelo Messias, agora morto e, aparentemente, derrotado.

Quanta incredulidade! Quanta dureza de coração! Quanto arrependimento ao perceber sua própria frieza mesmo andando em companhia do Cristo ressurreto! Quanta vergonha constatada nas afirmações feitas quando Ele se retira: “... não nos ardia o coração,...?”

Embora todo este quadro tenha se revertido e os discípulos tenham se despertado para o estado ao qual lançaram a si mesmos, se erguendo para aquela viva esperança recebida em Cristo, abandonando a frieza e abraçando o fervor, ofuscando a derrota com o perfil de “mais que vencedores”, o tempo passou e, por vezes tenho a impressão de que o inverno sempre se aproxima. Parece que o efêmero, o transitório insiste em se sobrepor ao chamado incomparavelmente mais nobre e elevado que deve ocupar o lugar onde depositamos nossas prioridades, onde investimos o nosso amor, pelo qual somos capazes de viver e morrer, provando que o sol brilha e sempre brilhará sobre nós com todo o seu fulgor. É preciso ter humildade para, depois de uma auto análise, concluir: “até que ponto nos arde o coração? Até onde temos demonstrado que Ele é conosco, tão vivo como sempre, falando com a mesma autoridade e poder, fazendo diferença em nós e despertando também os outros para uma nova realidade?”.

Não temo a chegada do inverno. Assusta-me o fato de saber que, em muitos corações, ele veio, já se instalou e ali mesmo vai ficar.

Roguemos para que sejamos livres deste espírito mórbido, de uma vida fria e vazia, trabalhando por um coração sempre aquecido pelas chamas resultantes da presença imanente de Cristo em nosso coração.

Rev. Marcos Martins Dias

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