27 novembro 2009

CRISTIANISMO CONTEMPLATIVO

“Ao se retirarem estes de Jesus, disse-lhe Pedro: Mestre, bom é estarmos aqui; então, façamos três tendas: uma será tua, outra, de Moisés, e outra, de Elias, não sabendo, porém, o que dizia.” Lc. 9. 33



A experiência da transfiguração foi um dos grandes momentos que marcaram o ministério de Jesus. Assim como no batismo, muitos tiveram o privilégio de testemunhar que Ele é, de fato, o Filho de Deus. Aqui também três dos discípulos participam do momento em que o testemunho da Lei e dos profetas confirma Sua relação com as promessas feitas no Velho Testamento e cujo cumprimento era aguardado ansiosamente pelos judeus. Nesta ocasião, ouvimos a mesma declaração acerca de Jesus, nos seguintes termos: “Este é o meu Filho”.

Foi algo tão extraordinário que levou Pedro a sugerir o levantamento de três tendas; o que, a princípio parece uma iniciativa muito natural e que, entretanto, é descrita da seguinte maneira: “..., não sabendo, porém, o que dizia.”

Pedro estava tão maravilhado com o que se passava naquele momento que não percebeu o propósito daquela transfiguração. Ela fazia parte de um processo que já havia iniciado e que os levaria até “os confins do mundo” com a mensagem salvadora do Evangelho.

Certamente permanecer naquele monte seria o mesmo que antecipar a glória que lhes estava prometida mas, reservada para o último dia de suas vidas.

Imagine a grande perda que isto significaria para a expansão do cristianismo em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra. Pedro, Tiago e João estariam restritos a uma espécie de cristianismo contemplativo, o qual lhes manteria em algum tipo de êxtase sem produzir, entretanto, qualquer benefício para o mundo.

Penso que há muito, estamos vivendo algo parecido na igreja de nosso tempo.

É tão bom estarmos “diante de Cristo” que, perceptível ou imperceptivelmente, já fizemos nossas tendas, institucionalizando o cristianismo e vivendo um tipo de contemplação que anula qualquer possibilidade de evangelização e testemunho para aqueles que não participam deste “nosso mundo contemplativo”.

Não se discute a necessidade de prestar culto a Deus, de declarar Suas maravilhas. O que se questiona aqui é o fato de insistirmos em nos limitarmos a falar de Deus para Deus mesmo quando o que se requer de nós é que falemos dEle ao mundo.

Sejamos honestos e reflitamos a respeito do tipo de religião que temos praticado e, ao verificar que permanecemos na contemplação de tanta coisa que pode até excluir a Pessoa de Deus, embora tudo seja feito em Seu nome, tomemos a antiga atitude que já nos foi requerida de ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura.

Rev. Marcos Martins Dias

19 novembro 2009

QUANDO O ORGULHO É PARCEIRO DA HUMILDADE

TEXTO: II Co. 12. 6 – 10

INTRODUÇÃO – Em muitas ocasiões temos ouvido acerca das dificuldades que Paulo sofria em relação a Corinto. Uma delas e, talvez a que mereça maior destaque é a atitude de rejeitarem-no como apóstolo.
Esta não era uma questão restrita aos falsos apóstolos. O contexto focado nesta dissertação mostra que o problema havia atingido uma extensão maior, comprometendo os coríntios de um modo geral, ou seja, ele não tinha que enfrentar a ferocidade com que era atacado pela liderança mas, precisava tratar o assunto com a mesma seriedade e na proporção adequada à ignorância dos coríntios.
Isto está posto da seguinte maneira em 11. 19 e 20: “Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos. Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto.”
Neste desafio de defender sua autoridade apostólica, nos deparamos com este texto que apresenta inúmeras lições as quais avançam através dos séculos, aplicando-se aos homens nas mais variadas circunstâncias, considerando que Paulo aborda sobre elementos que são comuns à natureza humana e aos cristãos de um modo particular.
Neste sentido e orientados pelo texto que destacamos, nossa intenção é mostrar como Paulo lidou com a questão do orgulho e como, através da atuação de Deus em sua vida, aprendeu uma grande lição de humildade.
Assim sendo, comecemos por considerar o que nos é dito no versículo seis:

I – Pois, se vier a gloriar-me não serei néscio, porque direi a verdade; mas abastenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve.

Segundo Calvino, o que ele está dizendo é: “Posso gloriar-me com boas razões e sem qualquer receio de ser, com razão, acusado de vaidade, porque tenho algo em que me gloriar, porém me abstenho”.

Paulo estava lidando com o grave problema de líderes que se gloriavam tolamente e incendiavam os crentes com seus ensinamentos comprometidos não somente em conteúdo como também em autenticidade intimamente ligada às experiências resultantes do serviço prestado ao Reino de Deus. Pessoas ofensivas e intoleráveis por causa de seus embustes, sem qualquer razão consistente para reivindicar autoridade e poder eclesiásticos, pretendendo ser o que, na verdade, não eram.

O apóstolo Paulo se apresenta com uma folha de serviços prestados e de um conhecimento do Evangelho surpreendentes e, neste caso, ele diz: eu não serei néscio se vier a gloriar-me, embora não convém (vs. 1), ou seja, ele estaria se gloriando por razões legítimas, se utilizando de quem ele era e do quanto já havia feito para lidar com a difícil situação de ser rejeitado como apóstolo.

Estas coisas foram ditas, depois de haver reafirmado sua história de vida perante os coríntios (Cf. 11. 16) e também de descrever a extraordinária experiência que ele teve com Deus, através da revelação que lhe foi dada conforme os versículos 1 – 4.

Sendo assim, Paulo continua:

II – “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.” (7)

O termo “ensoberbecer” significa “levantar ou elevar acima”, “exaltar”, “ter um espírito altivo”, “sentir-se elevado”.

Paulo teve uma experiência tão extraordinária que nada ou ninguém seria capaz de descrever. Não me refiro às coisas que ele “ouviu” nesta revelação. Eu me reporto à revelação em si mesma.

O termo grego empregado para “grandeza” significa “excesso”, “de qualidade ou caráter extraordinário”, baseado na idéia de ir além, de ultrapassar, de lançar longe. É de onde surge “hipérbole” que nós usamos para dar uma conotação colossal a certas coisas que queremos dizer.

Na sequência nos é dito: “.. foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear,...”

O texto aponta a origem deste espinho como sendo Deus mesmo, embora o agente tenha sido Satanás. Uma situação muito parecida com o que ocorreu a Jó no V.T.

Já este “espinho na carne” tem sido alvo de muitas especulações. Antes, porém de fazermos um arrazoado mais completo, cabe lembrar que “espinho” no original pode significar “estaca, toco”, “também era usado para dar nome a um instrumento cirúrgico, ou a ponta de um anzol”, “ferrão”, “farpa” ou “espinho tal como o conhecemos” e tem sido interpretado como sendo aflições mentais e físicas relacionadas a “desespero, desânimo, dúvida, falta de confiança, tentações, desejos sensuais etc.” ou, num sentido físico, “defeitos na aparência pessoal, doenças como a malária, dores de cabeça como a enxaqueca, a epilepsia, dores de ouvido ou a oftalmia”.

Embora haja uma forte tendência em defender a idéia de que Paulo tinha um problema nos olhos, preferimos a interpretação dada por Calvino que diz: “esta frase significa a soma de todos os diferentes tipos de provações com que Paulo era atormentado.”

Nesta linha de raciocínio, o termo “carne” define “a parte da alma ainda não regenerada”, de modo que a conclusão final seria: “A mim foi dada uma aguilhada para ferir a minha carne, porque ainda não sou tão espiritual que possa estar isento das tentações segundo a carne”.

Este espinho foi posto com o propósito de “esbofeteá-lo”. Por que não, simplesmente açoiá-lo? Parece que a idéia é provocar uma certa humilhação, desferindo golpes diretamente no rosto. O sentido do termo é “bater com o punho”, “tratar com violência”, “espancar”.

Calvino diz que “Tal fator deve ser trazido à memória especialmente por aqueles que se sobressaem por suas mui distintas excelências, pois se tiverem defeitos misturados com suas virtudes, se forem perseguidos pelo ódio, se forem atingidos por maldições, tais coisas não serão simplesmente as varas de seu instrutor celestial, mas também as bofetadas designadas para conter toda arrogância e ensinar-lhes a modéstia.”

Segundo Agostinho “para o veneno letal do orgulho, o único antídoto é outro veneno”

Não há exageros nestas colocações; afinal o orgulho é considerado e tratado por Deus como algo obstinado, tão terrível e arraigado tão profundamente que sua erradicação demanda um esforço sem precedentes.

É interessante como Paulo havia superado tantos obstáculos em seu ministério e, neste particular, a atitude de se orgulhar configura-se em causa suficiente para submetê-lo a um processo doloroso e terrível com a eficácia de reverter o orgulho em humildade.

Tão terrível que, diferente das demais experiências vividas em seu ministério, neste caso, ele pede insistentemente que lhe seja retirado. Entretanto, Deus atendeu ao seu pedido. O que nos leva a pensar em um outro elemento contido neste texto: a oração. (vs. 8)

Paulo, homem de fé, ora e Deus lhe diz: Não.

O que está em questão aqui não é o que ele desejava mas, o que ele necessitava. E, ele mesmo reconhece que não convinha se orgulhar. Sua necessidade estava para a humildade. E, haveria um preço muito elevado para obtê-la.

Volto a invocar o conteúdo de Mt. 7. 7 – 12, onde Jesus ensina que é preciso pedir as coisas para as quais as promessas de receber são, igualmente, certas. Do contrário, sempre se está exposto a desiludir-se quando ao que se espera de Deus. No Sermão do Monte, Cristo ensina a pedir aquilo que está seguramente prometido. Caso haja uma insitência em detalhes pessoais, os meios esperados, os resultados preferidos, então é preciso estar preparado para as restrições impostas por Deus.

A resposta de Deus para situações assim é: “a minha graça te basta” (vs. 9).

Calvino diz que “devemos nos precaver de ficarmos desanimados, quando Deus não atender ou não satisfizer nossas solicitações, como se nossos esforços tivessem sido em vão. Pois sua graça deve ser-nos suficiente, ou seja, deve ser-nos suficiente o fato de que Ele não se esquece de nós. Esta é a razão por que Deus, em sua misericórdia, às vezes recusa dar aos santos coisas que Ele, em sua ira, concede aos ímpios, pois sabe perfeitamente bem o que nos é bom.”

Outro comentarista diz que “... ocasionalmente, um “não” da parte do Senhor, é a melhor resposta às nossas orações, quando pedimos ignorantemente,... para o crente dedicado, suas orações devem harmonizar-se com a vontade de Deus.” Ele ainda faz uma bela citação:

“O Criador obtém as tarefas determinadas de seus servos, através de muitos métodos. Para alguns é suficiente dar-lhes amor, albores e crepúsculos, como prímulas nos bosques, na primavera; mas outros precisam ser açoitados com chicotes sangrentos ou levados quase à loucura pelos sonhos... antes que fazam aquilo que Deus determinou para eles...”

Por outro lado, ao dizer “não”, o Senhor continua mostrando-lhe que ele estava sendo assistido de um modo muito particular em meio a esta dura prova. Isto está claro, na medida que diz: a minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.

A referência não é àquela graça compartilhada com todos os santos de um modo geral mas, como já disse, diz respeito à presença do Espírito Santo, consolando, fortalecendo, dando condições para passar pelo processo de deixar o orgulho e descer ao status de humilde.

Esta foi a visão do apóstolo Paulo. Sua resposta evidencia a clara compreensão de que isto lhe era necessário, na media que diz: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraqueza, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” Ele enxergou que “é quando nossas fraqueza vêm à baila que o poder de Deus é consumado em nós... aquele poder que socorre as pessoas em suas necessidades, que as levanta quando fracassam e que as reanima quando desfalecem.”

A graça de Cristo tem lugar na vida cristã quando, humildemente, admitimos nossas e confessamos nossas fraquezas. Por essa razão, Paulo caminha a seguinte conclusão: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas” (vs. 9) e “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias,...” (10)

Ele “prosseguiu mostrando como o Senhor o humilhou de várias maneiras, de modo que sua glória pudesse fulgir com mais intensidade em seus defeitos pessoais, visto que as glórias humanas às vezes ocultam e dissimulam a glória divina.”, ou seja, aquilo que seria motivo de vergonha para os homens, descrito nos vss. 23 a 27 do capítulo 11, são, em sua ótica, situações que o enobrecem e representam um motivo legítimo para se orgulhar.

Convém destacar que nada disso faria sentido se não fosse por amor a Cristo . Isto lança fora qualquer idéia de sofrimentos aleatórios e que não tenham qualquer relação com a vida cristã, isto é, o sofrimento a que nos referimos é causa e efeito de se viver em Cristo. Ou seja, quando os sofrimentos da vida cristã não são um resultado de obediência irrestrita à Vontade de Deus, naturalmente levam a uma comunhão mais intensa com Ele. De qualquer modo, o sofrimento tem um propósito específico na vida cristã, ao mesmo tempo em que tem sua causa em Deus mesmo que prova a todos os Seus, indiscriminadamente.

CONCLUSÃO – Quem de nós jamais teve algo, alguém, algum motivo nesta vida para se orgulhar?

Mesmo que encontremos alguma dificuldade para enumerar algum feito marcante ao longo de nossa história, todos comungamos desta característica humana chamada orgulho.

Entretanto, embora antagônicos, o orgulho e a humildade, caminham sempre juntos na vida cristã, ou seja, não há cristão que se orgulhe de algo sem que seja submetido ao duro processo de se inclinar até que a humildade se reflita claramente em sua vida. Além disto, o cristão não é reconhecido por provocar situações em que ele é o foco das atenções, dos aplausos humanos, em que alguma virtude que ele demonstre deva ser tida em elevada consideração; pelo contrário, sempre procurará encontrar em si mesmo aquela postura do servo mencionado em Lc. 17. 10: fizemos apenas o que devíamos fazer.

Creio que o orgulho que não nos remeta à humildade pode significar não apenas um desvio no caráter como o prenúncio de um presente e futuro desajustados e de resultados catastróficos, ao passo que a humildade, ao mesmo tempo que é resultado de um duro mas, necessário processo, nos qualifica a lidar com o orgulho que estará presente ao longo de nossas vidas.

Que o Senhor nos conceda a sabedoria necessária para ter o discernimento de que precisamos para encontrar esta conciliação.

Rev. Marcos Dias


NOTAS

II CORÍNTIOS, Calvino, EP – Edições paracletos, pg. 244
O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, R. N. Champlin, Editora Candeia, pg. 414
O N.T. interpretado vs. por vs. Idem, pg. 415
calvino, Idem, pp. 245 e 246
Ibdem, pg. 246
Ibdem, pg. 247
O N.T. interpretado vs. por vs. Ibdem, pg. 415
Idem, pg. 416
Calvino, Idem, pg. 248
C.L.N.T.G., Fritz Rienecker, Cleon Rogers, Vida Nova, pg. 366

SOMOS O QUE FALAMOS

“O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal; pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.”

Lc. 6. 45




É uma questão de hábito. Não estamos nos referindo àquilo que se diz vez por outra e que não combina com o nosso perfil. Estas situações fogem à regra, surpreende inclusive a nós mesmos, impacta, se destaca do todo.

Somos o que pensamos e, por conseguinte, o que falamos ontem, hoje e falaremos durante toda a nossa vida. Eis a importância de verbalizar o que pensamos posto que traduz muito bem a natureza que predomina em nosso coração.

O texto mostra isto com muita clareza. Nos versículos 43 e 44 nos é dito: “não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas.”

Assim, nos vemos diante de uma realidade da qual ninguém pode escapar, ou seja, as coisas que expresso com facilidade, que preenchem os espaços de minhas conversas, que oferecem respostas quando sou inquirido, que aconselham ao que carece de orientação, são estas as coisas que definem, inegavelmente, o tipo de pessoa que eu sou, posto que torna “visível” o meu caráter, o meu coração, a mente que coordena todo o meu comportamento.

Não é apenas uma simples questão de querer ser “árvore de boa qualidade”. Trata-se de comprovar quem eu sou através do que falo, ainda que eu negue qualquer possibilidade de deixar que minha natureza corruptível suplante àquela que julgo haver sido implantada em mim, por obra do Espírito Santo.

Se penso que sou “bom”, o bom tesouro que há em mim será conhecido, mesmo que rejeitado, considerando que, na maioria dos casos, é possível estar envolto em um contexto onde predomina a maldade, a hostilidade, a degradação moral, espiritual, a indiferença, a acomodação a uma natureza humana caracterizada por um “mau tesouro”, cujo proveito está para a corrupção de si mesmo e de outrem.

Tiago diz que se alguém não tropeça na própria língua é perfeito. Obviamente, não creio que este seja um assunto que ofereça qualquer resistência; entretanto há que se lembrar que ele está tratando de “tropeçar” e não do modo de ser; caso contrário, estaríamos perante uma terrível contradição escriturística.

Isto posto, devemos nos encorajar a não desanimar quando o que falamos depõe contra nós; pelo contrário, necessitamos de uma analise honesta das questões isoladas que, embora não nos qualifiquem como “árvores más”, promovem grande prejuízo para nós mesmos e para todos aqueles que nos ouvem.

Que tenhamos o mesmo cuidado observado pelo salmista na medida em que diz: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.” Sl. 141. 3.

Rev. Marcos Martins Dias

13 novembro 2009

A CARREIRA QUE NOS ESTÁ PROPOSTA

“... corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta”
Hb. 12.1b


À medida que vencemos cada etapa de nossa vida, vislumbramos novas realidades que se descortinam perante nossos olhos, sem saber o que o futuro nos reserva, na expectativa de que experimentemos muitas coisas boas, que marcam, que deixam saudades, situações que gostaríamos de reviver e que aumentam nossas esperanças quanto ao que ainda pretendemos conquistar.

Ao longo de nosso percurso, não é de estranhar que fiquemos confusos quanto ao modo como devemos lidar com o que ainda está por vir, ou seja, pode chegar um momento em que o passado, o que já se pôde fazer, viver, desfrutar, acaba por nos deixar tranquilos, desde as menores até as maiores realidades presentes em nosso dia a dia, ou seja, é muito comum ter por certo que viveremos e faremos coisas que já tivemos a chance de concretizar, além de confiar que algo maior e melhor ainda pode acontecer.

Certamente nossa carreira não deve ser encarada de um modo pessimista, como quem vive em estado de alerta, sempre esperando pelo pior. Não é isto que está em questão. O fato relevante aqui diz respeito a uma carreira sobre a qual nenhum de nós exerce domínio, embora sejamos completamente ativos e responsáveis em cada passo que damos, em cada decisão que tomamos.

Isto, longe de ser desagradável, de gerar insegurança, medo ou qualquer outra sensação causada pelo desconhecido, remete-nos a uma situação de paz e confiança, sabendo que nossa carreira está proposta não por alguém que compartilhe das limitações características da natureza humana. Não! Aquele que nos trouxe ao mundo, que deu um propósito para a nossa existência, que garantiu que chegássemos até aqui, é também o Mesmo que já garantiu o futuro que ainda está por se revelar; e é Ele mesmo, Deus, o Supremo criador e governador do Universo que favorece o espírito humano, proporcionando-lhe paz e segurança hoje e sempre, “dando o frio conforme o cobertor ou o cobertor conforme o frio”.

Deste modo, nada melhor do que prosseguir firme e em gratidão, percorrendo com perseverança a carreira que Ele nos propôs.

Acertando e errando, aprendendo e ensinando, sorrindo e chorando, ganhando ou perdendo, a realidade é que continuamos avançando os degraus, ganhando terreno, sempre sendo favorecidos, em alguma medida, ainda que, no momento, não tenhamos qualquer condição para explicar como este maravilhoso milagre se dá em nossa vida. Refiro-me ao dilema de se conciliar a perda com o ganho, a tristeza com a alegria, os erros com os acertos etc., de tal modo que o saldo sempre seja tido por positivo, lembrando que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”.

Sendo assim, nada melhor do que terminar com o que começamos: “... corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta.”

Rev. Marcos Martins Dias