13 dezembro 2006

O EVANGELHO E O NATAL

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Mc. 16:15

Existe um certo consenso a respeito da oportunidade que o natal representa para se evangelizar e, de certa forma, não há o que contestar. A incógnita que suscito nesta reflexão diz respeito ao contexto que se repete e se avulta ano após ano, nesta época. Refiro-me a tudo que se explora hoje e o nítido contraste com o cenário que se remonta em torno da pessoa de Cristo, o Menino da manjedoura.
Não há dúvidas de que tudo à nossa volta passa por uma surpreendente e impactante transformação à medida que surgem as cores, as luzes, as músicas, os corais com suas cantatas, um brilho especial no olhar de muitas crianças, enfim, para definir em uma só palavra, eu diria, que experimentamos um certo pandemônio (tumulto, balbúrdia, confusão, rebuliço). A 25 de Março, o Brás, o Largo 13, os Shopping’s que o digam.
Minha inquietação aponta para a discrepância existente entre tudo isto e o silêncio daquela noite, o brilho de uma única estrela, o ambiente de uma família simples mas, profundamente feliz, em detrimento de estar amparada numa estrebaria, onde o canto dos anjos e a presença dos magos se misturam com a provável presença de rebanhos, o estrilar intercalado e contínuo dos grilos e, sem qualquer dúvida, o peculiar aroma do campo, sob cujo luar, floresce a Rosa de Saron, o Lírio dos vales e brilha a Estrela da manhã (“... Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã.” Ap. 22.16). Um dia que marca o início do ministério terreno que se define de um modo simples e sublime como “boas novas”, “o evangelho” (“O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.” Lc. 2:10 e 11).
Seria, no mínimo, absurdo (para não dizer ‘insano’), esperar que este mesmo quadro se repetisse para, somente então, constatar que o Evangelho continua sendo pregado; entretanto, não será menos sensato observar que todas as ênfases destes dias não têm trazido grande contribuição para restaurar na memória o verdadeiro sentido da vinda de Cristo ao mundo e os indescritíveis benefícios que isto traz para toda a humanidade e ao Povo de Deus de um modo muito especial.
Não receba estas palavras como um lamento fora de tempo. Apenas reflita no grau de contribuição que você tem dado para cumprir o mandamento de ir e pregar. Fazendo isto, será possível verificar que ainda há muito por realizar; na verdade, o desafio é crescente na medida que as situações se contrapõem, aumentando a distância, não somente entre cenários mas, especialmente entre a ênfase daquele dia memorável e do século em que vivemos.
Que Deus nos ajude a não perder de vista Aquele que deve ser conhecido, imitado, referencial de um novo caráter e obedecido em todas as coisas.
Rev. Marcos Martins Dias

30 novembro 2006

SEM BELEZA E SEM FORMOSURA

“Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse.” Is. 53:2

O quadro descrito pelo profeta Isaías nada tem a ver com todo o contexto que gira em torno desta época em que se comemora o natal.
Sem entrar no mérito relativo à famosa figura do Papai Noel, do panetone, das uvas passas, da árvore de natal, das luzes coloridas etc., basta que nos transportemos para a profecia anunciada no Velho Testamento e o seu cumprimento registrado nos Evangelhos, então concluiremos, naturalmente, que algo está errado quanto aos relatos bíblicos e as práticas observadas nesta época do ano, considerando que a incompatibilidade é perfeitamente visível.
De todas as preocupações que se tornaram alvo de reflexão e reavaliação acerca do assunto, enfatizo o indiscutível fato do desconhecimento manifestado pela maioria dos celebrantes e do inevitável resultado catastrófico desta ignorância. Apesar de toda ênfase dada ao nascimento de Jesus, a incompatibilidade a que me refiro, em nada tem contribuído para que os inesgotáveis benefícios que acompanharam o nascimento do Salvador alcancem cada residência adornada de várias maneiras, impactando as vistas mas, ao mesmo tempo, em nada contribuindo para modificar a vida de pecadores que permanecem perdidos e mais próximos da condenação eterna.
Não há dúvidas de que seria maravilhoso perceber que, em detrimento dos dois mil anos que nos separam daquele dia inesquecível, as palavras proferidas pelos anjos são o foco principal em torno do qual giram todas as comemorações, ou seja, “o nascimento do Salvador, que é Cristo, o Senhor”.
Todos nós sabemos que, pensando assim, não há muito pra comemorar, considerando que o propósito do nascimento de Cristo está, consideravelmente, distante do que se diz e o que se faz nesta época em cada ano.
Como igreja, podemos desfazer este terrível mal entendido. Para tanto, é preciso resgatar o reconhecimento dos fatos anunciados pelo profeta e desfrutar as inesgotáveis bênçãos que este conhecimento produz.
Graças a Deus, Jesus Cristo salvou, salva e continuará salvando pecadores arrependidos ainda que Ele tenha se tornado um Elemento destoante de todo o contexto que envolve o natal nos moldes em que é comemorado e explorado ao longo dos últimos séculos, por causa da nítida ignorância em que a sociedade está destinada a viver como conseqüência do pecado que a desfigurou.
Que Deus nos ajude a cumprir o mandamento de anunciar as boas novas de salvação neste contexto tão confuso onde Cristo é a Estrela Refulgente embora impossibilitado de ser contemplado por vistas ofuscadas pelo pecado que as escravisa.
Rev. Marcos Martins Dias

23 novembro 2006

GRATIDÃO

“Que darei ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?” Sl. 116.12

Ao fazer esta pergunta, o salmista não está demonstrando algum tipo de ignorância, aguardando uma resposta que lhe fosse satisfatória e esclarecedora para que, então, baseado em alguma sábia instrução, tomar a atitude de oferecer algo a Deus como demonstração de sua gratidão. Isto se nota, perfeitamente, no versículo que se segue, onde ele mesmo responde dizendo: “Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor.”
É impressionante como a nossa gratidão a Deus pelo que Ele nos fez e faz não nos põe em vantagem diante dEle uma vez que a nossa resposta nos mantém como objetos de Seu favor, como alvos de Sua graça, na medida que não há outro meio de Lhe sermos gratos a não ser inclinando, humildemente, nosso coração perante Ele, admitindo o fato de que somos pecadores e carecemos do Seu perdão, além de ficarmos livres de qualquer tipo de idolatria uma vez que Ele mesmo é quem desvenda os nossos olhos para reconhecer que não há outro que possa ou deva ser invocado e que responda às nossas súplicas e nos socorra em nossas aflições. Não há deus acima do Senhor. Não há outro em quem podemos depositar a nossa confiança e esperar com plena segurança.
Embora diariamente devamos refletir nesta questão, considerando a ocasião reservada para celebrar “o dia de ações de graças”, torna-se bastante oportuno inquirir a nós mesmos se temos compreendido que não possuimos nada que Deus já não tenha, além de admitir que nossa omissão não pode provocar qualquer tipo de empobrecimento ou diminuição de Sua Majestade e Glória, as quais sobrepujam o que de mais magnífico, exuberante e valoroso que possa ser conhecido pela mente humana. Em outras palavras, mesmo quando assumimos a postura de ser gratos a Deus pelo que quer que seja, os principais beneficiados somos nós mesmos; ao passo que, se não o fazemos, da mesma forma, nós é que somos os prejudicados pois Deus é Quem Ele é e faz o que faz independente do que pensamos, fazemos ou deixamos de fazer a Seu respeito.
De algum modo, tudo o que intentarmos oferecer-Lhe, já é dEle e a atitude de atribuir como sendo “nosso” o que se conquista nesta vida, demonstra a falta de entendimento acerca de Deus e de Sua soberania sobre tudo e sobre todos. Isto está definido claramente no Sl. 24.1 onde se lê: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.”.
Roguemos a Deus, irmãos, que sejamos esclarecidos sobre o verdadeiro sentido que a gratidão adquire quando Ele é o alvo desta nobre atitude que reveste toda a vida cristã, de modo que o reconhecimento de que nada mais somos que Seus mordomos, esteja sempre presente em nosso coração.

Rev. Marcos Martins Dias

OS MORTOS FALAM

“Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala”. Hb 11:4

A história de Caim e Abel é uma das primeiras lições que, normalmente, os crentes aprendem quando estão dando seus passos iniciais numa formação que é caracterizada por sua abrangência e profundidade, as quais vão tomando forma na medida em que vai-se transpondo barreiras e galgando os degraus da santificação, avançando de olhos fixos no alvo, o que Paulo chama de “perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef. 4.13).
É interessante notar que os pontos mais abordados a respeito destes irmãos estão relacionados ao primeiro assassinato ocorrido na história e à atitude divina em aprovar um e reprovar o outro.
No entanto, o autor aos hebreus nos chama a atenção para um fator pouco explorado. Ele trata da fé como merecedora de destaque nesta narrativa histórica e dos efeitos que se eternizaram mesmo depois que Abel foi morto.
Note que o foco não diz respeito a fatores ou méritos humanos. Termos como “excelente, justo e aprovação” são elementos empregados para reforçar a indescritível graça que Abel experimentou. O texto descreve o modo como a fé prevalece diante da impiedade a ponto de imortalizar personagens de tão pouca expressão, como é o caso de Abel, indicando que a misericórdia sempre prevalece contra o pecado, mesmo quando o preço a ser pago coloca em risco a própria vida. Abel não se deixou influenciar pelo caráter desqualificado do irmão; pelo contrário, ainda que sua natureza estivesse inclinada para o pecado, seu coração foi abrandado pela presença regeneradora do Espírito de Deus, levando-o a enxergar bem mais do que a sua vida terrena podia experimentar.
Provavelmente, o nosso caso não é muito diferente desta situação. Uma vida sem expressão, um histórico de pouco conteúdo, uma espécie de “estrela cadente”; todavia, ao levantar os olhos, veremos acima da lápide que encobrirá nossos restos mortais e vislumbraremos a mesma graça que nos envolve e o futuro que o Senhor nos reserva a ser desfrutado ao lado de todos aqueles que foram alcançados pelo poder regenerador do Espírito de Deus, os quais, ainda que estando mortos, com seu testemunho, sempre falam.
Rev. Marcos Martins Dias

09 novembro 2006

GOSTO E NECESSIDADE

“Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico” Sl. 100.2

Há muitas maneiras de colocar em prática a exortação que o salmista faz no texto em destaque; entretanto, se precisarmos indicar um modo mais convencional e habitual, provavelmente apontaríamos para o envolvimento que se tem com a igreja local por meio de seus departamentos e sociedades. No entanto, não é preciso fazer muito esforço para provar que “servir ao Senhor” é bem mais abrangente que estar comprometido com as nossas “causas locais”.
Apesar disto, não é incorreto dizer que o modo como nos comprometemos com a igreja da qual somos membros, comumente serve como termômetro para medir a qualidade da vida cristã que temos cultivado.
Além disto, é bom lembrar que este serviço deve ser feito com alegria e espontaneidade. O que não significa freqüentar a Igreja apenas por uma questão de satisfação pessoal.
É verdade que muitos, quando chegam pela primeira vez na igreja, são recebidos com um relativo carinho e, com isto, conquistados pela simpatia a qual cria um ambiente extremamente favorável, aconchegante, encorajador e que, de algum modo, contribui para que o que se faz esteja revestido de alegria.
Diante disto é sempre oportuno lembrar que tal contexto jamais deve ser a alavanca motivadora que nos leva a servir a Deus satisfatoriamente. Não é incomum ver quem freqüenta esta ou aquela igreja porque gosta dos seus cânticos, da pessoa do pregador, de sua forma litúrgica, das pessoas com quem se relaciona, enfim, o fator preponderante para deixa-la tranqüila em relação a Deus acaba sendo a sua satisfação pessoal. No entanto, os que têm um conhecimento mais acurado das Escrituras sabem que isto nunca deve ser a razão principal porque nos filiamos a uma Igreja. Esta questão tem sido a grande responsável por levar gente daqui para lá e de lá para cá, de tal maneira que, elas são como folhas levadas pelo vento, seja em busca de um afago, de um agrado, de um “sentir-se sempre bem”. É verdade que é muito bom quando podemos nos satisfazer ao mesmo tempo em que realizamos aquilo de que precisamos; todavia, o “precisar” precede o “gostar”. É fundamental pensar primeiro naquilo de que se necessita, ainda que não se harmonize com o que, normalmente, se gosta.
Assim é a estada de muitos na Igreja. Pode ser que as coisas não estejam como eu ou você gostaria, mas, somos convocados pelo salmista a servir ao Senhor com alegria e a ter sempre um cântico de louvor nos lábios. Faça isto e você verá o quanto é agradável servir ao Senhor mesmo quando as coisas não são do jeito que eu quero.

Rev. Marcos Martins Dias

06 novembro 2006

DISCERNIMENTO

“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos;” Ap. 2:2
Estes elogios foram direcionados para a Igreja de Éfeso na ocasião em que João se encontrava exilado na Ilha de Patmos.
Observe que ela é louvada por ser perseverante, por não suportar homens maus e por colocar à prova os falsos apóstolos, qualificando-os como mentirosos.
Em detrimento desta mesma Igreja haver sofrido uma censura relativa ao fato de haver abandonado o primeiro amor, suas qualidades ganharam maior destaque, os quais servem de modelo para as igrejas de todas as épocas e do mundo inteiro.
Ao contemplar o perfil da igreja contemporânea, é inevitável constatar que há grandes diferenças entre ela e a Igreja que estava em Éfeso. No lugar da perseverança, não é incomum presenciar crentes se sucumbindo na fé quando precisam enfrentar problemas. Tampouco se pode dizer que temos sido intrépidos o suficiente para não suportar pessoas que, por suas atitudes, se enquadram no mesmo perfil daqueles que aqui são chamados de homens maus; e, por fim, não é, nem de longe, ousado dizer que tem faltado coragem para rejeitar, não somente os ensinamentos heréticos que se propalam em nosso meio, como também rejeitar os próprios mentirosos que insistem em disseminar suas heresias na igreja moderna.
Certamente esta falta de firmeza tem sido, freqüentemente, a causa de tanta confusão entre cristãos. A longanimidade, a tolerância, a paciência e outros similares têm aberto espaço para que contemplemos um povo com grande dificuldade para perseverar em meio à tribulação, sem condições para discernir entre o bem e o mal e, além de outras coisas, a autoridade para apontar os heréticos e suas heresias, assim como os verdadeiros estragos que eles têm causado à Igreja do Senhor Jesus Cristo.
Precisamos fazer uma análise de duplo sentido, ou seja, avaliar a nós mesmos e também àqueles que adquirem proeminência em nosso meio por sua eloqüência, poder de persuasão e que, para nada mais servem a não ser enganar os ouvintes, desviando seus olhos do caminho apertado e da porta estreita, ao mesmo tempo em que transmitem a falsa idéia de que o caminho espaçoso e a porta larga são um conforto do qual todo crente deve desfrutar na qualidade de filho de Deus.
Urge o tempo em que devemos nos despertar para esta triste realidade e tomar as providências necessárias antes que seja tarde e sejamos alvo da censura e reprovação de Deus; por isso, rogo ao Senhor que nos ajude a agir com sabedoria e intrepidez a fim de prosseguirmos em nossa jornada com perseverança modelar e autoridade suficiente para identificar e reprovar os homens maus e heréticos que ainda se acham entre nós.
Rev. Marcos Martins Dias

25 outubro 2006

REFORMA PROTESTANTE

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” II Tm. 3.16-17

O final do mês de outubro, normalmente, é marcado pelas comemorações que se fazem nas igrejas reformadas em decorrência dos fatos históricos que se deram no séc. XVI, cuja Escritura readquiriu o seu lugar de primazia no que tange a ser o referencial para a fé em seu sentido teórico e prático, levando muitos cristãos da época a questionarem diversas práticas que não se compatibilizavam com os ensinos bíblicos.
Foi um período de grandes mudanças na história da igreja, a qual havia comprometido o seu fundamento na medida que o compartilhou com outros elementos extremamente frágeis, ou seja, a infalibilidade papal e a tradição da igreja.
Quando nos reportamos aos fatos ocorridos na ocasião, não significa que assimilamos a importância destes acontecimentos e os novos rumos que eles deram para a igreja até os nossos dias; na verdade, por vezes tenho ouvido alguns afirmarem que urge o tempo de realizarmos “uma nova reforma”.
Compreendo o que se pretende dizer e lamento o fato de ter que concordar com esta colocação. Refiro-me à realidade que vem tomando conta da igreja hodierna e que, com algumas exceções, não expressa o mesmo zelo e preocupação presentes na vida dos reformadores, os quais se deram em favor de devolver à igreja o equilíbrio que se ausentara por longos anos, retomando o lugar que a Bíblia deve ocupar na igreja cristã.
Não seria nenhum atrevimento dizer que, embora tenhamos acesso fácil à Palavra de Deus, normalmente o mesmo não se verifica na aplicabilidade de seus ensinos na vida de cada um, na medida que pomos o discurso e a prática frente a frente.
Quando compreendemos a profundidade do que o apóstolo Paulo diz a Timóteo no texto em destaque, podemos verificar que, mesmo afirmando que a Escritura é nossa única regra de fé e prática, não quer dizer que temos lhe dispensado este fundamental tratamento e, como resultado disto, acabamos por ficar expostos a múltiplas fragilidades que nos distanciam de um dos propósitos pelo qual nos foi dada esta importante revelação, ou seja, tornar-nos “perfeitos” e perfeitamente habilitados para a boa obra.
É preciso refletir no valor que a Palavra de Deus tem para a Sua igreja e rogar que nos seja dada a mesma sensibilidade de nossos antepassados a fim de nos mantermos amparados neste alicerce inerrante e infalível.
Roguemos, portanto, a Deus o mesmo espírito desbravador que impeliu os reformadores a lutarem por este ideal e nos esforcemos para que a Bíblia seja mais do que um livro de cabeceira; ao contrário disto, certifiquemo-nos de que ela tem sido um precioso instrumento para o nosso fortalecimento espiritual dia após dia.
Rev. Marcos Martins Dias

24 outubro 2006

TEORIA E PRÁTICA

“Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;... E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Lc. 15:18 e 21

Você deve estar lembrando do contexto em que as declarações acima foram feitas. Estamos tratando da parábola do filho pródigo, ocasião em que ele, depois de haver esbanjado tudo quanto requereu de seu pai, foi parar na sarjeta a ponto de “desejar” comer o alimento que era oferecido aos porcos, dos quais tomava conta.
Isto é um retrato da condição que o pecado gerou em toda a raça humana e a indicação da providência a ser tomada para reverter sua triste situação.
Note que, embora as duas afirmações sejam exatamente iguais, elas se deram em momentos diferentes. A primeira se passou no momento mais difícil experimentado pelo jovem inconseqüente e é resultado de uma profunda reflexão que o levou a falar de si para si mesmo. A segunda, entretanto, é a execução do que havia sido planejado, ou seja, depois de haver constatado a gravidade do estado em que se encontrava, decidiu o que fazer e, de fato, levantou-se e regressou para a sua casa, fazendo o que estava proposto em seu coração.
Ao retornar, de longe foi visto pelo pai que correu ao seu encontro, abraçou e o beijou insistentemente, perdoando-lhe a atitude intempestiva que o levou a sofrer a vergonha de “guardar porcos” (uma abominação para o judeu).
Observe que o texto aponta duas coisas de vital importância para o nosso aprendizado: 1. Verifica-se que houve, em seu coração, sensibilidade suficiente para reconhecer o mal que havia feito e também o único meio de tentar reparar seu erro; 2. Suas intenções foram levadas a efeito e, conseqüentemente, deixou para trás todo o embaraço e o pecado que havia cometido contra o seu progenitor.
O que se espera de todo homem em relação a Deus, não é nada diferente, considerando que todos nascem com uma natureza totalmente inclinada para a prática do pecado e, em decorrência disto, o estado de desespero pela iminente condenação que aguarda por todo aquele que se mantém impenitente.
É muito bom poder reconhecer o erro e identificar a única forma de repará-lo; entretanto, este legítimo reconhecimento sempre leva a uma tomada de atitude, ou seja, se alguém vive a lamentar as falhas cometidas e se atém apenas ao reconhecimento do que deve ser feito, certamente jamais poderá experimentar o perdão e toda a mudança desejada; pelo contrário, da sarjeta em que se encontra será arremetido para o tormento eterno em lugar do refrigério imaginado.
Que Deus nos ajude a fazer mais do que refletir sobre nossos erros, estimulando-nos a tomar atitudes que nos conduzam ao indispensável perdão.

Rev. Marcos Martins Dias

17 outubro 2006

SOLIDARIEDADE

“Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte.” Is. 41:6

Este versículo faz parte de um conjunto de passagens bíblicas preferidas por muita gente. Não sei dizer ao certo o número de vezes em que o versículo foi usado para estimular os crentes a se fortalecerem mutuamente. Entretanto, mesmo aquele que não recebeu qualquer formação acadêmica, principalmente na área teológica, perceberá que o contexto em que ele está inserido não diz respeito à união entre servos de Deus; pelo contrário, trata-se de uma confiança cega depositada em falsos deuses, na esperança de que recebessem livramento das mãos de Ciro, o rei da Pércia, o qual se fortalecia cada vez mais pelas conquistas obtidas em suas batalhas contra inúmeras nações.
Tomados pelo pavor, um idólatra ajudou ao outro no trabalho de fabricar o seu próprio ídolo, estimulando-o a fortalecer sua confiança conforme diz o versículo seguinte: “Assim, o artífice anima ao ourives, e o que alisa com o martelo, ao que bate na bigorna, dizendo da soldadura: Está bem feita. Então, com pregos fixa o ídolo para que não oscile.”
Qualquer pessoa, cujas faculdades mentais estejam em ordem, verificará que: 1. A criatura (o ídolo) não é maior que o seu criador (o idólatra); 2. Um ídolo que precisa ser fixado (neste caso com pregos) para garantir a sua sustentação, não reúne a mínima condição de proteger quem quer que seja e do que quer que seja; 3. A evidente mediocridade percebida neste comportamento é uma simples demonstração da força que o pecado exerce sobre a capacidade de raciocinar, cauterizando mentes, provocando surdez e cegueira espirituais.
Alguém poderá dizer que estou tratando de um assunto muito óbvio. No entanto, como explicar a diferença entre a pronta disposição em fortalecer este vínculo pecaminoso e a incômoda desunião que, notadamente, tem enfraquecido a relação de muitos que se declaram adoradores do Verdadeiro Deus?
Inconscientemente, na medida que este texto é citado, os idólatras são postos na condição de modelo para a igreja quanto ao mútuo encorajamento e solidariedade que devem nortear todo o nosso relacionamento.
Diante deste fato, precisamos fazer mais do que perguntar: “se Deus é por nós, quem será contra nós?”, ou seja, ainda que não precisemos temer o adversário, sem dúvida, necessitamos avaliar a fragilidade de muitos de nossos relacionamentos, tendo a indispensável humildade para pedir e receber amparo, assim como estar sempre dispostos em oferecer ajuda a todo aquele que se nos apresenta como carente de auxílio, sucumbindo em meio às suas dificuldades, gritando silenciosamente, por socorro.
Envidemos esforços para obter esta sensibilidade e, voluntariamente, carregarmos as cargas uns dos outros com o objetivo de estarmos, realmente, fortes.
Rev. Marcos Martins Dias

16 outubro 2006

CUIDADO NO FALAR

“Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que o contamina.” Mt. 15.11


Normalmente as pessoas se preocupam com o tipo de alimentação que têm ingerido. Na verdade, a comida deixou de ser apenas uma necessidade e tornou-se um instrumento de prazer, adquirindo múltiplas cores, formas e sabores, impactando o olhar e explorando bem mais o desejo, sem levar em conta os benefícios ou os males que podem ser causados ao organismo.
Certamente se determinado alimento é inadequado, os prejuízos para a saúde são inevitáveis; entretanto, a extensão dos danos ocasionados concentra-se na pessoa do próprio consumidor, ainda que traga alguma espécie de males para os outros que estão à sua volta, em função de uma possível mobilização que visa solucionar o problema, seja ele qual for. Mas, a grande questão não está naquilo que entre pela boca, mas no que sai. Os problemas são infinitamente maiores quando os lábios não são instrumentos para a edificação dos ouvintes.
Aquilo que se diz pode atingir a alma, influenciar na formação do caráter e contribuir para o bem ou para o mal, edificando na medida que se manifesta a vontade de Deus ou criando um rastro de morte e destruição se o que está sendo disseminado é desprovido do conhecimento das Escrituras e agravado pela falta de bom senso para enxergar os desdobramentos futuros, as conseqüências de algo dito fora de tempo e de um conteúdo que pode ser letal.
O que sai da boca pode ser comparado a uma pequena fagulha que põe fogo numa floresta inteira, o qual ninguém consegue apagar. Mas, também, pode estar revestido de graça e, conseqüentemente, produzir a edificação na vida dos que ouvem.
É sempre oportuno inquirir a nós mesmos sobre a qualidade das coisas que dizemos e o objetivo que pretendemos atingir, observando se temos sido bons instrumentos para o bem de todos ou se o que importa é apenas falar, independente dos resultados que isto causará.
Que Deus nos ajude a refletir com seriedade sobre este assunto e a rogar incessantemente para que Ele ponha “guardas em nossa boca”.


Rev. Marcos Martins Dias

13 outubro 2006

QUEDA DE AVIÃO DA GOL E ELEIÇÕES

“Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai.” Mt. 10:29

É incrível como as eleições deste ano tiveram que disputar espaço na mídia com a histórica tragédia ocorrida em Mato Grosso, envolvendo o avião da GOL onde 155 pessoas perderam a vida.
Duas situações extremamente distintas, mas igualmente subservientes à vontade de Deus que, conforme o texto acima, exerce o governo de todas as coisas que foram criadas, mesmo as que julgamos de menor importância.
Não é constrangedor mencionar a segurança que tomou conta do atual Presidente da República em relação à conquista de sua eleição em primeiro turno, a qual foi frustrada por uma pequena margem percentual de votos, levando-o a ter que enfrentar um segundo momento, onde as urnas revelarão o seu destino. Note a semelhança e o contraste entre este fato e a situação dos que embarcaram em Manaus com destino a Brasília e Rio de Janeiro, no último dia 29. Eles também estavam seguros de que chegariam aos seus respectivos destinos; mas, por uma pequena margem de erro (não se sabe ao certo de quem), não terão uma segunda chance para retomar o rumo perdido posto que com a queda do Boeing 737 no qual viajavam, tiveram suas vidas ceifadas abruptamente e, conseqüentemente, adentraram a eternidade e se depararam com um destino inesperado, embora, previamente estabelecido por Deus.
Além do texto que destacamos acima, há muitos outros que servem como fundamento para esclarecer fatos como estes; no entanto, a meu ver, outra passagem muito oportuna é a que se encontra em Tg. 4.13-15, onde se diz: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo.”.
Querer ignorar a ativa participação de Deus nas coisas que se nos ocorrem continuamente, não muda a realidade dos fatos. Resta-nos apenas agir com responsabilidade, sabendo que não estamos entregues ao acaso. Nossos passos são “conhecidos” (conduzidos) em direção a um propósito que excede os projetos que estabelecemos em relação ao futuro.
Como igreja de Cristo, abraçamos esta realidade com alegria e segurança, confiados que Aquele que tem o “leme” de nossas vidas em Suas mãos jamais será frustrado e nos conduzirá seguros nesta vida e após a morte.
Rev. Marcos Martins Dias