“...Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!” Tg. 3. 5
Quando se é convocado para fazer um balanço a respeito do passado próximo, vivido ao longo de mais um ano, é muito comum se ater às atitudes. Coisas que foram feitas e outras que ficaram por fazer. Não se observa muito o comportamento de se abrir um pouco mais o leque e avaliar o que dissemos e o que deixou de ser dito.
Em ambos os casos, deve-se incluir o que tornou nossa vida melhor e contribuiu para melhorar a qualidade de vida de quantos se relacionam conosco, assim como também é preciso ser honesto o suficiente para admitir o quanto ficamos prejudicados por nós mesmos, por nossas atitudes e por nossas palavras. Mais do que isto. É preciso ser honesto bastante para reconhecer o grau de prejuízo que causamos a outros que confiaram em nós, em nossas atitudes e em nossas palavras.
Certamente é muito difícil rever situações já concretizadas e que precisam ser modificadas, posto que, em muitos casos a situação é irreversível, principalmente em relação ao que foi dito.
Normalmente, não se pode voltar atrás, desfazer qualquer dano que tenha sido ocasionado por algo que falamos. Entretanto, não será uma análise correta se não considerar seriamente esta realidade.
Note que, segundo o que está posto por Tiago, a questão é tão importante que se compara ao fogo e à floresta. Tenha-se por base as grandes queimadas ocasionadas pelo rigoroso calor do verão australiano e americano. É difícil saber onde e como começou; entretanto, as proporções dos estragos são de causar pavor e tudo que o fogo consumiu nunca mais será como antes.
Eis o modo como devemos enxergar o que não deveria ter sido dito, que não trouxe qualquer edificação pessoal e alheia, que inflamou a mim mesmo e a outrem, que contribuiu para separar pessoas em vez de uni-las, que maculou a imagem de alguém em vez de enobrecê-la, que produziu ódio em vez de amor, que criou novos inimigos em vez de amigos, que destruiu em vez de construir.
É um fogo que não se pode apagar. É algo que pode apenas ser amenizado por torrentes de águas derramadas para apagar as chamas em detrimento de não aniquilar as cinzas que elas deixam. É um dano que só se pode solucionar pelo perdão. Atitude esta que, obviamente, é precedida pela sensibilidade necessária para admitir que eu incendiei, eu falei ou então, também pode ser totalmente descartada se eu simplesmente ignorar as chamas que se avultam em volta de mim e a desgraça que me acometeu e que consome pessoas que eu deveria edificar.
Neste pequeno e simples balanço, é provável que cheguemos à conclusão de que falamos mais do que ouvimos. Isto será muito natural. Está arraigado em nós. Está posto de modo muito claro em Tiago 3. 2, onde se diz: “Se alguém não tropeça no falar é perfeito varão, capaz de refrear também todo o seu corpo.”.Ele diz ainda mais: “a língua,..., nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela bendizemos ao Senhor e Pai; também como ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus:” (8 e 9).
A partir desta realidade comum a todos os mortais, resta apenas refletir sobre a nossa propensão quanto ao falar e computar os “lucros” e os “prejuízos” a fim de se tomar alguma atitude e ser livre do veredito constante no versículo 6, onde ele diz: “... e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como é posta ela mesma em chamas pelo inferno.”
Se eu sou responsável por um fogo que já não posso apagar, então eu preciso, pelo menos ter a humildade para suplicar perdão e também perdoar.
Que Deus faça de nossos lábios uma fonte a jorrar água doce suficiente para apagar os malefícios que acompanham águas amargas, a ponto de rogar continuamente: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.” Sl. 141. 3.
Rev. Marcos Martins Dias
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