16 fevereiro 2008

SOZINHO

“Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta!” I Tm. 4. 16

Estamos diante de uma situação vivida pelo apóstolo Paulo, nem sempre, muito explorada por expositores da Escritura. Fala-se muito sobre sua conversão, suas viagens missionárias, seus sofrimentos ocorridos ao longo do seu ministério, inclusive suas prisões, mas não com um enfoque especial nesta etapa de sua vida.
É sabido que Paulo vinha de um processo muito desgastante em busca de um julgamento justo perante César, o Imperador de Roma; entretanto, apesar de fazer sua própria defesa, o fato de o vermos encarcerado novamente é uma prova de que seus intentos quanto à sua absolvição não haviam sido alcançados.
É certo que a expressão “todos me abandonaram” tem uma força que surpreende os conhecedores de quantos o apoiaram ao longo de sua carreira; entretanto, a ênfase recai sobre um período que envolve a fase final de sua vida e que, por motivos especulativos, não há outra conclusão a se chegar a não ser a que encontramos no texto. Não é preciso buscar motivos, porque alguns estão enumerados aqui mesmo; outros, entretanto, devem estar relacionados a fatores como o despreparo de seus seguidores, à fraqueza de caráter e, dentre outras coisas, à própria adequação a uma situação que, mesmo que cause forte impressão, susto e preocupação no início, com o tempo, vão cedendo lugar para uma acomodação tal que, mesmo os sofrimentos relacionados à prisão podem ser vistos como mais uma triste experiência ministerial.
O que temos aqui, independente da precisão das informações que precedem esta situação, é a realidade de que o grande apóstolo Paulo encontrava-se na prisão com claras demonstrações de “sentimento de abandono”, com uma fé inabalável e lembrando que, Deus era sua companhia inseparável, ao passo que muitos irmãos seguiram seus próprios caminhos, levando-o a fazer esta declaração que evidencia um raro sentimento de solidão durante as fases mais complicadas de sua vida.
Não tenho dúvidas que há muito para ser explorado no texto; entretanto, minha intenção é levar cada uma a pensar na proporção em que temos feito de forma parecida, deixando de acompanhar homens e mulheres que prestaram e ainda prestam relevantes serviços ao Reino de Deus e que, por outro lado, de algum modo, encontram-se “abandonados” por muitos de nós. Pior que isto, é notar que é mais comum ainda concentrar a atenção em nós mesmos e nos qualificarmos como vítimas da solidão, esquecendo-se que mesmo quando ela se manifesta como um silêncio a ecoar dentro de um coração sempre favorecido pela companhia de inúmeras pessoas, sua expressão maior continua sendo o cárcere, o hospital, o asilo, as calçadas, os centros de reabilitação, dentre outros locais que muitos pés de vários expoentes das Escrituras ainda não conheceram ou não têm o hábito de prestar assistência a pessoas em situações assim.
Termino apenas perguntando se, após uma séria reflexão sobre este assunto, a que tipo de conclusão seríamos levados a chegar? Estamos sozinhos ou temos deixado muitos irmãos nossos, dentre outras pessoas na condição de “abandonadas” por nós?

Rev. Marcos Martins Dias

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