05 julho 2007

UM ESPELHO EM MINHAS MÃOS

“Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência.” Tg. 1.23 e 24

Todo crente que se preze, no mínimo, possui uma bíblia como ferramenta fundamental para o exercício da vida cristã; e assim como é comum e normal notar que esta é uma antiga característica dos evangélicos, também é comum perceber a constância com que ela é utilizada para avaliar pessoas, circunstâncias, doutrinas sem, antes, cumprir o seu propósito primário que é avaliar o seu próprio possuidor. Uma regra que, como tantas outras, tem a sua exceção.
Ao constatar este fato considerado comum, o bom senso nos alerta quanto ao caráter anômalo deste modo de manipular a Palavra de Deus.
Sem descartar a realidade de que ela deve ser sempre objeto de estudo, o ponto que procuro enfatizar diz respeito à perda de sua utilidade primária que é servir como uma espécie de espelho de seu próprio usuário.
Esta é uma clara advertência contida na epístola de Tiago que, na minha opinião, encontra um vasto e fértil campo onde têm se multiplicado os que possuem um espelho nas mãos com o objetivo de analisar as coisas de um modo regressivo até cumprir o fundamental objetivo de refletir a imagem de quem a tem em sua mãos. Isto sem abordar o terrível risco de enxergar a si mesmo a partir de uma visão tão fortemente preconcebida interiorizada que leva os olhos a enxergarem o que o espelho, na verdade, não mostra, gerando conclusões erradas e atitudes equivocadas impedindo de se ter uma idéia realista a cerca de si mesmo.
Davi é um bom exemplo a ser utilizado aqui. Em determinada ocasião, ele passou pelo crivo deste “espelho” por duas vezes consecutivas. Na primeira, pensou ver claramente a figura de um pecador incauto e abastado que arrancou uma ovelhinha das mãos do vizinho pra oferecer aos seus convidados. Num segundo momento, quando o profeta Natan vai direto ao assunto, os olhos do rei percebem que o monstro configurado em sua mente era simplesmente o seu próprio reflexo. A partir daí pode-se compreender o sentimento que tomou conta de si através de expressões como “Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.” (Sl. 51.3)
Cuidemos pra que não se nos ocorra estar tão concentrados com o que se passa ao redor a ponto de esquecer de avaliar a nós mesmos. Cuidemos para que a Palavra de Deus seja analisada com prudência, seriedade, refletida demoradamente e, dentre outras coisas, seja utilizada para reparar nossas próprias deformidades antes de ser empregada para descrever e nos orientar quanto aos fatos, pessoas, doutrinas e circunstâncias exteriores.

Rev. Marcos Martins Dias

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