18 novembro 2015

METÁSTASE DO TERROR

"Sabe, porém, isto; nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis," (II Tm 3. 1)


Você já observou a dificuldade que as autoridades têm demonstrado em apontar o caminho para solucionar a proliferação do terror ao redor do mundo?...
 

Eu já. Imaginei o mundo como alguém que sofre, inicialmente, de um tumor maligno, o qual ao atingir o caráter de uma metástase, se transforma em algo incontido.
 

Assim o mundo tem se tornado. Ainda que se combata o terror aqui ou acolá, ele surgirá em outro lugar.
 

É preciso estar seguro de que, embora os tempos sejam difíceis, Deus permanece no controle, conduzindo tudo para o desfecho que Ele mesmo já estabeleceu.
 

Nisto reside a nossa esperança: A certeza de que o mal jamais prevalecerá porque Cristo já venceu e, com Ele, a Sua amada Igreja.
 

Prossigamos, sem alarde, desespero ou o que quer que seja que teste a nossa fé. Em breve Ele virá e assim, o mundo com toda a sua crueldade perecerá.

Rev. Marcos Dias

13 outubro 2015

DISCORDANDO DE DEUS

“não atende a ninguém, não aceita disciplina, não confia no Senhor, nem se aproxima do seu Deus.” Sf. 3.2

O modo como se aborda a respeito das manifestações teofânicas ao longo da história, por diversas vezes deixa a impressão do desejo de fazer parte do quadro e, não somente contemplar os momentos maravilhosos em que Deus falou clara e diretamente ao Seu povo mas, também dá a impressão que a nossa disposição para a pronta obediência a tudo quanto Ele disse é incontestável. Entretanto, embora se concorde que o Senhor continue falando através dos séculos, parece que a inclinação para tomar rumos diferentes daqueles apontados por Ele retratam uma realidade presente, a qual também seria observada mesmo diante dos impactos causados por Suas incontáveis manifestações sobrenaturais.

As condições dos judeus no contexto do cativeiro babilônico são uma demonstração concreta da tendência humana em fazer sua vontade prevalecer contra Deus e Seus mandamentos, mesmo sofrendo duramente o preço desta atitude tão insana, considerando que aceitando ou não, concordando ou discordando, é como diz o profeta Daniel: “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem dizer: Que fazes?” (Dn. 4. 35).

Moisés teve audácia suficiente para discordar de Deus. Jeremias também o fez ao considerar-se inabilitado quando foi chamado. Jonas, juntou seus pertences e demonstrou sua discordância seguindo para Társis e, dentre tantos outros exemplos, não apenas um homem mas, todo o povo fez mais do que ignorar os caminhos apontados por Deus. Suas decisões caracterizam um comportamento de franca rebeldia e insistência em permanecer em caminhos moldados segundo os ditames de sua própria consciência.

Creio que, apesar das diferenças ocasionadas pelo tempo e espaço que nos separam desta realidade jamais esquecida, cada dia que passa, cada movimento que surge, cada declaração feita acerca de Deus, cada atitude demonstrada pela igreja hodierna, retratam um comportamento de semelhante discordância de Deus e de Sua vontade na medida que se “determina”, “toma-se posse”, “enfatiza-se determinadas promessas descontextualizadas”, “estabelece-se quando, onde, como e em quem Deus fará isto ou aquilo”, dentre tantas outras anomalias geradas pelo mesmo mau que anulou a sensibilidade dos judeus e que os subjugaram a uma dura disciplina que marcou época e jamais será esquecida.

Podemos optar por seguir o mesmo destino cruel e amargar a ação disciplinadora de Deus sobre nós ou admitir que, embora pensemos conhecer Deus e Sua vontade, podemos estar tomando uma direção completamente oposta ao que se espera de nós quanto a permanecermos dentro dos padrões divinos, revestidos de Sua aprovação, bênção e direção em tudo quanto realizarmos.

Busquemos a humildade necessária para refletir sobre isto e investirmos num relacionamento de concordância com a vontade de Deus para nossa vida.

Rev. Marcos Martins Dias

ELE TEM CUIDADO DE VÓS

"Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós." I Pedro 5 : 7

Há muitas situações em nossa vida onde parece que estamos entregues ao acaso, numa trajetória onde o futuro é incerto e a nossa inclinação pende mais para uma visão pessimista do que para portas que poderão se abrir, soluções que poderão surgir, vitórias e conquistas maiores do que as que desejamos, esperamos e lutamos para atingir.

Nos empenhamos de tal maneira que envidamos grandes esforços para cuidar de nós mesmos, correndo sério risco de nos esquecermos o quanto Deus está ocupado em tratar de cada um dos nossos assuntos pessoais.

Parece muito fácil dizer estas coisas com o propósito de encorajar-nos em situações onde não parece haver qualquer esperança; entretanto, não é em vão que a Escritura afirma que devemos viver por fé e sem fé é impossível agradar a Deus. Assim, embora as palavras de encorajamento sejam realmente relativamente fáceis de serem ditas, colocá-las em prática é outra história.

Porque o exercício da fé é extremamente desafiador.
O que fazer quando nos vemos nesta terrível encruzilhada? Cremos em Deus, sabemos que Ele é capaz de fazer o impossível mas, ao mesmo tempo, nos vemos entre um emaranhado de problemas que parecem nunca terminar? Deus não sabe a respeito das coisas que eu estou enfrentando?

A Bíblia não somente diz que Ele sabe, como diz ainda que Ele cuida de nós. Ela também nos exorta a lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade.

Não há outro modo de compreender as constantes inquietações e preocupações que rondam a nossa porta a não ser estando conscientes que trata-se de uma questão de fé somente. Este é o grande ponto em questão. Precisamos aprender a exercitar a nossa fé, parar de perguntar a Deus acerca dos Seus motivos, parar de tentar entendê-los e, simplesmente “lançar sobre Ele a nossa ansiedade”.

Fazendo isto, não somente teremos paz no coração, como estaremos dando provas suficientes de que nossa relação com Deus não é algo superficial. Pelo contrário, a sua intensidade vai muito além daquela que desenvolvemos com o nosso semelhante. Ele não nos fornece uma falsa segurança, uma esperança que se frustra, não nos dá nada esperando algo em troca, não nos deixa sozinhos quando todos nos abandonam. Ele cuida de nós. Ele promete dar estrutura para atravessar vales sombrios, modifica nosso modo de compreender a vida e nos eleva a um nível bem mais elevado que nossos “grandes problemas”.

Jamais nos esqueçamos que, ainda que sejamos relutantes frente às nossas adversidades, Ele permanece cuidando, carinhosamente, de nós.

Rev. Marcos Martins Dias
MÊS DA REFORMA PROTESTANTE

Outubro é o mês em que se comemora a Reforma Protestante ocorrida no Sec. XVI. Mais precisamente no dia 31 de outubro.
Voltemos à Bíblia!!! Esta foi e permanece sendo a mais importante questão no que diz respeito ao posicionamento da Igreja diante das inumeráveis propostas religiosas, filosóficas, políticas, sociais, éticas em geral.
...
Reflitamos nas recomendações dadas pelo apóstolo Paulo em II Tm 3 e consideremos a semelhança dos males enfrentados na ocasião com as inumeráveis dificuldades que estão diante de nós, hoje.
Por fim, nos apliquemos à observância das mesmas recomendações dadas a Timóteo, ou seja, "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." II Tm 3. 14 - 17
Que o Senhor nos conceda a sabedoria de que precisamos para tratar as Santas Escrituras com seriedade, tendo-a como o Fundamento principal de todas as nossas convicções e Elemento norteador de toda a nossa conduta.

Rev. Marcos Dias

25 setembro 2015

O DINHEIRO E A FÉ
"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores." I Tm. 6. 10
Note que ele não é o problema em si mesmo. Na verdade, na maioria dos casos, representa a solução.
A questão que surge é se nos utilizamos dele ou nos deixamos ser utilizados por ele, caindo na questão censurada pelo apóstolo Paulo.
Quando há uma inversão de valores, os resultados podem ser catastróficos. Se temos muito, o amor enfraquece, a fé é relativa, a felicidade é questionável, a bem aventurança se dissolve e em vez de felizes, somos alvo de toda espécie de males e, como Paulo diz, por causa do amor ao dinheiro, nossos passos podem ser desviados, além de padecermos de muitas dores. Isso explica porque tanta gente que já teve tanto, chegou ao extremo de dar cabo da própria vida, apesar de todo o acúmulo de riquezas adquiridas neste mundo. Se, por outro lado, o dinheiro nos falta, nesta inversão de valores, nos sentimos no fundo do poço, verdadeiros miseráveis, sofredores. O mundo parece perder a sua cor, a vida perde o seu sabor, nada parece caminhar bem. O amor, igualmente, enfraquece, a fé se abala, a alegria se esvai e a bem aventurança simplesmente desaparece.
Como avaliar estas coisas se uma das primeiras áreas da nossa vida afetadas por este desequilíbrio é a própria sensibilidade para fazer análises bíblicas, precisas, verdadeiras, diagnosticando os problemas que nos cercam, priorizando a nossa própria condição em situações extremas.
Jamais haverá outro caminho para uma retomada de equilíbrio a não ser enfrentar cada dia da nossa vida, na certeza de que Deus tem cuidado de nós, buscando a maturidade de pessoas como Habacuque que afirma: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os meu pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente. Hq 3. 17 – 19
Avante, irmãos! Avante! Busquemos o auxílio na Única Fonte em que ele pode ser encontrado. Acheguemo-nos a Deus com espírito resignado, nada esperando receber, mas sempre dispostos a dispor de tudo o que nos foi emprestado para servi-Lo ao longo da nossa jornada nessa vida.
Rev. Marcos Martins Dias

07 agosto 2015

PEGADA, UMA TERRÍVEL FURADA - Por Marcos Dias

UMA PEGADA TRAIÇOEIRA
Quando penso que já vi de tudo, sempre surge algo para fazer-me sentir mais ultrapassado do que tenho imaginado.
Final de férias, assistindo ao jornal da tarde, eis que, no intervalo, surge uma linda morena dando cor e vida à nova onda da "pegada". Desde que se esteja protegido com a "Olla", "tá" tudo bem.
Assusta, preocupa mas, infelizmente, não surpreende. Aprendi que "pegada" adquiriu mais um significado; ou melhor, aprendi que "fornicação" tem uma nova definição.
Aprendi que se a expressão "use camisinha" repele a muitos, se o termo "ficar" pode ser brega, a moda então é a "pegada".
Com tanto aprendizado fico feliz em constatar que o sétimo mandamento continua bem arraigado na mente e coração. A ordem que sobrepuja a todos os modismos e desvios comportamentais que conduzem muitos a uma verdadeira libertinagem. NÃO ADULTERARÁS. É simples e fácil de gravar mas, sua inobservância é o começo de um terrível precipício camuflado de muitas maneiras.
Não me surpreenderá se, em breve, a "Olla" e seus similares vierem associados à relação homoafetiva, invadindo os lares por meio dos comerciais veiculados livremente assim como a ideia da "pegada" se propala sem qualquer consideração para com aqueles que, como eu, cultivam o conceito "medieval" de família e a necessidade de preservá-la.
É proibido usar os canais de comunicação para divulgar, em qualquer horário, o cigarro, o álcool e, em nenhuma hipótese, a maconha, a cocaína, o craque etc.? Qual é, então, o critério para liberar a divulgação de tudo que esteja relacionado à prática do sexo de maneira irresponsável como se tem observado?
Com "Olla" ou sem ela, essa pegada é uma verdadeira furada.
Que me perdoem os de opinião contrária mas, essa terrível controvérsia não será facilmente resolvida e, como dizia meu "mano velho", "deixe estar. O tempo dirá".
Rev. Marcos Martins Dias

06 agosto 2015

PRESBITERIANISMO - Por Alderi Souza de Matos

Presbiterianismo


ORIGENS HISTÓRICAS DO PRESBITERIANISMO

Alderi Souza de Matos

Introdução

As origens históricas mais remotas do presbiterianismo remontam aos primórdios da Reforma Protestante do século XVI. Como é bem sabido, a Reforma teve início com o questionamento do catolicismo medieval feito pelo monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) a partir de 1517. Em pouco tempo, os seguidores desse movimento passaram a ser conhecidos como “luteranos” e a igreja que resultou do mesmo foi denominada Igreja Luterana.

Poucos anos após o início da dissidência luterana na Alemanha, surgiu na região de língua alemã da vizinha Suíça, mais precisamente na cidade de Zurique, um segundo movimento de reforma protestante, freqüentemente denominado “Segunda Reforma.” Esse movimento teve como líder inicial o sacerdote Ulrico Zuínglio (1484-1531) e, pretendendo reformar a igreja de maneira mais profunda que o movimento de Lutero, passou a ser conhecido como movimento reformado, e seus seguidores como “reformados.” Assim sendo, as igrejas derivadas do movimento auto-denominaram-se igrejas reformadas.

Apesar do seu aparente radicalismo, Lutero e seus seguidores romperam com a igreja majoritária somente nos pontos em que viam conflitos irreconciliáveis com as Escrituras. Especialmente na área crucial do culto, os luteranos julgavam que era legítimo manter tudo aquilo que não fosse explicitamente proibido pela Bíblia. Já os reformados partiam de um princípio diferente, entendendo que só deviam abraçar aquilo que fosse claramente preconizado pelas Escrituras. Foi isso que os levou a uma ruptura mais profunda com o catolicismo.

1. João Calvino

Após a morte de Zuínglio em 1531, o movimento reformado passou a ter um novo líder, que revelou-se muito mais articulado e influente que o anterior: João Calvino (1509-1564). Calvino nasceu em Noyon, no nordeste da França, e ainda adolescente foi estudar teologia e humanidades em Paris. Depois de um breve período em Orléans e Bourges, quando dedicou-se ao estudo do direito, retornou a Paris para dar continuidade aos estudos humanísticos que tanto o fascinavam. Em 1532, publicou o seu primeiro livro, um comentário do tratado de Sêneca De Clementia.

O humanismo que empolgou os primeiros líderes das igrejas reformadas, Zuínglio e Calvino, foi o extraordinário movimento intelectual que marcou a transição entre a Idade Média e o período moderno. Uma das características marcantes desse movimento foi o seu profundo interesse pela antigüidade clássica, o período áureo da civilização greco-romana. Entre as obras clássicas que atraíam a atenção de muitos estava a Bíblia, particularmente o Novo Testamento. Isso levou ao surgimento de uma categoria específica de humanistas bíblicos devotados ao estudo das Escrituras em seus originais gregos e hebraicos. O maior desses humanistas cristãos foi o célebre Erasmo de Roterdã (c.1466-1536), cuja edição crítica do Novo Testamento baseada em textos gregos foi avidamente estudada e utilizada pelos reformadores suíços.

Em 1533, Calvino teve uma experiência de conversão à fé evangélica. Forçado a fugir de Paris por causa das suas novas convicções, dirigiu-se para a cidade de Angoulême. Pouco depois, começou a escrever a sua obra magna, a Instituição da Religião Cristã ouInstitutas, publicada em Basiléia em 1536. Nesse mesmo ano, de maneira totalmente inesperada, Calvino viu-se convocado a auxiliar a implantação da fé reformada na cidade de Genebra, na Suíça francesa. Após um interregno de três anos em Estrasburgo (1538-1541), o reformador retornou a Genebra e ali permaneceu até o final da sua vida.

Graças a sua vasta e competente produção teológica, sua habilidade como organizador e seus contatos pessoais com inúmeros indivíduos e comunidades em toda a Europa, Calvino exerceu uma poderosa influência e contribuiu para a disseminação do movimento reformado em muitos países. Em 1559, ele fundou a Academia de Genebra, que colaborou decisivamente para a formação de toda uma nova geração de líderes reformados. Dada a importância desse reformador, um novo termo surgiu para designar os reformados: “calvinistas.”

Nas Institutas, comentários bíblicos, sermões, tratados e outros escritos que produziu, Calvino articulou um sistema completo de teologia cristã que ficou conhecido como calvinismo. Esse sistema incluía normas específicas, retiradas das Escrituras, acerca da doutrina, do culto e da forma de governo das comunidades reformadas. Na base do sistema estava a ênfase no conceito da absoluta soberania de Deus como criador, preservador e redentor do mundo. A estrutura eclesiástica preconizava o governo das comunidades por presbíteros e a associação das igrejas em presbitérios regionais e em sínodos nacionais.

2. Europa Continental

Logo após o início da carreira de Calvino, o movimento reformado começou a difundir-se em muitas regiões da Europa, notadamente na França, no vale do Reno (Alemanha e Países Baixos), na leste europeu e nas Ilhas Britânicas. Vários fatores contribuíram para essa difusão. Em primeiro lugar, a ampla divulgação das idéias de Calvino através da imprensa e de outros meios; em segundo lugar, o intenso deslocamento de refugiados que procuravam escapar da repressão religiosa em seus países; finalmente, o papel irradiador desempenhado por Genebra e outras cidades reformadas. Muitos homens e mulheres iam a Genebra, eram treinados nos preceitos da fé reformada e retornavam aos seus países imbuídos das novas idéias.

Como era de se esperar, Calvino nutria grande interesse pela propagação da fé evangélica no seu próprio país, a França. Ali, apesar de intensas perseguições, o movimento reformado experimentou notável crescimento na década de 1550. Em 1559, reuniu-se o primeiro sínodo da Igreja Reformada de França, representando cerca de duas mil comunidades locais. Pela primeira vez, o presbiterianismo era organizado em âmbito nacional. Esse sínodo aprovou uma importante declaração da fé reformada, aConfissão Galicana.

Muitos dos reformados franceses, conhecidos como huguenotes, eram artesãos, comerciantes e nobres, e estavam concentrados principalmente no oeste e sudoeste do país. Seus conflitos políticos com o partido católico liderado pela família Guise-Larraine levaram a um longo período de guerras religiosas (1562-1598). O episódio mais sangrento foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572), em que milhares de huguenotes foram mortos à traição em Paris e no interior da França, entre eles o famoso almirante Gaspard de Coligny. A paz só foi restaurada em 1598, quando o rei Henrique IV, um ex-huguenote, promulgou o Edito de Nantes, concedendo liberdade religiosa aos reformados. Esse edito foi revogado por Luís XIV em 1685, fazendo com que cerca de 300 mil huguenotes abandonassem a França.

Em virtude da proximidade geográfica, o movimento reformado desde cedo também penetrou no sul da Alemanha. O movimento cresceu com a chegada de milhares de refugiados vindos de outras regiões, como a França e os Países Baixos. Estrasburgo foi um importante centro reformado entre 1521 e 1549, tendo como líder o reformador Martin Butzer. Como já foi apontado, Calvino ali residiu durante três anos (1538-1541). Em Heidelberg, o príncipe Frederico III criou uma grande universidade que tornou-se o centro do pensamento reformado na Alemanha. Nessa cidade foi escrito em 1563 oCatecismo de Heidelberg. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) resultou no reconhecimento definitivo das igrejas reformadas alemãs, que receberam o influxo de sessenta mil refugiados huguenotes após a revogação do Edito de Nantes.

Nos Países Baixos, a fé reformada surgiu inicialmente em Antuérpia, em 1555. Em dez anos, formaram-se mais de trezentas igrejas, em parte devido à chegada de imigrantes huguenotes que fugiam das guerras religiosas em seu país. Essas igrejas adotaram como sua declaração de fé a Confissão Belga, escrita por Guido de Brès em 1561. O calvinismo foi implantado na Holanda no contexto da guerra da independência contra a Espanha, iniciada em 1566 sob a liderança de Guilherme de Orange. Como resultado do conflito, os Países Baixos dividiram-se em três nações: Bélgica e Luxemburgo (católicos) e Holanda (reformada). O primeiro sínodo nacional das igrejas reformadas holandesas reuniu-se em 1571 na cidade de Emden, na Alemanha, e adotou um sistema presbiterial de governo baseado no modelo francês. Eventualmente, a igreja reformada tornou-se oficial, embora nem toda a população tenha aderido ao movimento. No início do século XVII, uma disputa teológica resultou no Sínodo de Dort (1618-1619), que rejeitou as idéias de Tiago Armínio acerca da predestinação e afirmou os chamados “cinco pontos do calvinismo” (depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos).

Quanto à Europa oriental, na década de 1540, graças a contatos com cidades suíças, surgiram igrejas reformadas na Polônia e na Boêmia (Checoslováquia), e mais tarde também na Hungria. Na Boêmia, o movimento reformado associou-se aos Irmãos Boêmios, os sucessores do antigo movimento liderado pelo pré-reformador João Hus, morto em 1415. Na Polônia e na Lituânia, as igrejas calvinistas experimentaram grande crescimento, mas eventualmente foram suprimidas pela Contra-Reforma. A fé reformada foi introduzida na Hungria em 1549, através de contatos com Zurique, mas as igrejas sofreram perseguições de 1677 a 1781. A igreja reformada húngara viria a ser uma das maiores do mundo.

3. Ilhas Britânicas

Especialmente importante para a fé reformada foi a sua introdução nas Ilhas Britânicas. Nessa região é que surgiu o outro nome histórico associado ao movimento: “presbiterianismo.” Esse nome tinha ao mesmo tempo conotações teológicas e políticas. Os reis ingleses e escoceses eram firmes partidários do episcopalismo, ou seja, de uma igreja governada por bispos. Como esses bispos eram nomeados pela coroa, esse sistema favorecia o controle da igreja pelo estado. Assim sendo, a insistência dos reformados da Escócia e Inglaterra em uma igreja governada por presbíteros, eleitos pelas congregações e reunidos em concílios, era uma reivindicação de independência da igreja em relação ao poder público. Tal foi a origem histórica do termo “presbiteriano” ou “igreja presbiteriana.”

O protestantismo reformado foi levado para a Escócia por George Wishart, que estudara na Suíça e foi morto na fogueira em 1546. As primeiras igrejas reformadas surgiram no final da década seguinte. Os eventos se precipitaram com o retorno do líder John Knox (c. 1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como refugiado, estudou aos pés de Calvino e retornou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o catolicismo e adotou a fé reformada (Confissão Escocesa). Em dezembro de 1560, reuniu-se a primeira assembléia geral da Igreja Presbiteriana escocesa, que elaborou oLivro de Disciplina. Todavia, o Parlamento não aceitou esse primeiro Livro de Disciplina – que prescrevia a forma presbiteriana de governo –, mas manteve o episcopado como instrumento de controle estatal da igreja.

Ironicamente, entre 1561 e 1567 a Escócia formalmente presbiteriana foi governada por uma rainha católica, Maria Stuart. Após a morte de Knox, Andrew Melville (1545-1622), outro ex-exilado em Genebra, tornou-se o principal defensor do sistema presbiteriano e de uma igreja autônoma do estado. Os próximos quatro reis, especialmente Carlos II (1660-85), procuraram impor o anglicanismo e perseguiram os presbiterianos. Estes fizeram um pacto nacional para defender a sua fé e ficaram conhecidos como “covenanters” (pactuantes). Somente em 1689 o presbiterianismo foi estabelecido definitivamente, embora algumas modificações feitas pelo Parlamento, como a Lei do Patrocínio Leigo (1717), tenham produzido várias divisões na igreja.

Na Inglaterra, surgiram fortes influências reformadas desde o reinado de Eduardo VI (1547-1553). Martin Butzer, o reformador de Estrasburgo, passou seus últimos anos naquele país. Calvino correspondeu-se com o rei Eduardo, com Somerset, o lorde protetor, e com Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária. O Livro de Oração Comume os Trinta e Nove Artigos revelam clara influência reformada. Durante o reinado intolerante de Maria Tudor (1553-1558), alcunhada “a sanguinária”, muitos protestantes ingleses refugiaram-se em Zurique e Genebra. Porém, a rainha Elizabete I (1558-1603) não apreciava os aspectos populares da forma presbiteriana de governo, preferindo uma estrutura episcopal que deixava o controle último da igreja nas mãos das autoridades civis.

No reinado de Elizabete surgiram os puritanos, alguns dos quais sustentavam princípios presbiterianos. Em outras palavras, os puritanos eram todos calvinistas, mas nem todos aceitavam a forma de governo presbiteriana. O nome “puritanos” resultou da insistência desses reformados em que a Igreja da Inglaterra fosse pura, ou seja, seguisse os moldes bíblicos em sua doutrina, culto e governo. Por causa de sua firme oposição ao episcopalismo e a sua luta pela reforma da igreja estatal inglesa, os puritanos foram objeto de forte repressão por parte de Elizabete. Seus sucessores, Tiago I (1603-1625) e Carlos I (1625-1649), que governaram simultaneamente a Inglaterra e a Escócia, continuaram a opor-se aos puritanos.

No reinado de Carlos ocorreu um evento marcante na história do presbiterianismo. Esse rei tentou impor o episcopalismo na Igreja da Escócia e acabou envolvido em uma guerra contra os seus próprios súditos. Vendo-se em dificuldades, precisou convocar a eleição de um parlamento na Inglaterra, eleição essa que resultou em uma maioria parlamentar puritana. Dissolvido o parlamento, foi feita nova eleição, que tornou a maioria puritana ainda mais expressiva. A conseqüência foi a guerra civil, que terminaria com a execução do rei. Esse parlamento puritano convocou a célebre Assembléia de Westminster (1643-1648), que produziu os “padrões presbiterianos” de culto, governo e doutrina. Quando esses documentos foram aprovados pelo parlamento, a Igreja da Inglaterra deixou de ser episcopal e tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II tornou-se rei em 1660, houve a restauração do episcopado e seguiram-se vários anos de repressão contra os presbiterianos. Com o tempo, os padrões de Westminster tornaram-se os principais documentos teológicos adotados pelas igrejas reformadas em todo o mundo.

A tradição reformada teve início na Irlanda com a Colônia de Ulster, a partir de 1606. No esforço de “domesticar” os irlandeses, o governo inglês implantou comunidades inglesas e escocesas nas regiões devastadas pela guerra ao norte da ilha. Aos imigrantes escoceses, que levaram consigo o seu presbiterianismo, uniram-se puritanos ingleses e huguenotes franceses. Houve uma rígida separação étnica entre os novos moradores e os irlandeses católicos do sul, e grande violência destes contra os presbiterianos. Graças aos capelães de um exército pacificador, um presbitério foi fundado no Ulster em 1642 e em 1660 eles já eram cinco. Os colonos alcançaram prosperidade na nova terra, mas também se viram sujeitos a restrições políticas, econômicas e religiosas impostas pelo governo inglês, além de calamidades naturais como estiagens prolongadas. Com isso, a partir de 1715, os “escoceses-irlandeses” começaram a sua grande migração para os Estados Unidos. Até 1775, pelo menos 250 mil iriam cruzar o Atlântico.

4. Estados Unidos

O calvinismo chegou à América do Norte com os puritanos ingleses que se radicaram em Massachusetts no início do século XVII. O primeiro grupo fixou-se em Plymouth em 1620 e o segundo fundou as cidades de Salem e Boston em 1630. Nas décadas seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o Atlântico em busca de liberdade religiosa e novas oportunidades. Todavia, esses calvinistas optaram pelo forma de governo congregacional, não pelo sistema presbiteriano.

Muitos calvinistas que aceitavam a forma de governo presbiteriana vieram do continente europeu. Dentre os primeiros estavam os holandeses que fundaram Nova Amsterdã (depois Nova York) em 1623. Os huguenotes franceses também foram em grande número para a América do Norte, fugindo da perseguição religiosa em sua pátria. Um numeroso contingente de reformados alemães igualmente emigrou para os Estados Unidos entre 1700 e 1770. Esses imigrantes formaram as suas próprias denominações e mais tarde muitos deles ingressaram na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.

Muitos presbiterianos escoceses foram diretamente da Escócia para os Estados Unidos nos primeiros tempos da colonização. Todavia, foram os escoceses-irlandeses os principais responsáveis pela introdução do presbiterianismo naquele país. Durante o século XVIII, pelo menos 300 mil cruzaram o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia, eles fundaram Pittsburgh, por muito tempo a cidade mais presbiteriana dos Estados Unidos. O Rev. Ashbel Green Simonton, o introdutor do presbiterianismo no Brasil, era descendente desses escoceses-irlandeses da Pensilvânia.

No século XVII as comunidades presbiterianas dos Estados Unidos viviam dispersas. Foi só no início do século seguinte que elas começaram a unir-se em concílios. Nesse esforço, destacou-se o Rev. Francis Makemie (1658-1708), considerado o “pai do presbiterianismo americano.” Ordenado na Irlanda do Norte em 1683, ele foi logo em seguida para a América do Norte. Makemie fundou diversas igrejas em Maryland e viajou extensamente encorajando os presbiterianos. Como a Igreja Anglicana era a igreja oficial de várias colônias, ele sofreu muitas perseguições. Chegou mesmo a ser preso em Nova York em 1706.

Sob a liderança de Makemie, foi organizado em 1706 o Presbitério de Filadélfia. Em 1717, organizou-se o Sínodo de Filadélfia, composto de quatro presbitérios. Ao todo, a denominação tinha apenas dezenove pastores, quarenta igrejas e cerca de três mil membros. Em 1729, foi aprovado o “Ato de Adoção,” que aceitou a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster como padrões doutrinários do Sínodo. De 1741 a 1758, os presbiterianos dividiram-se em dois grupos por causa de diferenças acerca do avivamento e da educação teológica: Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e Ala Nova (Sínodo de Nova York).

Nesse período de divisão, vários evangelistas notáveis como Samuel Davies, Alexander Craighead e Hugh McAden trabalharam com grande êxito no sul do país, especialmente na Virgínia e nas Carolinas. Durante a Revolução Americana, os presbiterianos tiveram uma atuação destacada. O Rev. John Witherspoon (1723-1794), um escocês que foi presidente da Universidade de Princeton por vinte e cinco anos, foi o único pastor que assinou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776. Muitos presbiterianos lutaram na guerra da independência.

Em 1788, o Sínodo de Nova York e Filadélfia dividiu-se em quatro (Nova York e Nova Jersey, Filadélfia, Virgínia e Carolinas). No dia 21 de maio de 1789, reuniu-se pela primeira vez a “Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América.” Naquela época, a Igreja Presbiteriana era a denominação mais influente do país. Em 1800, contava com 180 pastores, 450 igrejas e cerca de 20 mil membros.

Em 1801, presbiterianos e congregacionais iniciaram um trabalho cooperativo conhecido como “Plano de União.” O objetivo era evangelizar com mais eficiência a população que estava indo para o oeste, a chamada “fronteira.” Foi esse o período do avivamento conhecido como Segundo Grande Despertamento. O resultado foi um avanço fenomenal. Em 1837, a Igreja Presbiteriana já contava com 2140 pastores, quase 3000 igrejas e 220 mil membros. O Seminário de Princeton foi fundado em 1812. Entre seus grandes professores estiveram Archibald Alexander, Charles Hodge, A.A. Hodge e Benjamin B. Warfield.

Devido a uma controvérsia sobre os requisitos para a ordenação de ministros, surgiu em 1810 a Igreja Presbiteriana de Cumberland, no Tennessee. Uma divisão mais séria ocorreu entre os grupos conhecidos como Velha Escola e Nova Escola, aquele sendo mais apegado aos padrões de Westminster do que este. Em 1837, a Velha Escola obteve a maioria na Assembléia Geral, cancelou o Plano de União de 1801 e excluiu quatro sínodos inteiros, dividindo ao meio a denominação. No mesmo ano, foi criada a Junta de Missões Estrangeiras, sediada em Nova York, que 22 anos mais tarde enviaria o seu primeiro missionário ao Brasil.

Finalmente, em 1857 e 1861 ocorreram novas divisões, desta vez ocasionadas pelo problema da escravidão. As igrejas Nova Escola e Velha Escola do sul, favoráveis à escravidão, separaram-se das do norte. Eventualmente, foram criadas duas grandes denominações presbiterianas, a Igreja do Norte (PCUSA) e a Igreja do Sul (PCUS). Os missionários pioneiros dessas duas igrejas chegaram ao Brasil respectivamente em 1859 (Ashbel G. Simonton) e 1869 (Edward Lane e George N. Morton).

FONTE: http://www.mackenzie.br/7062.html