13 abril 2010

ENFRENTE SEUS DESEJOS

“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto” Rm. 7. 14


É possível imaginar o grande desconforto que o apóstolo Paulo sofria ao confrontar a si mesmo, suas intenções e atitudes com o que é reprovado pela Lei. Entretanto, em lugar de se utilizar desta realidade para atenuar o estado de sua natureza, além de enobrecer e enfatizar que a Lei é boa, também reafirma a gravidade do pecado.

O assunto não é posto de modo que o leitor não encontre alguma saída. Na realidade, o texto também mostra a importância de Cristo neste quadro preocupante, de modo que, se a Lei aponta os grandes estragos provocados pelo pecado, uma vez confrontado com os desejos do coração, constata-se a grande coragem do apóstolo em admitir suas fraquezas e nota-se o tom de pesar por tratar-se de uma realidade inevitável e que não pode ser resolvida pelos esforços humanos sem a indispensável ação do Espírito Santo.

Embora muitos de sua época vivessem uma religiosidade superficial, inclusive aproveitando-se de seu caráter nobre para humilhar aquele que sempre se encontrava prostrado reverentemente perante Deus numa constante busca por misericórdia, Paulo compreende que o caminho para reverter este estado de pecado é começando por admití-lo e confrontá-lo, reconhecendo que o homem natural com seus desejos, suas inclinações, é um terrível inimigo que jamais deve ser ignorado.

Assim, no decorrer da história, percebemos o modo como, ao contrário de Paulo, tem sido tão comum evitar um “olhar para si mesmo”, uma consideração de nossa natureza à luz da Lei para que, cônscios de nossas más inclinações, busquemos socorro na única alternativa disponibilizada por Deus, na Pessoa de Jesus Cristo.

O problema se agrava conforme nos negamos a enfrentar nós mesmos, preferindo enaltecer nossas eventuais qualidades e cobrir a vergonhosa natureza pecaminosa que habita em nós, cujos desejos, intenções e práticas permanecem arremetendo muitos àquele estado de religiosidade superficial, perigosa e condenatória.

É preciso, urgentemente, fazer a leitura adequada dos preceitos de Deus, admitir que não reunimos qualquer condição natural para obedecê-los e, ao mesmo tempo, enfrentar nossos erros com o rigor que se requer, considerando que, inexorável e impiedosamente, o pecado tem consumido a muitos desde o recôndito da alma até os comportamentos mais simples que se percebem e, para os quais, muitas vezes não encontramos alguma solução, alguma resposta.

A honestidade do cristão não se avalia apenas por meio de coisas que o incrédulo também é capaz de fazer mas, pela atitude de olhar sempre para si mesmo com prioridade e preocupação, quando os holofotes da Lei estão apontados para ele e revelam os detalhes das consequências geradas pelo pecado e que permanecem sendo um entrave para progredir em seu crescimento espiritual.

Que encontremos em Cristo, nosso Senhor, a força necessária para, depois de admitir o mal que ainda habita em nós, lutar corajosamente para que alcancemos a estatura proposta para todos quantos estão sendo preparados para a vida eterna.

Rev. Marcos Martins Dias