31 agosto 2007

FÉ E SENTIMENTOS

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”. Hb. 11:1

Em inúmeras ocasiões já ouvi colocações que põem a fé em um relacionamento muito estreito com os sentidos. Não quanto à influência que ela exerce sobre eles mas, como se a prova de sua existência estivesse condicionada ao que se ouve, se vê, se sente, se toca e, de algum modo, até se “saboreia”.
Preocupa-me observar a definição superficial que se atribui a algo tão sublime ao mesmo tempo em que concluo que, longe de promover a satisfação divina, muitos seguem confundidos e emaranhados em seus próprios sentidos, avaliando sua condição espiritual a partir de condições que, por variadas vezes, se mostram instáveis, traiçoeiras, passageiras e, geralmente, condicionadas às circunstâncias em que vivem, levando-as a avaliar a fé a partir das emoções que as acometem.
Ao contrário de tudo isto, a fé lança fora todas as possibilidades humanas e enaltece a majestade divina. Anula todos os recursos de que disponho e desafia-me a crer, mesmo quanto sou arremetido “contra a esperança” (Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência. “Rm. 4:18”).
Seu significado transcende à compreensão humana de modo que não se restringe ao racional sem se tornar, por isso, irracional mas, enquadrando-se no que se se qualifica como “intangível” por seu caráter supraracional e por sua desarmonia com a natureza humana decadente, impiedosa e descrente, sendo antes de mais nada, um extraordinário dom que Deus concede ao mais fragilizado e insignificante ser que existe entre todos os mortais (Ef. 2.8).
Quão gratificante é exercitar a verdadeira fé. Nada pode erradica-la de um coração legitimamente convertido, exatamente como está escrito: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?... Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Rm. 8. 35, 38 e 39.
Comportemo-nos de tal maneira que, em detrimento de nossas perdas ou ganhos, sejamos legítimos “recipientes” daquela fé sem a qual é impossível agradar a Deus (Hb. 11.6)

Rev. Marcos Martins Dias

23 agosto 2007

SER OU ESTAR

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Mt. 7:21

A igreja cristã sempre foi composta por dois grupos claramente definidos na Escritura, representados por figuras como “joio e trigo” por exemplo, demonstrando que nem todos os que “estão” na igreja visível “são”, necessariamente, parte da igreja invisível.
Quando usamos a expressão “estar na igreja”, nos referimos àqueles que vivem ou viveram entre nós, mas que, na realidade, nunca foram parte integrante da igreja invisível. São pessoas que podem até fazer alguma coisa, sendo extremamente atuantes e marcar sua presença por algum tipo de realização; entretanto, isto não garante a quem quer que seja a entrana no Reino de Deus.
Por outro lado, os que são da igreja, sempre estarão nela; não importa qual seja a Cidade, Estado, País ou Cotinente. O importante é que eles pertencem aqui e agora e continuarão pertencendo por toda a eternidade à igreja do nosso Senhor Jesus.
É preciso lembrar que Deus nos habilitou para fazer a diferença entre qualquer grupo de pessoas; principalmente em meio à sociedade que dominada pelo príncipe deste mundo. Além disto, sempre haverá situações em que precisaremos fazer a diferença entre os que integram a própria igreja, considerando o fato de que sempre existirá quem esteja entre os cristãos sem, no entanto, ser parte deles.
Mesmo que algum dia nosso nome deixe de integrar o Rol de Membros da igreja visível, quando nossos olhos se fecharem, é importante estarmos certos que, quando isto ocorrer, teremos a garantia de que, da eternidade, ele jamais será extinto.
Labutemos por esta obra na certeza de que não somente estamos na igreja mas, com muito mais propriedade, estamos firmados na certeza de que somos parte inseparável do corpo de Cristo Jesus. Rev. Marcos Martins Dias

17 agosto 2007

COMUNHÃO

É PRECISO CONCORDAR

“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” 1 Co. 1.10

Um dos grandes desafios da igreja hodierna é encontrar pontos comuns, os quais produzem a comunhão prescrita na Palavra de Deus a ser observada por todos os cristãos.
Sem a intenção de abrir um leque que não poderia ser solucionado neste pequeno arrazoado, prefiro concentrar minha atenção no relacionamento que envolve pessoas que compõem uma mesma Igreja local.
Desde que o pecado entrou no mundo, a simples tarefa de andar de acordo uns com os outros desenvolvendo uma comunhão contínua, se tornou um trabalho desafiador. Tão desafiador que não é incomum saber de alguns que têm dificuldades de relacionamentos com outros, mesmo congregando num mesmo lugar, se dirigindo ao mesmo Deus, Lhe oferecendo adoração e louvor, entregando suas contribuições e, com maior ênfase, se assentando “à mesa” para participar da Ceia do Senhor.
Estamos diante de algo comum, porém anômalo. Uma situação que, embora seja facilmente verificada no trato de muitos que professam a fé cristã, jamais deve ser considerada como algo normal, posto que contraria todos os princípios de comunhão estabelecidos na Palavra de Deus. Com isto, não estou advogando em favor da chamada “política da boa vizinhança”, a qual é mantida a qualquer custo. Refiro-me a preservar a comunhão mesmo quando determinados pontos de vista se divergem em questões que não ferem as Escrituras, mas dizem respeito apenas a posicionamentos de cunho pessoal, relacionados a elementos que são transformados em verdadeiros “cavalos de batalha”, levando inclusive pessoas consideradas sérias a romperem seus relacionamentos e a terem extrema dificuldade até para, simplesmente, cumprimentar aquele que se assenta em um dos bancos de uma mesma Igreja.
A questão é muito mais séria do que podemos imaginar. Note que, além do texto em epígrafe, encontramos muitas outras observações na Escritura voltadas para a comunhão entre irmãos. Paulo, por exemplo, aponta duas situações: 1. Em Filipenses 2.2, ele diz: “completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.; e 2. Faz uma séria exortação a duas irmãs de Filipos que, embora muito úteis no serviço cristão, estavam vivendo algum tipo de desentendimento, a ponto de receberem a seguinte exortação: “Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor.” Fp. 4.2.
Não é preciso apelar para qualquer argumentação no sentido de apontar a necessidade urgente de reverter este tipo de problema. Basta lembrar que duas pessoas que estejam em desacordo estão impedias de prestarem culto ao Senhor, além de se exporem a uma situação muitíssimo complicada, colocando em xeque, qualquer possibilidade de entrarem, juntas, no Reino de Deus (Mt. 5.23-26). Estes motivos já deveriam ser suficientes para fazer com que os discordantes procurem, com urgência, andar de acordo, viver em comunhão, vencer suas diferenças e preservar a paz, a harmonia e a unidade da fé. No entanto, se preferirem pôr este assunto de lado, fiquem à vontade; mas, é bom lembrar da inutilidade do culto que se presta e o inevitável questionamento da legitimidade de sua fé, amor, humildade, mansidão, disposição para perdoar, para ser perdoado etc. Virtudes estas, fundamentais para nos acompanharem em nossa entrada no Lar Eterno.
Convido cada um a pensar seriamente a respeito e a tomar, urgentemente, as providências necessárias para que todos possamos confirmar que, de fato, temos parte no Corpo de Cristo e que, definitivamente, não estamos nos iludindo pensando que somos salvos quando, na verdade, podemos estar, definitivamente, perdidos.
Rev. Marcos Martins Dias

09 agosto 2007

PAI POR CONVENIÊNCIA

“o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres.” Lc. 15:12

Tem sido muito comum aplicar esta parábola a casos de membros de igrejas que se afastaram do convívio eclesiástico ou retornaram depois de estarem algum tempo distantes, vivendo à margem dos preceitos bíblicos.
Entretanto, estes não são exatamente os personagens representados no texto. Os elementos a serem enfocados aqui apontam para Deus, para o homem em seu estado decaído e para os judeus, os quais, na pessoa do irmão mais velho, não compreendiam a oportunidade de arrependimento que foi estendida aos gentios.
A forma desdenhosa como o filho mais moço tratou seu Pai demonstra claramente a atitude que todos herdamos de nossos primeiros pais e que, conduz-nos naturalmente a um comportamento egoísta, recebendo continuamente inúmeros favores de Deus sem, entretanto, demonstrar-Lhe uma sincera gratidão.
Pelo contrário, além desta terrível condição, some-se a isto, a visão míope que se tem de Deus, geração após geração. Refiro-me àquela idéia de que Deus é Pai somente naquilo que nos é conveniente, ou seja, é dEle que procedem todas as bênçãos que recebemos e, diante disto, nada melhor do que viver continuamente atrás de Seus favores, quando, por outro lado, não é tão difícil se esquecer que esta é uma “via de mão dupla”; isto é, assumir a qualidade de filho é também responder aos favores divinos com uma vida de irrestrita, integral, alegre e espontânea obediência. É sempre procurar dar o melhor de nós como nos é dito por Jesus: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.” Mc. 12:30.
Além disto, nesta época do ano em que se comemora o dia dos pais, é bastante oportuno fazer um outro tipo de análise: este não seria o mesmo procedimento que vem sendo observado no tratamento que muitos filhos têm dispensado aos seus progenitores? Não temos visto muitos lhes chamarem de pai quando, na realidade, trata-se apenas de uma questão de conveniência?
Ser pai envolve um relacionamento alicerçado no amor, onde a prática do “dar e receber” é uma constante reciprocidade. Ser pai envolve receber do filho a honra, o respeito, a dignidade e, dentre tantas outras coisas mais, a fundamental obediência, os quais chancelam e legitimam a declaração de que nossa vida é adornada pela presença paterna no sentido mais abrangente do termo.
A constatação de que a atitude de Deus em relação a nós está revestida de infinita misericórdia é uma referência que nos conduz a compreender atitudes benevolentes de nossos pais para conosco, mesmo quando não se pode verificar qualquer merecimento de nossa parte.
Diante disto, o mínimo que se deve esperar de nós é que não sejamos “filhos apenas naquilo que nos interessa”. Esta situação nos qualificaria como bastardos e nos enquadraria perfeitamente na deplorável condição que acometeu aquele filho mais moço da parábola. Ao contrário disto, devemos aproveitar a ocasião para fazer uma justa análise introspectiva, verificando o tipo de tratamento que temos dispensado a Deus, o nosso Pai, assim como aos nossos progenitores, aos quais precisamos sempre devotar o sublime amor incondicional.
Rev. Marcos Martins Dias

02 agosto 2007

NÃO FALEIS MAL UNS DOS OUTROS

“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz.”
Tg. 4.11

Há tantos assuntos simples e claros nas Escrituras que, ao nos ocuparmos com os mais difíceis que requerem estudos aprofundados, exegeses acuradas, pesquisas mais variadas, não é incomum correr o risco de, inconscientemente ou não, pôr à parte elementos básicos que compõem o dia a dia do cristão em detrimento de se ocupar em interpretar com esmero e dedicação questões doutrinárias que se apresentam como verdadeiros desafios para os pesquisadores.
Nesta empreitada também não é incomum tropeçarmos na medida que focamos nossa atenção para situações consideradas mais relevantes na teologia.
O imperativo exposto acima é um exemplo claro que define perfeitamente a questão a que me reporto. Sem exigir aquele esforço comum dedicado pelos pesquisadores, ainda que este texto requeira igual atenção e zelo, não é incomum observar tantos estudiosos, crentes sem qualquer formação acadêmica, teólogos, mestres e doutores tropeçarem na falta de observância deste simples mandamento.
Deus, em Sua infinita sabedoria, jamais nos deixou à vontade para fazer uso da lei em prol de condenar quem quer que seja. Ao contrário, se a lei não aponta, antes de mais nada, para mim mesmo, então, definitivamente, não compreendi o seu propósito e, conseqüente e inevitavelmente, farei uso equivocado dos preceitos divinos, julgando aos outros e difamando-os, descumprindo o que nos é dito pelo apóstolo Paulo em I Tm. 6.3-5: “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro.”. Associe-se a este texto o que está escrito em Rm. 1.28-31.
Seria extremamente gratificante poder cultivar uma confiança irrestrita naqueles irmãos com os quais nos relacionamos continuamente; entretanto, o fato é que a coerência aponta para aquela premissa onde se admite que “se falam dos outros pra mim, falarão de mim para os outros” e, quisera eu dizer que nesta regra existem exceções. Por vezes pergunto a mim mesmo sobre quantas vezes devo ter sido traído por pessoas muito próximas de mim.
Sempre rogarei a Deus que “ponha guardas na minha boca” considerando que minha posição sempre deve ser a de observador, cumpridor dos preceitos divinos e não aquele juiz que, pela lei, não tem nenhuma dificuldade em apontar as deficiências alheias.
Sejamos sempre criteriosos em nosso modo de criticar, avaliar, julgar, questionar atitudes réprobas sem, entretanto, cairmos na terrível armadilha de nos autoposicionarmos como juizes e não como fiéis observadores das Escrituras.

Rev. Marcos Martins Dias

01 agosto 2007

DEUS PODE ESTAR ME DEVENDO

“porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Rm. 6:23

Em nossa era pós-moderna, temos verificado uma variedade de comportamentos cristãos desprovidos de qualquer fundamento bíblico e, por vezes, sem sentido e até agressivos a princípios claramente estabelecidos nas Escrituras.
Dentre estas “aberrações” verifica-se a prática de “determinar” que Deus faça isto ou aquilo como se Ele nos devesse alguma coisa. Ao contrário do que está posto pelo apóstolo Paulo que, ao empregar o vocábulo “salário”, esta sendo enfático em relação ao que todos merecemos receber de Deus por nossa condição de pecadores. E, sendo assim, se há algo que eu “poderia” requerer em tom de obrigação de Deus para comigo, seria tão somente a condenação, uma vez que é o que mereço e, se preferir, pode colocar em condição de dívida herdada em Adão.
Além do mais, não basta dizer que Deus é Senhor quando meu comportamento não se compatibiliza com o que isto quer dizer. Sendo Ele Senhor e eu o servo, se há alguma dívida, certamente diz respeito a mim e não a Deus. Eu sou o devedor e Ele é o merecedor. Jamais se deve confundir o “dom gratuito” com algum tipo de obrigação. Dom gratuito é “favor”, é “graça” e, sendo assim, a dívida é paga com um único salário: “a morte”; por outro lado, a vida eterna é um favor adquirido em Jesus Cristo que pagou em lugar de quem jamais poderia quitar e reverter o quadro de devedor para merecedor.
Isto é posto de um modo bem simples quando Jesus emprega a parábola do “servo inútil”. Ao final de Sua dissertação fica claro que, por mais que o servo tenha feito, ele sempre se considera alguém “a quem nada se deve” posto que fez apenas o que devia fazer.
Diante desta perspectiva, conclamo os incautos, irreverentes e presunçosos a que revejam a terrível postura de impor sua vontade a Deus, determinando-Lhe que faça isto ou aquilo. Não o digo por minha causa. Estou consciente de que nada mereço e que é meu prazer prostrar-me de joelhos, inclinando-me aos pés do Senhor, sempre à Sua disposição para cumprir a Sua vontade. Minha exortação visa o próprio bem de quantos, equivocadamente, ainda não aprenderam a se colocar na sua condição de servos e, resignadamente, se entregarem confiadamente à boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Que o Senhor nos abra o entendimento para saber quem somos, o quanto devemos e nos ajude a compreender definitivamente que Ele não nos deve absolutamente nada. Suas bênçãos, que têm como ponto de partida a eterna salvação, resultam exclusivamente da obra realizada por Cristo na cruz a Quem precisamos atribuir todo mérito dos favores que Deus nos presta continua e diariamente. Somente assim seremos legitimamente gratos e sempre dispostos a cumprir alegre e espontaneamente a Sua vontade.

Rev. Marcos Martins Dias