25 outubro 2006

REFORMA PROTESTANTE

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” II Tm. 3.16-17

O final do mês de outubro, normalmente, é marcado pelas comemorações que se fazem nas igrejas reformadas em decorrência dos fatos históricos que se deram no séc. XVI, cuja Escritura readquiriu o seu lugar de primazia no que tange a ser o referencial para a fé em seu sentido teórico e prático, levando muitos cristãos da época a questionarem diversas práticas que não se compatibilizavam com os ensinos bíblicos.
Foi um período de grandes mudanças na história da igreja, a qual havia comprometido o seu fundamento na medida que o compartilhou com outros elementos extremamente frágeis, ou seja, a infalibilidade papal e a tradição da igreja.
Quando nos reportamos aos fatos ocorridos na ocasião, não significa que assimilamos a importância destes acontecimentos e os novos rumos que eles deram para a igreja até os nossos dias; na verdade, por vezes tenho ouvido alguns afirmarem que urge o tempo de realizarmos “uma nova reforma”.
Compreendo o que se pretende dizer e lamento o fato de ter que concordar com esta colocação. Refiro-me à realidade que vem tomando conta da igreja hodierna e que, com algumas exceções, não expressa o mesmo zelo e preocupação presentes na vida dos reformadores, os quais se deram em favor de devolver à igreja o equilíbrio que se ausentara por longos anos, retomando o lugar que a Bíblia deve ocupar na igreja cristã.
Não seria nenhum atrevimento dizer que, embora tenhamos acesso fácil à Palavra de Deus, normalmente o mesmo não se verifica na aplicabilidade de seus ensinos na vida de cada um, na medida que pomos o discurso e a prática frente a frente.
Quando compreendemos a profundidade do que o apóstolo Paulo diz a Timóteo no texto em destaque, podemos verificar que, mesmo afirmando que a Escritura é nossa única regra de fé e prática, não quer dizer que temos lhe dispensado este fundamental tratamento e, como resultado disto, acabamos por ficar expostos a múltiplas fragilidades que nos distanciam de um dos propósitos pelo qual nos foi dada esta importante revelação, ou seja, tornar-nos “perfeitos” e perfeitamente habilitados para a boa obra.
É preciso refletir no valor que a Palavra de Deus tem para a Sua igreja e rogar que nos seja dada a mesma sensibilidade de nossos antepassados a fim de nos mantermos amparados neste alicerce inerrante e infalível.
Roguemos, portanto, a Deus o mesmo espírito desbravador que impeliu os reformadores a lutarem por este ideal e nos esforcemos para que a Bíblia seja mais do que um livro de cabeceira; ao contrário disto, certifiquemo-nos de que ela tem sido um precioso instrumento para o nosso fortalecimento espiritual dia após dia.
Rev. Marcos Martins Dias

24 outubro 2006

TEORIA E PRÁTICA

“Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;... E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Lc. 15:18 e 21

Você deve estar lembrando do contexto em que as declarações acima foram feitas. Estamos tratando da parábola do filho pródigo, ocasião em que ele, depois de haver esbanjado tudo quanto requereu de seu pai, foi parar na sarjeta a ponto de “desejar” comer o alimento que era oferecido aos porcos, dos quais tomava conta.
Isto é um retrato da condição que o pecado gerou em toda a raça humana e a indicação da providência a ser tomada para reverter sua triste situação.
Note que, embora as duas afirmações sejam exatamente iguais, elas se deram em momentos diferentes. A primeira se passou no momento mais difícil experimentado pelo jovem inconseqüente e é resultado de uma profunda reflexão que o levou a falar de si para si mesmo. A segunda, entretanto, é a execução do que havia sido planejado, ou seja, depois de haver constatado a gravidade do estado em que se encontrava, decidiu o que fazer e, de fato, levantou-se e regressou para a sua casa, fazendo o que estava proposto em seu coração.
Ao retornar, de longe foi visto pelo pai que correu ao seu encontro, abraçou e o beijou insistentemente, perdoando-lhe a atitude intempestiva que o levou a sofrer a vergonha de “guardar porcos” (uma abominação para o judeu).
Observe que o texto aponta duas coisas de vital importância para o nosso aprendizado: 1. Verifica-se que houve, em seu coração, sensibilidade suficiente para reconhecer o mal que havia feito e também o único meio de tentar reparar seu erro; 2. Suas intenções foram levadas a efeito e, conseqüentemente, deixou para trás todo o embaraço e o pecado que havia cometido contra o seu progenitor.
O que se espera de todo homem em relação a Deus, não é nada diferente, considerando que todos nascem com uma natureza totalmente inclinada para a prática do pecado e, em decorrência disto, o estado de desespero pela iminente condenação que aguarda por todo aquele que se mantém impenitente.
É muito bom poder reconhecer o erro e identificar a única forma de repará-lo; entretanto, este legítimo reconhecimento sempre leva a uma tomada de atitude, ou seja, se alguém vive a lamentar as falhas cometidas e se atém apenas ao reconhecimento do que deve ser feito, certamente jamais poderá experimentar o perdão e toda a mudança desejada; pelo contrário, da sarjeta em que se encontra será arremetido para o tormento eterno em lugar do refrigério imaginado.
Que Deus nos ajude a fazer mais do que refletir sobre nossos erros, estimulando-nos a tomar atitudes que nos conduzam ao indispensável perdão.

Rev. Marcos Martins Dias

17 outubro 2006

SOLIDARIEDADE

“Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte.” Is. 41:6

Este versículo faz parte de um conjunto de passagens bíblicas preferidas por muita gente. Não sei dizer ao certo o número de vezes em que o versículo foi usado para estimular os crentes a se fortalecerem mutuamente. Entretanto, mesmo aquele que não recebeu qualquer formação acadêmica, principalmente na área teológica, perceberá que o contexto em que ele está inserido não diz respeito à união entre servos de Deus; pelo contrário, trata-se de uma confiança cega depositada em falsos deuses, na esperança de que recebessem livramento das mãos de Ciro, o rei da Pércia, o qual se fortalecia cada vez mais pelas conquistas obtidas em suas batalhas contra inúmeras nações.
Tomados pelo pavor, um idólatra ajudou ao outro no trabalho de fabricar o seu próprio ídolo, estimulando-o a fortalecer sua confiança conforme diz o versículo seguinte: “Assim, o artífice anima ao ourives, e o que alisa com o martelo, ao que bate na bigorna, dizendo da soldadura: Está bem feita. Então, com pregos fixa o ídolo para que não oscile.”
Qualquer pessoa, cujas faculdades mentais estejam em ordem, verificará que: 1. A criatura (o ídolo) não é maior que o seu criador (o idólatra); 2. Um ídolo que precisa ser fixado (neste caso com pregos) para garantir a sua sustentação, não reúne a mínima condição de proteger quem quer que seja e do que quer que seja; 3. A evidente mediocridade percebida neste comportamento é uma simples demonstração da força que o pecado exerce sobre a capacidade de raciocinar, cauterizando mentes, provocando surdez e cegueira espirituais.
Alguém poderá dizer que estou tratando de um assunto muito óbvio. No entanto, como explicar a diferença entre a pronta disposição em fortalecer este vínculo pecaminoso e a incômoda desunião que, notadamente, tem enfraquecido a relação de muitos que se declaram adoradores do Verdadeiro Deus?
Inconscientemente, na medida que este texto é citado, os idólatras são postos na condição de modelo para a igreja quanto ao mútuo encorajamento e solidariedade que devem nortear todo o nosso relacionamento.
Diante deste fato, precisamos fazer mais do que perguntar: “se Deus é por nós, quem será contra nós?”, ou seja, ainda que não precisemos temer o adversário, sem dúvida, necessitamos avaliar a fragilidade de muitos de nossos relacionamentos, tendo a indispensável humildade para pedir e receber amparo, assim como estar sempre dispostos em oferecer ajuda a todo aquele que se nos apresenta como carente de auxílio, sucumbindo em meio às suas dificuldades, gritando silenciosamente, por socorro.
Envidemos esforços para obter esta sensibilidade e, voluntariamente, carregarmos as cargas uns dos outros com o objetivo de estarmos, realmente, fortes.
Rev. Marcos Martins Dias

16 outubro 2006

CUIDADO NO FALAR

“Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que o contamina.” Mt. 15.11


Normalmente as pessoas se preocupam com o tipo de alimentação que têm ingerido. Na verdade, a comida deixou de ser apenas uma necessidade e tornou-se um instrumento de prazer, adquirindo múltiplas cores, formas e sabores, impactando o olhar e explorando bem mais o desejo, sem levar em conta os benefícios ou os males que podem ser causados ao organismo.
Certamente se determinado alimento é inadequado, os prejuízos para a saúde são inevitáveis; entretanto, a extensão dos danos ocasionados concentra-se na pessoa do próprio consumidor, ainda que traga alguma espécie de males para os outros que estão à sua volta, em função de uma possível mobilização que visa solucionar o problema, seja ele qual for. Mas, a grande questão não está naquilo que entre pela boca, mas no que sai. Os problemas são infinitamente maiores quando os lábios não são instrumentos para a edificação dos ouvintes.
Aquilo que se diz pode atingir a alma, influenciar na formação do caráter e contribuir para o bem ou para o mal, edificando na medida que se manifesta a vontade de Deus ou criando um rastro de morte e destruição se o que está sendo disseminado é desprovido do conhecimento das Escrituras e agravado pela falta de bom senso para enxergar os desdobramentos futuros, as conseqüências de algo dito fora de tempo e de um conteúdo que pode ser letal.
O que sai da boca pode ser comparado a uma pequena fagulha que põe fogo numa floresta inteira, o qual ninguém consegue apagar. Mas, também, pode estar revestido de graça e, conseqüentemente, produzir a edificação na vida dos que ouvem.
É sempre oportuno inquirir a nós mesmos sobre a qualidade das coisas que dizemos e o objetivo que pretendemos atingir, observando se temos sido bons instrumentos para o bem de todos ou se o que importa é apenas falar, independente dos resultados que isto causará.
Que Deus nos ajude a refletir com seriedade sobre este assunto e a rogar incessantemente para que Ele ponha “guardas em nossa boca”.


Rev. Marcos Martins Dias

13 outubro 2006

QUEDA DE AVIÃO DA GOL E ELEIÇÕES

“Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai.” Mt. 10:29

É incrível como as eleições deste ano tiveram que disputar espaço na mídia com a histórica tragédia ocorrida em Mato Grosso, envolvendo o avião da GOL onde 155 pessoas perderam a vida.
Duas situações extremamente distintas, mas igualmente subservientes à vontade de Deus que, conforme o texto acima, exerce o governo de todas as coisas que foram criadas, mesmo as que julgamos de menor importância.
Não é constrangedor mencionar a segurança que tomou conta do atual Presidente da República em relação à conquista de sua eleição em primeiro turno, a qual foi frustrada por uma pequena margem percentual de votos, levando-o a ter que enfrentar um segundo momento, onde as urnas revelarão o seu destino. Note a semelhança e o contraste entre este fato e a situação dos que embarcaram em Manaus com destino a Brasília e Rio de Janeiro, no último dia 29. Eles também estavam seguros de que chegariam aos seus respectivos destinos; mas, por uma pequena margem de erro (não se sabe ao certo de quem), não terão uma segunda chance para retomar o rumo perdido posto que com a queda do Boeing 737 no qual viajavam, tiveram suas vidas ceifadas abruptamente e, conseqüentemente, adentraram a eternidade e se depararam com um destino inesperado, embora, previamente estabelecido por Deus.
Além do texto que destacamos acima, há muitos outros que servem como fundamento para esclarecer fatos como estes; no entanto, a meu ver, outra passagem muito oportuna é a que se encontra em Tg. 4.13-15, onde se diz: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo.”.
Querer ignorar a ativa participação de Deus nas coisas que se nos ocorrem continuamente, não muda a realidade dos fatos. Resta-nos apenas agir com responsabilidade, sabendo que não estamos entregues ao acaso. Nossos passos são “conhecidos” (conduzidos) em direção a um propósito que excede os projetos que estabelecemos em relação ao futuro.
Como igreja de Cristo, abraçamos esta realidade com alegria e segurança, confiados que Aquele que tem o “leme” de nossas vidas em Suas mãos jamais será frustrado e nos conduzirá seguros nesta vida e após a morte.
Rev. Marcos Martins Dias